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26/05/2003
-
08h01
do enviado especial da Folha de S.Paulo à África do Sul
Sumaya Khan veste calça e jaqueta de veludo cáqui. Loira, alta, olhos azuis, é o tipo de mulher branca que não é difícil de se encontrar na Cidade do Cabo. Inglesa, foi para a África do Sul durante o apartheid.
Apaixonou-se por um indiano. Casou-se no religioso, por conta da lei que proibia casamentos mistos. Seu marido não podia ficar na área reservada aos brancos. Foram para uma "township", de onde amigos sumiram e outros a evitavam.
Em 1990, as leis de discriminação racial começaram a ser revogadas. Seis anos depois, veio a Declaração de Direitos. Sumaya, o marido e os dois filhos viraram uma família à moda da nova realidade sul-africana.
O clima de exultante estupor que reina no país pode ser visto, às sextas, no Mama África, na Cidade do Cabo. Brancos e negros dançam a música polirítmica e namoram com um orgulho que, por si só, vale a visita. "Há uma harmonia", diz Sumaya, "difícil em outras partes do mundo".
Essa convivência representa o fim de conflitos mais antigos do que o apartheid. Holandeses, franceses, ingleses, khoinas, zulus, xhosas e outras tribos combateram entre si, desde o século 17, por territórios e riquezas. Nessa terra, portugueses passaram pelo Cabo -primeiro em 1488 e, depois, com Vasco de Gama, a caminho da Índia- sem ficar por ali.
Camões cita a região na obra "Os Lusíadas", no trecho em que o Gigante Adamastor representa o Cabo: "Eu sou aquele oculto e grande Cabo/ A quem chamais vós outros Tormentório,/ (...) Aqui toda a Africana costa acabo/ Neste meu nunca visto Promontório,/ (...) A quem vossa ousadia tanto ofende".
Foram os holandeses que construíram o primeiro forte e chamaram o cabo de "Boa Esperança", em 1652. Depois chegaram os huguenotes. Após a Revolução Francesa, vieram os ingleses. Indonésios eram trazidos como escravos e, com as tribos, o amálgama sul-africano começava a se formar.
O apartheid surgiu quando, no século 20, os negros viraram maioria nas cidades. Logo após a Segunda Guerra Mundial, os brancos ficaram com medo. O resto da história é conhecido. Exílio, torturas, reprovação internacional, boicote econômico, a liberação de Nelson Mandela após 27 anos de prisão, as primeiras eleições democráticas, em 1994, Mandela presidente e o Prêmio Nobel da Paz conferido a Mandela e a De Klerk em 1993.
Curiosidades: no final do século 19, Mahatma Gandhi advogou em Durban; em 1967, na Cidade do Cabo, Christiaan Barnard transplantou um coração pela primeira vez na história.
Hoje, o país parece o Brasil. Apesar dos recursos naturais e da tecnologia, as dificuldades não faltam. O desemprego cria filas, a distância entre ricos e pobres aumenta, e os negros não possuem educação nem renda adequadas. Como no Brasil, a maior riqueza é a diversidade racial e cultural.
As preferências sexuais são defendidas pela Constituição sul-africana, a única do mundo a transformar tolerância em aceitação: os homossexuais são respeitados e têm seus roteiros.
Mas há outros motivos para ir à África do Sul: o resto da natureza. Há safáris fotográficos, rotas ornitológicas, botânicas, marinhas e astronômicas.
Mais um incentivo para ir à África do Sul: com o câmbio, o custo da vida e da comida é mais baixo do que no Brasil.
Vincenzo Scarpellini viajou a convite do Escritório de Turismo da África do Sul e da South African Airways
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VINCENZO SCARPELLINIdo enviado especial da Folha de S.Paulo à África do Sul
Sumaya Khan veste calça e jaqueta de veludo cáqui. Loira, alta, olhos azuis, é o tipo de mulher branca que não é difícil de se encontrar na Cidade do Cabo. Inglesa, foi para a África do Sul durante o apartheid.
Apaixonou-se por um indiano. Casou-se no religioso, por conta da lei que proibia casamentos mistos. Seu marido não podia ficar na área reservada aos brancos. Foram para uma "township", de onde amigos sumiram e outros a evitavam.
Gabriela Romeu/Folha Imagem |
Voltada para o mar, Cidade do Cabo parece o Rio de Janeiro |
Em 1990, as leis de discriminação racial começaram a ser revogadas. Seis anos depois, veio a Declaração de Direitos. Sumaya, o marido e os dois filhos viraram uma família à moda da nova realidade sul-africana.
O clima de exultante estupor que reina no país pode ser visto, às sextas, no Mama África, na Cidade do Cabo. Brancos e negros dançam a música polirítmica e namoram com um orgulho que, por si só, vale a visita. "Há uma harmonia", diz Sumaya, "difícil em outras partes do mundo".
Essa convivência representa o fim de conflitos mais antigos do que o apartheid. Holandeses, franceses, ingleses, khoinas, zulus, xhosas e outras tribos combateram entre si, desde o século 17, por territórios e riquezas. Nessa terra, portugueses passaram pelo Cabo -primeiro em 1488 e, depois, com Vasco de Gama, a caminho da Índia- sem ficar por ali.
Camões cita a região na obra "Os Lusíadas", no trecho em que o Gigante Adamastor representa o Cabo: "Eu sou aquele oculto e grande Cabo/ A quem chamais vós outros Tormentório,/ (...) Aqui toda a Africana costa acabo/ Neste meu nunca visto Promontório,/ (...) A quem vossa ousadia tanto ofende".
Foram os holandeses que construíram o primeiro forte e chamaram o cabo de "Boa Esperança", em 1652. Depois chegaram os huguenotes. Após a Revolução Francesa, vieram os ingleses. Indonésios eram trazidos como escravos e, com as tribos, o amálgama sul-africano começava a se formar.
O apartheid surgiu quando, no século 20, os negros viraram maioria nas cidades. Logo após a Segunda Guerra Mundial, os brancos ficaram com medo. O resto da história é conhecido. Exílio, torturas, reprovação internacional, boicote econômico, a liberação de Nelson Mandela após 27 anos de prisão, as primeiras eleições democráticas, em 1994, Mandela presidente e o Prêmio Nobel da Paz conferido a Mandela e a De Klerk em 1993.
Curiosidades: no final do século 19, Mahatma Gandhi advogou em Durban; em 1967, na Cidade do Cabo, Christiaan Barnard transplantou um coração pela primeira vez na história.
Hoje, o país parece o Brasil. Apesar dos recursos naturais e da tecnologia, as dificuldades não faltam. O desemprego cria filas, a distância entre ricos e pobres aumenta, e os negros não possuem educação nem renda adequadas. Como no Brasil, a maior riqueza é a diversidade racial e cultural.
As preferências sexuais são defendidas pela Constituição sul-africana, a única do mundo a transformar tolerância em aceitação: os homossexuais são respeitados e têm seus roteiros.
Mas há outros motivos para ir à África do Sul: o resto da natureza. Há safáris fotográficos, rotas ornitológicas, botânicas, marinhas e astronômicas.
Mais um incentivo para ir à África do Sul: com o câmbio, o custo da vida e da comida é mais baixo do que no Brasil.
Vincenzo Scarpellini viajou a convite do Escritório de Turismo da África do Sul e da South African Airways
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