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Sono
04/12/2004

Fechada de olho: Cochilo pode ser causa de 1/4 dos acidentes

THIAGO REIS
Da equipe de trainees

Ademir Baptista/Folha Imagem
Carlos Alberto Xavier, 51, em seu caminhão; no ano passado, ele não conseguiu chegar ao hotel onde sempre fica hospedado, em Torres (RS), e dormiu ao volante
O caminhoneiro Carlos Alberto Xavier de Borba, 51, estava acordado havia 26 horas e meia; 14 horas e meia ao volante. Não encontrou na beira da estrada um lugar onde pudesse tirar um cochilo e capotou próximo a Criciúma (SC), na BR-101. "Quando a polícia rodoviária chegou, eu estava de roda para cima no barranco. O policial perguntou: ‘Você tomou uma fechada?’ Eu falei: ‘Foi fechada, sim, seu guarda. Fechada de olho.’"

Borba faz parte de uma estatística preocupante: 25% dos acidentes nas rodovias federais brasileiras são provocados por motoristas que dormem ao volante.

O dado resulta de uma pesquisa do médico Sérgio Barros, da Sociedade Brasileira do Sono, que estima que 25,6 mil acidentes tenham sido causados por sonolência e fadiga em 2001. Documentos da Polícia Rodoviária Federal indicam um número bem menor: 1.787.

Nos relatórios da polícia, a explicação para a maior parte dos 102,5 mil acidentes registrados em 2001 é "falta de atenção".

A imprecisão do termo e a ausência de uma estatística oficial no país fizeram com que, durante todo o ano passado, Barros analisasse os boletins de ocorrência dos acidentes de 2001 na Bahia e no Espírito Santo. Os dados permitiram ao médico estimar um índice nacional.

No estudo, Barros levou em consideração fatores como o horário e o tipo de colisão. Boa parte dos casos revela colisão com o veículo da frente ou com objetos fixos na parte lateral da estrada, indicadores de sonolência e fadiga. Os períodos de maior incidência são o final da tarde e a madrugada.

Pistas retas

Os números mostram que 67,6% dos acidentes aconteceram em pista reta e 75,5%, em boas condições climáticas --fatores que induzem o sono por diminuírem a concentração do condutor.

O caso de Borba confirma os índices: o caminhoneiro dirigia de madrugada, com tempo bom e em trecho reto no momento em que capotou.

Em 2001, houve 47.448 acidentes envolvendo caminhões.

O presidente da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica, Geraldo Rizzo, aconselha os motoristas a parar o carro caso sintam sonolência, a jamais dirigir se, na véspera, tiverem dormido mal e a evitar guiar sozinhos durante a noite. Para Rizzo, não adianta "tapear" o sono: "Abrir a janela e aumentar o som do rádio não funciona".

Marco Túlio de Mello, do Centro de Estudos Multiprofissional em Sonolência e Acidentes, sugere que as empresas planejem uma escala de trabalho para os motoristas profissionais.

Barros colocou isso em prática numa empresa de ônibus do Espírito Santo e montou oito salas de descanso nos principais pontos das rodovias do Estado. Nelas, os motoristas passam 20 minutos sob uma luz artificial que ativa a produção de melatonina.

Para tentar reduzir os acidentes, as montadoras também têm investido na pesquisa de aparelhos que, se eficientes, podem se tornar itens de série no futuro (leia quadro abaixo).

A maioria dos médicos, no entanto, tem dúvidas quanto à utilidade desses aparelhos. Na opinião de quatro especialistas ouvidos pela Folha, as empresas acabam deixando de atuar na causa do problema. Segundo eles, faltam programas de conscientização.

Os médicos acreditam que programar paradas para cochilos e evitar a ingestão de alimentos pesados e bebidas alcoólicas ainda são as melhores opções.

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