27/01/2003 - 05h28

Competição anual por ovo rendia virgens

da Folha de S.Paulo, na Ilha de Páscoa

Os rapanuis costumavam dizer que a ilha era "Te Pito O Te Henua" (o umbigo da Terra). Não havia grandes animais, com exceção de certos pássaros marinhos chamados "manu tara" (pássaro da prosperidade), que, ainda hoje, se concentram em um único ponto, Motu Nui, uma pequena ilha a cerca de 500 m da costa.

Os diversos clãs competiam uma vez por ano para obter um ovo do "manu tara". Os atletas, um escolhido por cada clã, desciam uma rocha de 300 m até o mar. Nadavam, entre correntezas e tubarões, até Motu Nui, agarravam os ovos e os colocavam num bolso de fibra vegetal que era segurado na testa e voltavam pelo mar. Escalavam a rocha e precisavam entregar os ovos intactos.

Homem-pássaro
O vencedor era nomeado Tangata Manu (homem-pássaro) e seu clã passava a ter uma autoridade que interagia com a do rei por um ano, como se fosse uma monarquia parlamentar, até a competição seguinte.

O Tangata Manu ainda recebia três virgens que, para ficarem brancas, passavam meses em uma gruta baixa e úmida (a beleza sempre teve seu custo). Além de brancas, as virgens precisavam ser cultas e possuir conhecimentos sobre a história da ilha.

A última cerimônia teria acontecido em 1876, quando missionários católicos proibiram o ritual.

Os pássaros fazem parte do imaginário e inspiraram belas canções, como esta: "Se fosse pássaro/ Ave minha, te levaria/ Onde nada nos viesse, leves,/ Com teu corpo junto a mim/ És como uma ave/ Querida que voa/ Enquanto teus olhos olham em silên- cio".