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Novo em Folha 44ª turma
12/12/2007

Detalhes ocultos são revelados em prédios tombados

DANIELA ALARCON
DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Pisos e pinturas são descobertos em pesquisas ou ao acaso; furtos de bens tombados apagam parte da história do país

Murais, badalo do sino da independência, placas de bronze e piso de cerâmica compõem lista de "achados e perdidos" do patrimônio

Com 48 litros de álcool, Raimunda Magalhães Sampaio, 62, revelou o piso original da residência Ramos de Azevedo, na Liberdade, onde funciona a editora Global, desde 1997.

Uma crosta de cera acumulada e endurecida tornava invisível a cerâmica azul e bege. Seis anos atrás, a faxineira desenterrou o piso original dos corredores e do alpendre.

Ela é avessa a entrevistas; acha que não fez nada de mais. "É só esfregar, é meu trabalho de todo dia", diz e dá as costas.

Guilherme Loureiro, que trabalha na editora, lembra: "Ela levou mais de 15 dias limpando com uma espátula, de quatro".

Também munidas de espátulas, equipes de restauro têm explorado as camadas de pinturas murais superpostas nas paredes de casas e igrejas paulistas.

A professora Regina Tirello, do Centro de Preservação Cultural da USP e da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, já realizou a chamada "sondagem arqueológica de superfície" em prédios como a Vila Penteado, a Casa da Dona Yayá e a capela do Menino Jesus e Santa Luzia.

Maquete eletrônica
A pequena capela aparecia em uma lista de igrejas que teriam obras do pintor-decorador Oreste Sercelli, muito conhecido no final do século 19.

O trabalho levou a equipe a um impasse. "Encontramos a pintura do Sercelli. Mas, sobre ela, existiu outra, tão bonita como, que é do início do século", diz. Decidiram, então, preparar duas simulações da igreja, uma para cada ciclo pictórico.

Agora, sua equipe trabalha em uma maquete eletrônica, que ficará disponível na Casa da Dona Yayá, demonstrando como as paredes mudaram ao longo do tempo.

"Era muito comum as pessoas fazerem uma pintura sobre a outra. Nós podemos reconstituir todas elas virtualmente, para que as pessoas adentrem todas essas ambiências do passado", diz Regina.

"Até pouco tempo não se dava nenhuma importância para os ambientes das casas antigas. Imagine quantos ambientes, quantas pinturas foram sacrificadas", afirma.

Cobiça por bronze
Assim como partes do patrimônio são descobertas, outras desaparecem.

Há quatro anos, o sino que em 1822 anunciou a independência do Brasil dobra com um novo badalo: o original, em bronze, foi furtado.

Conhecido como "Bronze Velho", o sino é tombado pelo Condephaat desde 1972. Feito de uma liga de ouro e bronze, só se salvou devido ao peso descomunal e por estar fixo na torre da igreja de São Geraldo.

Também em bronze, duas placas que identificavam esculturas diante do Museu do Teatro Municipal, no Anhangabaú, foram furtadas nos anos 90.

Com base em fotografias, foram construídas réplicas, do mesmo material.

Hoje, adornam gavetas no interior do museu _enquanto Márcio Sgreccia, responsável pela entidade, planeja novas réplicas, em plástico.

Teme que, se postas no Anhangabaú, as cópias de bronze tenham o mesmo fim que as originais. O museu possui apenas quatro vigilantes. "E, à noite, tem muita 'estrela cadente' na praça", diz.

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