Turismo

Ilha da Trindade - Poit

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Vista aérea do Poit, onde fica o centro de operações da Marinha na ilha

LUCAS CEMBRANELLI
free-lance para a Folha Online
ROGÉRIO CASSIMIRO
editor de imagem da Folha Online

O que parece um “programa de índio” ou aventura para quem gosta de isolamento é trabalho para o grupo de voluntários da Marinha que disputam a oportunidade de passar até quatro meses longe da família e dos amigos numa ilha isolada no meio do oceano Atlântico.

Há filas na Marinha para passar um tempo no Poit (Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade), mas somente 16 militares, em média, conseguem, a cada dois meses, servir na base do local, cuja principal função é manter a ilha ocupada, garantindo a posse brasileira; patrulhar o tráfego marítimo nas proximidades; e coletar dados meteorológicos e oceanográficos, que são divulgados para vários lugares do mundo.

Permanecem na ilha apenas 32 homens, e metade é substituída a cada dois meses. Para a maioria dos marinheiros, as principais vantagens de trabalhar num local tão isolado são a qualificação, para subir de posto na hierarquia militar, e os bônus salariais. Eles ganham três salários a mais e 20% de aumento por trabalharem em uma localidade especial, além de não terem onde gastar o dinheiro durante a estadia na ilha.

Casamento, regime e saudade

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
O marinheiro Rodney de Oliveira, que
pretende se casar ao voltar da ilha

Para o marinheiro Rodney de Oliveira, 22, é uma ótima oportunidade de guardar dinheiro. Ele permanece em Trindade até agosto de 2002 para, na volta, se casar. O grande sacrifício, segundo Oliveira, vai ser passar o seu aniversário e a data de um ano de noivado longe da futura mulher.

Ficar longe da família e dos amigos também é o maior sacrifício para a maioria que vai à ilha.

Há marinheiros casados há menos de um ano e outros que largam filhos recém-nascidos no continente.

Para retardar os efeitos da saudade, foi instalado, há um ano, um telefone público na ilha, por meio de um acordo com a Embratel, que permite falar com pessoas no Rio de Janeiro -onde a maioria vive com a família- pelo preço de ligações locais. Quase todos os dias, por volta das 21h, os militares fazem fila no orelhão para receber notícias de seus familiares.

Graças ao telefone público, segue no bolso dos marinheiros cartões telefônicos, apelidados por eles de “remédio da saudade”.

A praça que fica próxima ao telefone público é chamada de “Banzo”, doença que matava muitos escravos por causa da saudade dos familiares e da terra durante as viagens em navios negreiros. Para o o chefe do destacamento de Trindade, o comandante Elmo Guimarães, o melhor “remédio” para evitar o “banzo” é a participação em atividades e a colaboração com o grupo.

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Fábio Melo Brito, que quer emagrecer
no período em que ficar na ilha

Num local com poucos habitantes, é muito fácil um indivíduo se isolar, caso não participe das atividades. E uma vez isolado do grupo, ele fica propício à depressão. Segundo o comandante, para que isto não ocorra, às vezes o chefe do destacamento é obrigado a exigir a participação de todos, para o “bem do próprio o indivíduo e para que não acarrete um problema para todos no local”.

Marinheiros mais experientes em ir a Trindade vêem vantagens em tirar um tempo para se isolar. Para o cabo Fábio Melo Brito, que participa da sua segunda viagem, a ilha serve com um spa natural. Na primeira vez que esteve em Trindade, ele emagreceu 14 quilos, e em quatro novos meses, sua meta é perder 20 quilos. Segundo o cabo, o segredo para emagrecer é o trabalho.

Guia de sobrevivência

Assim como na travessia no navio, trabalhar acaba sendo a melhor maneira de passar o tempo na isolada ilha. Cada militar desempenha uma função na base, como carpinteiro, eletricista, hidrógrafo, cozinheiro, mecânico, metalúrgico e médico, entre outras.

O uniforme básico de trabalho é shorts, camiseta e tênis. O horário de serviço vai das 6h30 às 15h30. Depois deste horário, eles estão livres para aproveitarem as belezas locais, e são liberados para caminhar pelas trilhas, fazer mergulhos no mar, pesca, atividades esportivas e pintura.

Os marinheiros novos aprendem a produzir quadros pintados com cola e areia da própria ilha, com a guarnição que já estava em Trindade. Também há na base um campo de futebol, uma quadra poliesportiva, mesa de pingue-pongue e até uma pequena piscina.

A água da ilha vem de uma nascente formada pelas chuvas, que é guardada em um reservatório, pois não existem rios e riachos para abastecer o Poit.

Além da água, todo o mantimento é guardado. Aproximadamente 2 toneladas de alimentos são descarregadas do navio, a cada dois meses. Os únicos alimentos que são extraídos da própria ilha são ovos, de alguns patos e galinhas domésticas, e é claro, peixes e caranguejos.

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Erick e as caixas de isotônico que levou
para passar dois meses em Trindade

Os marinheiros costumam levar algumas guloseimas na bagagem para complementar a alimentação.

São chocolates, doces e alguns exageros, como o do sargento Erick Halt da Costa, em Trindade pela terceira vez, que encaixotou 72 garrafas de Gatorade (bebida isotônica) para consumir durante sua estadia no local.

Visitas raras

A rotina do isolamento só é quebrada com algumas visitas autorizadas pela Marinha.

Biólogos, botânicos e geólogos costumam ficar na ilha para realização de pesquisas. Equipes de reportagens também conseguem autorização para conhecer a riqueza da ilha.

A época mais movimentada, no entanto, é entre os meses de janeiro e fevereiro, quando é realizada a regata Vitória-Trindade-Vitória, e as águas próximas da ilha recebem vários velejadores. Entre velejadores e pesquisadores, algumas vezes o local é visitado por pessoas ilustres, como a Família Schurmmann, que deixou um recado e uma foto no livro de visitas da Ilha da Trindade.

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