Guia mineiro vai percorrer quatro rotas religiosas a pé

JORGE BLAT
da Folha Online

O mineiro Claudio Luiz de Carvalho Leão, 35, parte em 1º de dezembro próximo para a Espanha, para concretizar um projeto de dez anos. A pé, Leão, vai percorrer, a partir de 1º de maio de 2001, as quatro rotas de peregrinação mais famosas do Ocidente: Santiago de Compostela (Espanha), Roma (Itália), Jerusalém (Israel) e Meca (Arábia Saudita), com passagem pelo Cairo (Egito).

A viagem terá início nas montanhas dos Pirineus espanhóis e terminará em algum povoado próximo a Meca, ou na própria Meca, se for concedido o acesso à cidade, já que o governo saudita tem proibido a entrada a quem não pratica a religião islâmica.

A Folha Online vai acompanhar a caminhada de Leão pelas quatro rotas religiosas a partir de 1º de maio de 2001. O viajante enviará relatos dos lugares percorridos e fotografias.

O plano prevê a interligação das quatro rotas. Leão planeja percorrer os 8.700 km em 500 dias. Para evitar de ter de enfrentar dois invernos rigorosos no Hemisfério Norte, Leão escolheu começar a caminhada em maio próximo. Assim, ele passará por apenas um inverno. Nesse período, entre dezembro de 2001 e janeiro de 2002, o viajante vai interromper a caminhada, na Áustria, onde pretende aproveitar para tratar da legalização de vistos para entrar nos países do Oriente Médio, principalmente em Israel e na Arábia Saudita.

Preparação
A estratégia do percurso será caminhar de quatro a seis horas diariamente, durante cinco dias, e descansar um. Leão deve levar consigo uma mochila com no máximo 15 kg, que inclui roupas, calçados, objetos de uso e higiene pessoais, lanche, laptop, máquina fotográfica, mapas, documentos, diário de viagem e um cajado. Para os pés, Leão vai usar sandálias abertas nos dias quentes e secos e botas para os dias frios e úmidos.

Como prova de sua passagem pelas diversas regiões, ao chegar em cada localidade Leão vai procurar autoridades municipais ou religiosas para assinarem o seu livro de viagem.

Quanto a alimentação, há seis meses Leão faz uma preparação especial com a ajuda de uma nutricionista. Ele já segue o regime alimentar que vai adotar durante a peregrinação, que consiste em fazer as refeições normais do dia, sendo a última até as 18h. Depois, Leão só volta a se alimentar na manhã seguinte. A alimentação, balanceada, tem como base pães, queijos, frutas, chocolates, carnes grelhadas e vegetais crus. Nos dias de descanso, Leão vai deixar de lado o rigor da dieta e pretende degustar a culinária local.

Apesar do planejamento, Leão afirma que está preparado para comer o que tiver no momento, principalmente em localidades dos países islâmicos, onde a culinária é bastante diferente da ocidental.

Leão pretende dormir em albergues, mas como não há existência deles em todos os locais por onde irá passar, ele vem tentando por meio da Cúria Metropolitana de Belo Horizonte autorização para estadias em igrejas, monastérios e centros religiosos.

Além de praticar o idioma, a ida antecipada à Espanha visa definir os últimos detalhes do roteiro na Europa.

Adiamento
O projeto de Leão já foi adiado por duas vezes. Em 1990, então com 25 anos, o viajante estava pronto para embarcar para a Europa, mas em janeiro daquele ano houve a deflagração da Guerra do Golfo. A instabilidade política e social desencadeada pelo conflito foi decisiva para o adiamento da viagem. Em 1992, Leão viu o sonho ser postergado outra vez por outro conflito. A insegurança gerada pela guerra civil da Iugoslávia, por onde ele iria caminhar, impediu que partisse.

Essa insegurança mais a falta de experiência em viagens internacionais, a solidão e os idiomas são as maiores preocupações e desafios de Leão, que fala um pouco de inglês e vem praticando o espanhol. No Leste Europeu, por exemplo, Leão poderá ter dificuldade na Hungria e na Bulgária, países onde predominam línguas eslavas, e na Romênia. Mas até lá, com a vivência adquirida por um ano de estada na Europa, Leão acredita que este será o menor dos problemas.

Na esteira do sonho, Leão criou, em 1994, em Belo Horizonte, uma empresa no ramo de turismo ecológico, na qual se especializou em roteiros de caminhada, principalmente pelos parques de Minas Gerais e outros Estados. Por conta dessa experiência, o andarilho Leão se considera fisicamente preparado para a empreitada.