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14/07/2003 - 05h34

"Portunhol" é eficiente na Galícia

OSCAR PILAGALLO
do enviado especial da Folha de S.Paulo ao norte da Espanha

Esqueça a intensidade das touradas, o modernismo de Gaudí, as altas temperaturas do Mediterrâneo, a agitação da vida madrilena. Galícia e Astúrias, no noroeste da península Ibérica, são o outro lado da Espanha, o lado menos conhecido pelo visitante estrangeiro, uma região em que a topografia é o destino.

Oscar Pilagallo/Folha Imagem
Torre de Hércules, marca da cidade de La Coruña, na Galícia



Isoladas entre as montanhas e o mar bravio, as duas regiões desenvolveram vocação para a autonomia e tiveram condições de preservar identidades próprias, o que pode ser percebido na história, na economia, na arquitetura, nas artes e até nas línguas.

Embora haja predominância da presença medieval, como na maior parte da Espanha, a paisagem da Galícia e de Astúrias é influenciada também pela cultura celta. Lendas, rituais, magias e uma parte do vocabulário local remetem o turista de hoje a esse povo de origem indo-européia que dominou a região desde o segundo milênio antes de Cristo até o Império Romano esticar suas fronteiras ao "fim da terra", o cabo Finnesterre, o ponto mais ocidental da Espanha.

A confluência de culturas remotas cria um ambiente único. É possível, por exemplo, contemplar a catedral de Santiago de Compostela, um dos mais importantes santuários católicos do mundo, ao som da tradicional gaita de fole, instrumento típico dos povos adoradores de pedras em templos encantados.

Não há sincretismo de cultos, como no Brasil, mas uma sobreposição que impregna os caminhos salpicados de cruzes cristãs e de dólmenes neolíticos.

O brasileiro não demora para começar a se sentir em casa na Galícia. Se o castelhano nunca foi uma barreira para o turista do Brasil, o galego, a língua oficial desta nacionalidade histórica, é uma ponte que leva ao português.

O inevitável "portunhol" ganha eficiência na Galícia. Compre um exemplar do jornal "Galicia Hoxe", por um euro, e veja como é grande a semelhança linguística. Troque o jota pelo xis ("hoxe" em vez de "hoje") e terá vencido uma das principais distâncias fonéticas entre o galego e o português.

Antes de fazer as malas, porém, o turista deve se lembrar de que o noroeste do país, banhado pelo oceano Atlântico, e o norte, que dá para o mar Cantábrico, estão emergindo de uma catástrofe "ecolóxica" provocada pelo naufrágio do petroleiro Prestige, em novembro do ano passado.

No local que traz uma advertência no próprio nome --a costa da Morte--, a embarcação se acidentou, partindo-se em duas, e deixou vazar milhares de toneladas de petróleo a mais de 200 quilômetros do litoral da Galícia. Levada pela maré, a mancha negra atingiu muitas praias da região, ameaçando a diversificada fauna marinha, base da elogiada gastronomia galega e asturiana.

As consequências do desastre ainda ocupam lugar de destaque na pauta nacional (leia abaixo). No final de junho, o rei Juan Carlos esteve na região para acompanhar os trabalhos de limpeza, que, em algumas praias, precisa ser feito até duas vezes por dia. O programa de recuperação da área consumiu, em seis meses, cerca de 700 milhões de euros, o que ambientalistas e oposicionistas consideram insuficiente.

Em janelas de casas e vitrines das lojas vê-se afixado, com frequência, um cartaz com o dizer "Nunca Máis". Trata-se da parte mais visível de um amplo movimento popular que pressiona o governo por uma ação ecológica mais efetiva. Em julho, quando a pesca foi retomada na costa da Morte, o grupo ambientalista distribuiu cartazes alertando a população para os perigos da poluição.

O consumo de peixes e de frutos do mar não diminuiu, segundo a Associação Comercial de Codificação Comercial, que divulgou um estudo segundo o qual o consumidor, apesar do vazamento de petróleo, manteve a confiança nos mariscos. Em um giro pelas duas regiões, um grupo de jornalistas brasileiros pôde constatar que os restaurantes continuam servindo polvo, lula, lagosta, enguia, mexilhões e crustáceos.

Para não correr o risco de se decepcionar, o visitante brasileiro também precisa levar em conta a intempérie. O fato é que chove muito na região, e, não por outro motivo, Galícia e Astúrias são conhecidas como a "Espanha Verde". Em julho, no verão, a média mensal é superior a 50 milímetros, enquanto em cidades do Mediterrâneo praticamente não chove.

Mas não se deve desanimar: um dia de chuva aparentemente sem fim pode
terminar com um irisante pôr-do-sol depois das dez horas da noite.

Feitas as ressalvas, uma boa notícia: Galícia e Astúrias são regiões relativamente baratas. Hotéis e restaurantes custam menos do que nas regiões mais visitadas da Espanha. Uma comparação mais precisa pode ser arriscada, porque é difícil precisar equivalência entre estabelecimentos, mas a população local estima uma diferença de 20% a 30% nos preços.

Isso se dá, em parte, pelo fato de o turismo galego e asturiano estar voltado, sobretudo, para o visitante espanhol. Para quem prefere o regional ao globalizado, trata-se de uma vantagem adicional.

Oscar Pilagallo viajou a convite do Centro Oficial de Turismo Espanhol (SP), da Tour Galícia, da Sociedade Regional de Turismo do Principado de Astúrias e da Ibéria Linhas Aéreas.


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