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Nova York

Associated Press
"Nova York é aqui", afirma o colunista Amir Labaki sobre o Central Park (foto)

AMIR LABAKI
especial para a Folha Online

Outono em Nova York, já cantava o velho Frank, pode ser muito excitante. O Central Park já amarelou, a temperatura convida à elegância, Bobby Short reassume seu posto de menestrel de Manhattan no Carlyle (Madison com 76).

Para os padrões paulistanos a cidade está um brinco, mas a gestão do prefeito republicano Ruddy Giuliani já a deixou mais reluzente. As calçadas de Manhattan estão mais sujas do que nos últimos anos e não faltam colunistas locais reclamando do aumento da população de "homeless".

Giuliani parece ter compreensivelmente deslocado parte de sua gana dos assuntos públicos para o drama privado de sua batalha contra um câncer de próstata. A cidade registrou o golpe.

Às vésperas de eleições para Presidente, renovação de um terço do Senado e de toda a Câmara dos Deputados, é possível cruzar Manhattan sem se dar conta da campanha mais tensa dos últimos 40 anos. Não vi um cartaz, uma pichação, um panfleto, na semana que passei por lá.

Seguem abaixo dez dicas para esta estação nova-iorquina. Não há a pretensão de um "melhor de NY". É apenas uma lista pessoal de prazeres passageiros.

1. Amazons of the Avant-Garde - Uma pequena exposição prova no Guggenheim (Quinta com 89) a importância das mulheres na revolução nas artes plásticas russas do início do século. Exter, Goncharova, Popova, Rozanova, Stepanova e Udaltsova merecem firmar seus nomes na saga que imortalizou Malevitch, Rodchenko e Tatlin, entre outros.

2. Armani no Guggenheim (ver acima) - OK, a curadoria é meio preguiçosa. Sim, a montagem poderia ser mais didática. Mas se o museu recebeu há dois anos uma exposição de motos, por que não a mais excepcional reunião de criações do mais importante designer de roupas do último quarto de século? Bob Wilson criou o clima preciso envolvendo a espiral central do museu com um véu armaniano. A sala principal, dedicada aos figurinos para filmes e estrelas, curiosamente a um só tempo rouba e potencializa o glamour de Hollywood.

3. Beatles - Esqueça a volta por cima de Madonna e a ressurreição das Spice Girls: os velhos e bons Beatles dominam a trilha musical nova-iorquina. É o efeito "Anthology", o tijolaço que reúne as memórias do quarteto. Entre em qualquer Virgin MegaStore e mate as saudades _ou descubra como tudo isso começou.

4. Gore Vidal´s The Best Man - Depois de 40 anos volta aos palcos o clássico de Gore Vidal sobre os bastidores da política americana. Do roteiro não-filmado de "The Big Brass Ring" por Orson Welles até o corrente "The Contender", todos beberam nas águas de Vidal. Charles Durning (o ex-presidente), Spalding Gray e Chris Noth (os concorrentes) encabeçam o elenco dirigido por Ethan McSweeny. No Virginia Theater (245 W 52nd St).

5. Oyster Bar - É parada obrigatória para novatos ou veteranos, sobretudo depois da reforma que devolveu todo o esplendor à Grand Central Station. Não se acanhe de pedir que escolham a melhor seleção de ostras do dia. O salmão ao mostarda estava suculento. E o bolo de chocolate branco e preto, sabiamente pedido por meu colega de almoço, Sérgio Dávila, inacreditável.

6. "Requiem for a Dream" - O mais vertiginoso e potente filme sobre drogas em décadas. Darren Aronofsky (Pi) guia-nos o olhar com mãos de ferro para acompanhar a descida aos infernos de quatro viciados, a partir do romance de Hubert Selby Jr. Uma versão pós-MTV de "Farrapo Humano" (álcool) e "O Homem do Braço de Ouro" (heroína). Um quarto de século depois do Oscar por "Alice não Mora mais Aqui", Ellen Burstyn volta a ser favorita para a estatueta como uma viúva fisgada por pílulas para emagrecer.

7. Susannah McCorkle no The Oak Room do Algonquin Hotel (59 W 54th Street) - McClorke devolve aos "standards" americanos o frescor das primeiras audições. Não satisfeita em enriquecer o repertório sempre com um Cole Porter esquecido ou uma variação rara de Gershwin, McCorkle contextualiza cada canção como se Will Friedwald estivesse lhe soprando o texto no ouvido. Numa noite de sorte, pode-se até ouvir uma "canja" com clássicos de Tom Jobim, aos quais McClorke tem se dedicado a recriar em inglês com traduções próprias.

8. Yes Yoko Ono - Na maior retrospectiva de sua carreira, englobando objetos, filmes, vídeos e instalações, eis a prova definitiva de que Yoko é muito mais do que a viúva Lennon. Ao encontrar John, em meados dos anos 60, a vanguarda era ela. Na Japan Society (333 E 47th Street).

9. Museum of Television & Radio (25 W 52nd Street) - Programe o seu festival. Sabe aquele show de Sinatra que você sempre quis ver? Com saudades do primeiro episódio de Cheers? Quer saber como foi mesmo a luta entre o ainda Cassius Clay e Sonny Liston, em 25 de fevereiro de 1964, recriada estupendamente por David Remnick em "King of the World" (cuja tradução a Companhia das Letras tem no prelo)? Está tudo aqui, pelo preço de um ingresso comum de cinema.

10. Central Park - Relaxe. Coma um cachorro-quente. Improvise um piquenique. Jogue conversa fora. Olhe em torno. Roube um beijo (do ou da acompanhante). Nova York é aqui.

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