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Sono
04/12/2004

Pesquisa "engana" o corpo com luz

PAULA LEITE
Da equipe de trainees

Samir Baptista/Folha Imagem
Manoel da Silva é porteiro à noite há 26 anos; para passar o tempo, vê TV
"Eu preferia trabalhar à noite. É o mesmo serviço, mas tem menos gente mandando. De dia tem muito chefe." Durante 19 anos, Bernardino Duarte operou uma empilhadeira na fábrica da Ford, no turno da noite. Porém não são todos que, como ele, se acostumam a trabalhar enquanto a maioria dorme.

Inácio Rosa trabalhou durante mais de três anos à noite, na fábrica da Unilever em Vinhedo. Ele diz que nunca se adaptou e que essa foi uma das razões por que pediu para sair da empresa, em outubro. De dia, não conseguia dormir. "Tem barulho, aqueles alto-falantes de vendedores", diz.

Ele não tinha horários fixos para comer e deitar e diz que o calor atrapalhava o sono. Quando não conseguia dormir à tarde, Inácio diz que ficava com sono depois da ceia, entre 1h e 3h.

No corpo humano, tudo funciona regulado pelo ciclo de atividade e descanso, explicou à Folha o pesquisador alemão Till Roenneberg, da Universidade Ludwig-Maximilians, em Munique. Os olhos detectam a luz solar e "dizem" ao cérebro que é dia.

Os trabalhadores noturnos são expostos a uma luz muito mais fraca que a solar. Quando saem do trabalho e quando acordam e saem de casa são expostos à luz do dia. O cérebro "entende" que é dia e que eles devem ficar acordados.

Por isso, diz Roenneberg, essas pessoas têm sono quando trabalham, dormem mal depois do turno e podem até desenvolver problemas digestivos, já que o estômago produz menos ácido gástrico à noite e mais de dia.

Roenneberg e seu grupo fizeram uma pesquisa de campo em uma fábrica da Volkswagen em Wolfsburg, na Alemanha. Metade da linha de produção foi iluminada normalmente, enquanto a outra metade recebeu luz mais forte, projetada para iluminar o ambiente de forma difusa. O objetivo era ser mais parecida com o sol e "enganar" o corpo.

Segundo Roenneberg, resultados preliminares mostram que os trabalhadores melhoraram sua concentração à noite e estão dormindo melhor. Eles disseram ter gostado muito da luz mais forte, conta o pesquisador.

Eurípedes de Paula, 65, coordenador de segurança da empresa Pires, trabalhou à noite durante 25 anos. Ele diz que só passava tempo com a mulher e os dois filhos nas folgas. Sair com os amigos, só se fosse com os do turno da noite. De Paula e seus colegas deixavam o trabalho às 6h e muitas vezes iam ao bar. Quando o pessoal do turno do dia chegava, via alguns tomando cerveja às 7h.

Manoel Soares da Silva, 59, é porteiro de um prédio nos Jardins e trabalha à noite há 26 anos. Ele diz que não tem sono no trabalho, mas que, "às vezes, de madrugada, dá uma arriaçãozinha. Quase todo vigia de prédio cochila".

As estratégias para ficar acordado incluem TV e radinho. Manoel diz que quem trabalha à noite nem sempre consegue dormir direito. "Tem que obrigar um pouco pra não arriar. A gente levanta, toma um cafezinho, volta."

Colaborou Flávia Mantovani
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