20/06/2004
O JOGO E EU: EMPRESÁRIA DEIXAVA QUASE R$ 1.000 POR DIA EM CAÇA-NÍQUEIS
DA EQUIPE DE TRAINEES
"Cheguei a apostar R$ 1.000 em um dia em caça-níqueis de padaria." Quando chegou a este ponto, a empresária Márcia (nome fictício), 36, precisou roubar dinheiro do avô para continuar apostando.
A família descobriu, e Márcia, envergonhada, fugiu de casa. "Passei a noite na rua com frio e fome. Só pensava em me matar", disse ela. Com o jogo, perdeu duas empresas, o carro e a confiança dos parentes.
Abalada pelo vício, tentou suicídio com uma faca e com um martelo de cozinha. "Bati o martelo com toda força contra minha cabeça, mas dei sorte."
A compulsão surgiu na adolescência com o jogo do bicho. "Apostava todos os dias, três vezes por dia. Em dois anos, detonei tudo que tinha."
Depois disso, Márcia conseguiu se afastar das apostas por 17 anos. Até que, endividada, resolveu colocar R$ 10, "de brincadeira", numa máquina de padaria. "Ganhei R$ 60 e achei que ali estava a solução dos meus problemas."
Márcia não sabe explicar o que a movia para o jogo. "Era uma adrenalina. Perdia tudo, saía me xingando e dizia que nunca mais apostaria. No dia seguinte, ficava pensando em quem eu enganaria para conseguir dinheiro para o jogo."
A ajuda para a compulsão veio com os Jogadores Anônimos. Márcia está sem apostar há quase um ano. "A tentação existe, mas lembro as histórias que ouvi nas reuniões e vejo que não quero ficar assim." (MP)