Turismo

Ilha da Trindade - Para chegar à ilha


Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Pôr-do-sol visto do navio "Graça Aranha", que faz a viagem a Trindade

LUCAS CEMBRANELLI
free-lance para a Folha Online

Viajar seis dias em um navio da Marinha com a oportunidade de conhecer uma ilha paradisíaca onde poucos podem pisar, no meio do Atlântico, parece uma oferta irrecusável, mas é difícil ter idéia do trabalho dos marinheiros que participam de uma operação como esta.

A Marinha realiza missões de abastecimento do posto da Ilha da Trindade de dois em dois meses. Nesta viagem de abril de 2002, o navio faroleiro “Graça Aranha” foi responsável por transportar a carga e a nova guarnição de marinheiros para permanecer mais quatro meses isolados no local.

A tarefa principal de um navio faroleiro é dar apoio à construção e à manutenção de faróis de sinalização da costa brasileira. Mas este tipo de embarcação também realiza atividades secundárias como pesquisas hidrográficas e oceanográficas, como a coleta de dados meteorológicos e a elaboração de cartas náuticas.

Problemas e atraso

Todas as atividades foram realizadas durante a travessia para a Trindade, que partiu da Base Naval do Rio de Janeiro. Antes da partida, a previsão para a travessia, de 1.167 quilômetros, era de três dias na ida e mais três dias na volta, baseando-se na velocidade média do navio, que é de 10 nós, o equivalente a aproximadamente 20 km/h.

Porém, devido a problemas no motor da embarcação, somados às condições negativas de navegação (vento e maré contra o sentido do percurso), a viagem à Trindade durou 13 dias no mar, seis na ida e sete na volta. A velocidade média no percurso foi de 5 nós, o que significa 10 Km/h.

O principal motivo dos problemas é a idade do "Graça Aranha". O navio é antigo e foi pela primeira vez ao mar em 1974. De fabricação brasileira, passou o último ano parado na base naval somente para reparos. A travessia para Trindade foi a primeira viagem da embarcação depois dos consertos. Os reparos foram constantes no percurso.

Os 116 militares que participaram da viagem, entre oficiais e marinheiros, se desdobraram para completar a missão. O navio pesa 1.770 toneladas sem carga e tem 74m80. Ele funciona como uma cidade, com todas as suas necessidades básicas a bordo. Cada marinheiro tem uma função específica, entre elas: mecânico, piloto, cozinheiro, médico, dentista, eletricista, bombeiro, mergulhador, entre outras. Algumas das funções são desempenhadas em condições básicas de funcionamento.

Segundo o comandante imediato da embarcação, capitão Paulo Sérgio, o governo federal destina uma verba que é distribuída entre as três Forças Armadas (Marinha, Aeronáutica e Exército), e que depois é novamente distribuída dentro da Marinha.

O dinheiro que sobra para uma missão como esta tem de ser investido por ordem de prioridade no navio, o que acaba resultando em ruins condições para uma viagem de longa distância em alguns setores da embarcação.

Muitos serviços são realizados improvisadamente devido à necessidade e à longa distância para um pedido de socorro. No problema do motor, por exemplo, os marinheiros tiveram que construir peças dentro da oficina da embarcação para repor as que haviam sido danificadas. E como não eram originais, as “novas” peças acabaram apresentando novos problemas no decorrer da viagem.

Regras militares

Toda a tripulação segue regras neste tipo de viagem militar. Os convidados civis têm de se adaptar às normas militares enquanto estiverem dentro da embarcação. Acordar às 6h, tomar café às 7h15, almoçar às 12h, jantar às 18h, tomar banho às 20h30, ceiar às 21h e dormir às 22h. Durante os intervalos entre uma refeição e outra é preciso ocupar o tempo para não ficar “mareado”, como os marinheiros dizem para quem passa mal com o balanço das ondas.

Uma maneira de manter-se ocupado é participar dos diversos exercícios de emergência realizados. Esta foi uma das prioridades dentro do “Graça Aranha”. A tripulação é constantemente treinada para situações de perigo e emergência. São simulados acidentes de colisão, homem jogado ao mar, incêndio, explosão e acidentes com a aeronave do navio, um helicóptero esquilo, que necessita de preocupação redobrada.

O “Graça Aranha” possui o menor convôo (heliponto) da Marinha, e o encontro entre a aeronave e o navio proporciona um “show” de habilidade dos pilotos e da equipe a bordo.

A embarcação encontrou com o helicóptero, que partiu de São Pedro da Aldeia (a 136 km do Rio de Janeiro), em alto mar, em um horário previamente marcado. Os pilotos tiveram que pousar no menor heliponto militar do Brasil, com o navio navegando e balançando ao mesmo tempo.

A apreensão em uma operação como esta é grande, devido à gravidade no caso de acidente. O combustível de aviação é altamente inflamável. Para ser ter uma idéia da precaução, enquanto a aeronave estiver em funcionamento, os bombeiros e o médico da tripulação são obrigados a permanecerem no navio de prontidão para realizar atendimentos de emergência.

Durante a missão de abastecimento da ilha, o helicóptero praticamente não pára. Como o navio não pode se aproximar da praia, por causa dos corais e das ondas, todo o material e o pessoal que vai ficar no local são transportados pelo ar. Nesta última operação foram realizados 135 vôos, entre o convôo e o heliponto na base, para transportar aproximadamente 40 toneladas de carga.

Em caso de acidentes graves que necessitem de abandono, o navio possui 8 balsas de salvamento com capacidade para 15 pessoas cada uma. Dentro destas balsas infláveis, existem materiais de sobrevivência como utensílios para pesca, faca, remos, água doce, comida desidratada, âncora, sinalizadores e iluminação. Com o material, é possível passar cinco dias à deriva, apenas para sobrevivência, sem conforto.

Já no navio existem equipamentos de lazer que proporcionam algum conforto para a tripulação nas horas de folga. Fora do horário de serviço, os marinheiros se divertem com jogos de mesa e filmes em vídeo. Em alguns dias, é liberado um “pagode” na popa (parte de trás do navio) e um banho de sol no convés, com direito a ducha de água do mar.

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