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Novo em Folha 45ª turma
19/08/2008

Ginga baiana domina boxe brasileiro

GIULLIANA BIANCONI
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR (BA)

A equipe brasileira de boxe seguira à China, no próximo mês, com seis pugilistas. Nunca o país teve número maior de representantes da modalidade em jogos olímpicos. A última vez que meia dúzia de boxeadores brasileiros esteve numa mesma Olimpíada foi em 2000 (Sydney).
Em território australiano, a quantidade, porém, não foi sinônimo de resultado. Todos foram eliminados até a segunda rodada.
Agora, a expectativa é outra. Ao longo de dois ciclos olímpicos, a modalidade somou investimentos expressivos vindos, principalmente, da arrecadação determinada pela Lei Agnelo/Piva que permitiram evolução no cenário internacional.
No Pan do Rio, os resultados refletiram o desenvolvimento do esporte. Com oito medalhas, o boxe foi, entre todas as modalidades disputadas pelo Brasil, a que apresentou maior evolução em relação ao Pan de Santo Domingo (2003).
A euforia verde e amarela nos ringues teve como personagem principal um baiano. Pedro Lima, 24, categoria 69 kg, quebrou um jejum de 44 anos ao conquistar o ouro pan-americano.
Na China, os pugilistas baianos voltarão a ser assunto. Serão quatro tentando, nos ringues, acabar com mais um jejum: o de 40 anos sem medalha olímpica.
O pódio olímpico é o único que falta para coroar o celeiro baiano, que conseguiu se diferenciar de outros existentes no país, em Estados como Pará e São Paulo.
Atualmente, em Salvador, há até uma "base" do Centro de Treinamento da CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe), instalado em Santo André (SP).

Márcio Lima/Arcapress
Garotos se reúnem após treino à tarde
Garotos após treino do final da tarde

Trata-se da academia Champion, do treinador Luiz Carlos Dórea, o mesmo que revelou o campeão mundial dos superpenas Acelino Freitas, o Popó.
Lá, treinam regularmente 3 dos 6 atletas que formam a atual equipe olímpica.
Na Champion, os atletas têm moradia, alimentação e treinos diários. Tudo bancado com a verba que a CBBoxe reserva para a equipe.
"Já fiquei um tempo em Santo André. É bom, é 'puxado', mas eu prefiro estar aqui [na Bahia]. Em São Paulo, até para 'tirar' peso é difícil", diz Robson Conceição, referindo-se à briga que os pugilistas travam com a balança para manter o peso exigido pelas categorias.

Base "baiana"
A Champion foge ao padrão simples da maioria das academias de boxe da Bahia (leia texto na página ao lado). Funciona em um antigo e amplo casarão azul, no bairro de Cidade Nova. Nas paredes, em letras de forma garrafais, as palavras "garra, força, técnica e humildade" ficam ao lado do ringue.
Nos dias de sparring treinos com luta, o treinador Dórea grita essas mesmas palavras para os atletas. Segundo ele, a união delas com o "sangue quente" dos baianos é a receita do boxe que vem dando certo. Para o presidente da CBBoxe, Luiz Carlos Boselli, o sucesso deles no esporte não resulta somente dessa receita.
"O desenvolvimento do boxe baiano nos cenários nacional e internacional se deve muito à capacidade que os atletas de lá tiveram de se adaptar à mudança do sistema de julgamento do boxe olímpico. Até o fim dos anos 80 era na papeleta, depois passou a ser feito no computador", afirma.
De acordo com Boselli, pugilistas paulistas, por exemplo, não se adequaram a esse tipo de julgamento. "Em São Paulo as novas regras não foram aceitas e ainda hoje se fazem lutas com o sistema antigo. Isso explica muita coisa, inclusive o fato de no Estado não surgirem campeões com a freqüência de anos atrás."
Ausência de campeões é um mal que, há tempo, não assola a Bahia. Já em 1999, antes mesmo da criação da Lei Agnelo/ Piva, foi um baiano que acabou com o jejum brasileiro de títulos mundiais. Acelino Freitas, o "Popó", arrebatou o cinturão dos superpenas da OMB (Organização Mundial de Boxe). Antes dele, apenas dois paulistas Éder Jofre, em 1960 e 1973, e Miguel de Oliveira, em 1975 haviam alcançado feitos semelhantes.
A confirmação de que a Bahia virara um terreno fértil para o surgimento de pugilistas campeões veio em 2006, quando o peso pena Valdemir Pereira, o "Sertão", sagrou-se o melhor do mundo pela FIB (Federação Internacional de Boxe).
"Sertão", baiano de Cruz das Almas, foi a dose extra de estímulo para uma legião de boxeadores que respira, em projetos sociais, academias pouco estruturadas ou em galpões de casas humildes, o sonho de mudar de vida através dos ringues.

GIULLIANA BIANCONI participou da 45ª turma do programa de treinamento da Folha, que foi patrocinada pela Philip Morris Brasil e pela Odebrecht

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