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30/06/2003
-
03h50
Enviado especial da Folha de S.Paulo à Ligúria
Renzo Piano, 63, foi o arquiteto escolhido para reurbanizar a área portuária de Gênova, em 1992, quando o mundo comemorava os 500 anos da descoberta da América. O projeto tirou do local o aspecto "dark". De lá para cá, os becos onde mascates do norte da África se misturavam a prostitutas de todo o mundo viraram um local limpo e aprazível.
Os prédios projetados no porto por Renzo Piano espraiaram por toda a cidade uma onda de renovação sem precedentes na história das cidades européias.
Nascido em Gênova, Piano notabilizou-se mundialmente quando projetou, com o inglês Richard Rogers, o polêmico Centro Georges Pompidou, de Paris, também chamado de Beaubourg. Imenso museu-maravilha dos anos 70, "monstro com as entranhas para fora", como dizem seus detratores, o Beaubourg pôs abaixo o mercado Les Halles em 1969, o que também desagradou a muitas pessoas, e foi construído entre 1971 e 1977.
Outra obra de Piano, o aeroporto de Kansai, construído em 1994 sobre uma ilha artificial em Osaka, mostra o arrojo técnico desse genovês.
Soberboso
Andrea Doria capitaneou Gênova à condição de uma república independente tão rica que foi alcunhada de "La Superba" (A Soberba). Nascido em Onegila, em 1498, misturando as qualidades de guerreiro e de homem de negócios, Doria foi um estadista que empreendeu duas dezenas de batalhas, servindo à Itália e à França, e que, afinal, foi cognominado "O Pai da Paz".
Antes dele a expansão genovesa, que advinha de sua participação nas cruzadas e no combate às invasões mouras, vivia momentos adversos.
Gênova, que tinha adversários em Pisa e Veneza, havia criado a Banca di San Giorgio, que em 1408 inventara o sistema de letras de câmbio, mas vivia dificuldades internas causadas pela rixa entre as famílias aristocráticas. Com a descoberta do caminho para as Índias bordejando o continente africano, a decadência tomou conta da economia genovesa.
Foi o pulso firme de Andrea Doria, que morreu em 1560 não sem antes ter recuperado "La Superba", que ajudou a manter uma república independente por mais dois séculos, até cair sob Napoleão Bonaparte e ser, depois, anexada pela Sardenha.
Apátrida
Normalmente as biografias de Cristóvão Colombo registram que ele nasceu em Gênova, em 1451, e que começou cedo nas lides do mar, aos 14 anos, embora fosse filho de tecelões.
Mas nem tudo é pacífico na vida desse navegador que, sem saber, atravessou o Atlântico para descobrir a América, em 1492.
Colombo, cujo nome em italiano é Cristofaro, pode ter tido o sobrenome Colón, ou Colom. Há quem desconfie da origem genovesa, quem diga que a família tinha origem judaica e mesmo quem ache que o navegador nasceu na ilha da Madeira (teria sido português) ou na Espanha.
A celeuma é antiga, como também não se sabe ao certo onde ele está sepultado realmente.
Mas pelo menos essa polêmica, a da autenticidade do corpo, pode ser decidida proximamente, com um controvertido exame de DNA. Sevilha, na Espanha, e Santo Domingo, no Caribe, estão em litígio: onde estaria a verdadeiro túmulo de Colombo?
A agência noticiosa Reuters anunciou recentemente que pesquisadores espanhóis abriram uma tumba de bronze em Sevilha para comparar os supostos restos mortais de Colombo com os de seus descentes inequívocos, como o filho Hernando.
No ano passado, o mesmo havia sido feito com os despojos de Diego Colombo, irmão do navegador, sacerdote morto em 1515 e também enterrado em Sevilha.
Colombo, é certo, morreu em Valladolid, na Espanha, em 1506, e seu desejo era o de ser enterrado na ilha de Hispaniola, hoje dividida pelos territórios da República Dominicana e do Haiti.
Mas o corpo foi eventualmente trasladado para Cuba, em 1795, e depois para Sevilha, em 1898.
No final do século 20, uma urna com o nome de Colombo foi achada no interior da catedral de Santo Domingo, reacendendo a chama da polêmica.
O que se sabe é que ele apresentou seu projeto de viagem à Coroa portuguesa, em 1484, sem sucesso. Em 1486, os reis Fernando 2º e Isabel de Castela tomaram ciência dos seus planos. A viagem ocorreria só seis anos mais tarde.
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SILVIO CIOFFIEnviado especial da Folha de S.Paulo à Ligúria
Renzo Piano, 63, foi o arquiteto escolhido para reurbanizar a área portuária de Gênova, em 1992, quando o mundo comemorava os 500 anos da descoberta da América. O projeto tirou do local o aspecto "dark". De lá para cá, os becos onde mascates do norte da África se misturavam a prostitutas de todo o mundo viraram um local limpo e aprazível.
Reprodução |
Afresco de Giovan Battista Carlone, exposto no palazzo Ducale, mostra como teria sido Colombo |
Os prédios projetados no porto por Renzo Piano espraiaram por toda a cidade uma onda de renovação sem precedentes na história das cidades européias.
Nascido em Gênova, Piano notabilizou-se mundialmente quando projetou, com o inglês Richard Rogers, o polêmico Centro Georges Pompidou, de Paris, também chamado de Beaubourg. Imenso museu-maravilha dos anos 70, "monstro com as entranhas para fora", como dizem seus detratores, o Beaubourg pôs abaixo o mercado Les Halles em 1969, o que também desagradou a muitas pessoas, e foi construído entre 1971 e 1977.
Outra obra de Piano, o aeroporto de Kansai, construído em 1994 sobre uma ilha artificial em Osaka, mostra o arrojo técnico desse genovês.
Soberboso
Andrea Doria capitaneou Gênova à condição de uma república independente tão rica que foi alcunhada de "La Superba" (A Soberba). Nascido em Onegila, em 1498, misturando as qualidades de guerreiro e de homem de negócios, Doria foi um estadista que empreendeu duas dezenas de batalhas, servindo à Itália e à França, e que, afinal, foi cognominado "O Pai da Paz".
Antes dele a expansão genovesa, que advinha de sua participação nas cruzadas e no combate às invasões mouras, vivia momentos adversos.
Gênova, que tinha adversários em Pisa e Veneza, havia criado a Banca di San Giorgio, que em 1408 inventara o sistema de letras de câmbio, mas vivia dificuldades internas causadas pela rixa entre as famílias aristocráticas. Com a descoberta do caminho para as Índias bordejando o continente africano, a decadência tomou conta da economia genovesa.
Foi o pulso firme de Andrea Doria, que morreu em 1560 não sem antes ter recuperado "La Superba", que ajudou a manter uma república independente por mais dois séculos, até cair sob Napoleão Bonaparte e ser, depois, anexada pela Sardenha.
Apátrida
Normalmente as biografias de Cristóvão Colombo registram que ele nasceu em Gênova, em 1451, e que começou cedo nas lides do mar, aos 14 anos, embora fosse filho de tecelões.
Mas nem tudo é pacífico na vida desse navegador que, sem saber, atravessou o Atlântico para descobrir a América, em 1492.
Colombo, cujo nome em italiano é Cristofaro, pode ter tido o sobrenome Colón, ou Colom. Há quem desconfie da origem genovesa, quem diga que a família tinha origem judaica e mesmo quem ache que o navegador nasceu na ilha da Madeira (teria sido português) ou na Espanha.
A celeuma é antiga, como também não se sabe ao certo onde ele está sepultado realmente.
Mas pelo menos essa polêmica, a da autenticidade do corpo, pode ser decidida proximamente, com um controvertido exame de DNA. Sevilha, na Espanha, e Santo Domingo, no Caribe, estão em litígio: onde estaria a verdadeiro túmulo de Colombo?
A agência noticiosa Reuters anunciou recentemente que pesquisadores espanhóis abriram uma tumba de bronze em Sevilha para comparar os supostos restos mortais de Colombo com os de seus descentes inequívocos, como o filho Hernando.
No ano passado, o mesmo havia sido feito com os despojos de Diego Colombo, irmão do navegador, sacerdote morto em 1515 e também enterrado em Sevilha.
Colombo, é certo, morreu em Valladolid, na Espanha, em 1506, e seu desejo era o de ser enterrado na ilha de Hispaniola, hoje dividida pelos territórios da República Dominicana e do Haiti.
Mas o corpo foi eventualmente trasladado para Cuba, em 1795, e depois para Sevilha, em 1898.
No final do século 20, uma urna com o nome de Colombo foi achada no interior da catedral de Santo Domingo, reacendendo a chama da polêmica.
O que se sabe é que ele apresentou seu projeto de viagem à Coroa portuguesa, em 1484, sem sucesso. Em 1486, os reis Fernando 2º e Isabel de Castela tomaram ciência dos seus planos. A viagem ocorreria só seis anos mais tarde.
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