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24/08/2001 - 18h03

Análise: Greve de caubóis é importante para a história do rodeio

ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha

Há 46 anos, a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos (SP), a maior do gênero do país, que chega a reunir, dizem seus organizadores, 1 milhão de pessoas em dez dias de evento (na verdade não existe controle sério sobre o número), sempre sustentou em seu símbolo o caubói.

A própria história do evento tem como origem a figura simples, humilde, desses homens que conduziam gado das mais diferentes regiões do país e acabavam montando sobre os animais para fugir da rotina e do cansaço de longas viagens país afora.

Estrela maior da festa barretense, o peão, ou, como gostam de chamar os organizadores das montarias, o "profissional de rodeio", nunca foi profissional.

A exceção mais prestigiada é Adriano Moraes, que sempre se lixou para Barretos e preferiu fazer fortuna na terra do caubói, nos EUA, onde já ganhou mais de US$ 1 milhão.

A premiação "milionária" distribuída em Barretos é uma grande fantasia. Neste ano, por exemplo, o total de prêmios é de R$ 400 mil. Detalhe: o montante é repartido para cerca de 200 peões. Na modalidade touro, a principal, o prêmio é de, no máximo, R$ 20 mil.

Peão brasileiro sempre foi instrumento de manobra e interesse dos organizadores dos rodeios. Pouquíssimos ganharam ou ganham realmente fortunas em montarias.

A maioria das provas que acontece pelo interior do país é feita com cartas marcadas, escolhidas pelos próprios organizadores. O critério de avaliação, dos tais oito segundos sobre o dorso do animal, é totalmente questionável.

A promiscuidade nesse tipo de "esporte", como querem ver o rodeio intitulado, é assustadora.

A maior parte dos rodeios do Brasil é organizada por grupos, panelinhas que envolvem juízes de provas, donos de animais, locutores, todos "amigos" que dividem o bolo do lucro. Se sobrar, vai alguma coisa para o peão.

Há cerca de seis anos, tentaram dar um pouco de seriedade ao rodeio brasileiro, criando a FNRC (Federação Nacional do Rodeio Completo), plagiando um modelo de sucesso que funciona nos EUA, com oito tipos de prova, em diferentes cidades, com um ranking dos melhores caubóis.

No mundo empoeirado do rodeio brasileiro, nunca funcionou direito. A federação sempre foi marcada por intrigas internas, disputas de poder, além de gafes históricas.

A pior delas, numa das etapas da FNRC, no ano passado, aconteceu em Adamantina. Os organizadores sumiram com a premiação dos caubóis numa das principais etapas da federação. Depois do fiasco, foram expulsos e hoje há pelos menos cinco processos na Justiça atrás de prejuízos e pelo uso indevido de marcas.

A ameaça de paralisação dos peões em Barretos é a manifestação country mais importante da história do rodeio brasileiro. A idéia da greve partiu dos competidores de provas cronometradas (como laço em dupla, bezerro, bulldog e tambor), gente elitizada, a maioria fazendeiro, consciente, com dinheiro para manter os equipamentos necessários para as provas.

Eles querem garantir uma premiação mínima para as provas de bulldog, que possui poucos competidores e que, portanto, rende pouca taxa de inscrição. Pleiteiam R$ 10 mil por prova; os "Independentes" prometiam R$ 10 mil para todas as provas cronometradas. Daí, o impasse.

Pena que a ameaça de greve não vingou e não seduziu os verdadeiros astros da festa: os caubóis de touro e cavalo. Se persistisse, ela iria provocar mudanças nas estruturas viciadas do rodeio, onde o caubói brilha somente nos tombos que leva na arena.

A grande maioria dos peões é formada por gente simples, que não conseguiu estudar nem um emprego que lhe rendesse uma renda mínima. Parte então à procura da fama, como em todo o país, que menino não sonha brilhar na seleção brasileira de futebol? No interior de São Paulo, parte de Minas, Mato Grosso e Goiás, essa molecada ligada à vida rural sonha em brilhar em Barretos.

Esta 46ª Festa do Peão de Boiadeiro é decisiva para o rodeio brasileiro resolver um impasse: ou se transforma em algo realmente profissional, digno de seriedade, ou continua a brincadeira de montaria, com palhaços salva-vidas sob os aplausos do público, que não sabem o motivo pelo qual estão aplaudindo, pois não entendem as regras básicas do rodeio. Segura seu dinheiro, peão!

Leia mais:

  • Peões suspendem provas do rodeio internacional de Barretos


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