Chapada Diamantina - Terno das Almas
da Folha OnlineOs estalos da matraca anunciam: é hora de acordar e ouvir a louvação. Entoando cânticos religiosos, mulheres cobertas com lençóis brancos saem às ruas para louvar as almas. Essa manifestação religiosa que já foi tradicional em Lençóis, Andaraí, Mucugê e Xique-Xique Igatu corre o risco de cair no esquecimento.
"O Terno das Almas está agonizando na Chapada [Diamantina]", diz o artista plástico Marcos Zacariades, 41, que luta para recuperá-lo e mantê-lo vivo.
Em Igatu, após uma pausa de 23 anos, a louvação voltou a acontecer este ano, incentiva por Zacariades, fundador da Galeria Arte e Memória.
"Eu tinha ouvido falar, mas não sabia muito bem. Junto das exposições [da galeria] gosto de trazer um evento de memória. Perguntei e as moradoras me contaram. Com a exposição, as convidei para uma reunião que virou ensaio porque quem fazia, fazia com muita paixão. [A manifestação] é lúdica, bonita, inebriante. Por ser um mantra, é demorada. Ficam muitas horas recitando. Quando acaba, [as participantes] saem em alfa. Tem uma beleza cênica, envolve fantasia e teatralidade. Faz com que se apaixonem", diz Zacariades.
O ritual acontece às segundas à noite durante a Quaresma. Na Semana Santa a procissão passa a ser diária. Em geral, o cortejo começa no cemitério, onde as almas são “acordadas” pela matraca para escutarem à louvação. O ritual tem sete benditos (cânticos) entoados em sete estações (paradas) e termina na igreja.
"Hoje tenho convicção de que Igatu vai ter o Terno das Almas comigo ou sem porque a auto-estima foi resgatada. É cedo para falar, mas em Igatu [a manifestação] está em ascendência", afirma.
*A jornalista Janaina Fidalgo e o designer gráfico Eduardo Asta viajaram a convite do Hotel Paraguaçu (tel. 0/xx/75/335-2073).
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