04/12/2004
Metade dos separados rola sozinha na cama
48% dos divorciados e desquitados têm insônia e 44% não dormem bem
THIAGO REIS E PAULA LEITE
Da equipe de trainees
Renato Stockler/Folha Imagem |
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A jornalista Elane Martins, que teve insônia depois do divórcio |
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Os paulistanos divorciados dormem pior e têm mais insônia que solteiros, casados e viúvos. De acordo com os números do Datafolha, 48% dos separados sofrem de insônia, 36% dizem que dormem menos do que gostariam e 44% não dormem bem.
"O processo de separação é muito difícil. É uma reavaliação da vida. Enche a cabeça da gente de problemas, de questionamentos. Essas preocupações tiram o sono", afirma a assessora política Cristina (nome fictício), 51.
Seu casamento durou 24 anos. Há dois, ela está divorciada. Desde então, toma remédio para conseguir dormir. "A gente estranha. A cama fica enorme e você fica muito pequenininha nela", diz Cristina.
Amanda Abud, 26, desempregada, tem o mesmo problema. Ela foi casada durante quatro anos, separou-se há dois e ainda tem dificuldade para adormecer. "Eu só consigo dormir com a televisão ligada. Talvez seja o fator presença", afirma.
Os relatos dos separados parecem um eco da canção "Volta", escrita por Lupicínio Rodrigues na década de 50: "Quantas noites não durmo/A rolar-me na cama (...) Não consigo dormir sem teu braço/Pois meu corpo está acostumado".
Para a psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do Núcleo de Casal e Família da PUC-SP, a falta do parceiro é um dos principais motivos da insônia dos divorciados. "Dormir acompanhado, numa situação afetiva estável e confortável, tranqüiliza", diz.
Os viúvos, apesar da perda, dormem melhor que os divorciados: 25% sofrem de insônia, 28% dizem não dormir bem e 14% deles reclamam de dormir menos que o suficiente.
Para Carmen Proença, psicóloga que fez seu mestrado sobre distúrbios do sono, a sociedade vê o divórcio como sinal de que algo fracassou no relacionamento. Já os viúvos não sentem que falharam. "A morte aconteceu, foi obra do destino, a pessoa não sente que foi culpa dela."
A jornalista Elane Cristina Martins, 30, divorciou-se há um ano, depois de cinco anos de casamento. Ela e seu filho de dois anos não conseguiam dormir depois da separação do casal. "Acordada, minha pergunta era: ‘Por que ele me largou? O que aconteceu? Como meu filho vai ficar longe do pai?’", conta Elane.
Os números mostram que os casados estão mais perto da média da população: 32% têm insônia e 32% não dormem bem. Entre os solteiros, a incidência de insônia é de 27%, mas apenas 21% reclamam de não dormir bem.