Treinamento Folha   Folha Online
   
Novo em Folha 45ª turma
19/08/2008

Eficientes, celeiros se renovam

DA ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR (BA)

A escada amarela e enferrujada leva ao segundo andar da casa do segurança Gilvan Bispo, 40. Lá em cima, 15 meninos pulam e repetem, em coro, a contagem que vai de zero a dez. A maioria está descalça. "Eles guardam o tênis para os dias de competição e para ir à escola", diz o instrutor de boxe Robson Fonseca, 23, conhecido como Cubaninho.
Pugilista profissional da categoria supermosca, Cubaninho foi aluno de Gilvan na Academia Novo Astral, no bairro de Nordeste de Amaralina, em Salvador, onde hoje dá aula. A academia, que se resume a uma sala de 8 metros por 9 metros, é uma espécie de oásis de esperança cravado no meio de uma periferia que sofre com alto índice de criminalidade. "Já tirei meninos do tráfico que hoje estão aí, buscando se tornarem atletas de destaque", orgulha-se Gilvan.
Naquela tarde, os pugilistas que ouviam os comandos de Cubaninho treinavam para um torneio-seletiva agendado pela CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe) que teria como objetivo formar uma seleção da categoria cadete (15 e 16 anos).

Márcio Lima/Arcapress
Luís Henrique dos Santos, 18, na academia Novo Astral, em Nordeste de Amaralina; ele é um dos 60 alunos que têm aula de boxe gratuita três vezes por semana
Luís Henrique dos Santos, 18, na academia Novo Astral, em Nordeste de Amaralina; ele é um dos 60 alunos que têm aula de boxe gratuita três vezes por semana

Nenhum dos 15 aspirantes a pugilistas ali presentes desembolsa qualquer centavo para treinar. Mesmo assim, a Novo Astral tem luvas conservadas, paredes bem pintadas em azul, vermelho e branco, e distribui até a bandagem para proteger a mão dos garotos que esmurram, três vezes por semana, os sacos de areia e o boneco Bobby, um busto de borracha.
No torneio-seletiva, realizado lá mesmo, na Bahia, em junho passado, o desempenho de atletas dessa academia chamou a atenção do presidente da CBBoxe, Luiz Carlos Boselli.
"Quem patrocina essa academia, Joílson [Joílson Santana, diretor técnico da Federação Baiana de Boxe]?", indagou Boselli a Santana. "Ninguém", respondeu o diretor. "Mas como funciona, então?", quis saber o presidente. "Do nosso jeito, né, presidente? Do jeito que a gente sempre fez por aqui", esclareceu o baiano.
Joílson Santana, 42, conhece bem a realidade do boxe em seu Estado. Foi pugilista dos 18 aos 28 anos. Não qualquer pugilista: foi atleta olímpico, que representou o Brasil nos Jogos de Seul, em 1988.
"Aqui sempre foi assim: um ajudando o outro e todo mundo tirando dinheiro do próprio bolso para investir no boxe. A sorte é que baiano é apaixonado por esse esporte, e sempre tem alguém para dar uma força", afirma Santana, que há dez anos, quando foi aprovado num concurso para oficial de Justiça, trocou os ringues pelos bastidores do esporte.

Caçadores de talento
Joílson se orgulha dos treinadores que, mesmo sem dinheiro, conseguem revelar pugilistas talentosos.
Foi ele, inclusive, que levou a reportagem da <bf>Folha<xb> a academias que funcionam nos guetos e na periferia de Salvador. "Faço questão de mostrar onde realmente surgem os talentos, porque é fácil para alguns treinadores levar atletas dessas academias humildes para outras mais famosas e, depois, dizer que foi nesses lugares que eles surgiram", diz.
A academia São Cristóvão, no bairro da Liberdade, na parte alta da cidade de Salvador, não tem sede própria. No mesmo espaço onde, durante a semana à noite, os pugilistas treinam, acontecem shows de pagode nos finais de semana, quando o ringue de madeira improvisado é transformado em palco.
"Como não posso pagar o aluguel, o dono do espaço, que é meu amigo do peito, aluga para festas", diz Egberto de Jesus, treinador que descobriu ali mesmo, naquele salão, os pugilistas Robson Conceição e Robenílson Vieira, atuais integrantes da equipe olímpica.
"Eu não sou empresário e não tenho dinheiro, mas sei formar atletas. Aprendi a técnica no ringue, levando porrada e, mesmo sem lucrar nada, tenho o prazer de repassar tudo o que sei aos garotos", diz Egberto, o "Bel", que ganha o sustento como fiscal da prefeitura. (GIULLIANA BIANCONI)

BLOG

BATE-PAPO PRÊMIOS ESPECIAL
Patrocínio

Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player


Philip Morris
AMBEV


Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).