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27/03/2008 - 09h12

Capital libanesa intensifica vida cultural

PAULO DANIEL FARAH
Enviado especial da Folha de S.Paulo ao Líbano

Concertos, exposições, apresentações de música e dança em universidades, teatros e centros culturais, colóquios sobre a história antiga e contemporânea do Líbano...

As opções de programas culturais em Beirute, nomeada Capital Mundial do Livro em 2009 pela Unesco, vêm se ampliando a cada dia.

Museus privados e públicos apresentam coleções renovadas e acompanhadas de debates. O Museu Nacional de Beirute foi totalmente reformado e inaugurou novos espaços.

"O museu estava localizado na linha de demarcação da guerra e, a princípio, foi apenas fechado, pois acreditávamos que os conflitos terminariam logo, não imaginávamos que durariam 15 anos [1975-1990]", afirma Suzy Hakimian, curadora do museu Nacional.

"Depois, quando os combates passaram a atingir o museu, a direção geral de antiguidades decidiu retirar as peças pequenas e colocar as obras grandes dentro de blocos de concreto para protegê-las. Assim permaneceram por anos, até a reabertura", completa.

Entre as obras expostas, destaca-se o sarcófago de Ahiram, testemunho do alfabeto fenício, origem de todos os alfabetos lineares conhecidos utilizados no mundo.

Escrito da direita para a esquerda, escrevia o fenício, língua semítica, e inspirou o aramaico, o hebraico, o siríaco, o árabe, o grego, o latim, e línguas como português, espanhol, francês, inglês, alemão etc.

Ao longo do primeiro milênio a.C., o alfabeto foi utilizado para escrever línguas aparentadas, como o aramaico. No século 8º a.C., os gregos adotaram o alfabeto fenício, já com algumas modificações. Daí em diante, o alfabeto começou a se espalhar mundo afora.

Primeira inscrição

Existem algumas inscrições breves com letras fenícias dos séculos 11 e 12 a.C., especialmente em pontas de lanças de bronze, mas a primeira inscrição fenícia ampla que foi descoberta até hoje está no sarcófago de Ahiram, rei de Biblos que viveu no século 10 a.C.

A escrita encontrada data de aproximadamente 1.000 a.C. e contém 19 das 22 letras do alfabeto fenício.

"Túmulo que Ittobaal, filho de Ahiram, rei de Gubal [nome em fenício de Biblos, que em árabe se chama Jbeil], feito para Ahiram, seu pai, quando o colocou [neste local] para repousar eternamente. Se algum rei, governador ou comandante de um Exército levantar-se contra Gubal e abrir este túmulo, que o cetro de seu domínio se despedace, que o trono de seu reino seja deposto, e que a paz se afaste de Gubal. Quanto a ele, que sua inscrição seja apagada da face de Gubal", afirma a inscrição do túmulo.

Outras atrações

Recomenda-se visitar também o museu Robert Mawwad, uma casa tradicional libanesa próxima ao palácio do governo que foi comprada pela família Mawwad e transformada em museu. O local possui um jardim com fonte, árvores nativas e colunas de períodos diversos.

O museu Sursock faz exposições de arte variadas, mas não apresenta nenhuma coleção permanente. Antes de ir ao local, é bom verificar se há alguma exposição no momento.

Chamam a atenção pelo bom gosto a casa e o jardim, onde há uma estátua que costumava ficar na praça dos Mártires e que representa mulheres chorando mortos em conflitos.

Festivais de arte na capital e em outras cidades são uma tradição no Líbano que remonta à época em que Beirute era conhecida como a Paris do Oriente Médio, nos anos 50 e 60.

Nos últimos anos, procuraram manter a tradição, mas nem sempre isso foi possível. "Tivemos de cancelar o festival Al Bustan, dedicado à música clássica, no inverno, por causa dos ataques israelenses em 2006. Mas, neste ano, estamos retomando com o tema "Além das Fronteiras" e com artistas de Rússia, Bulgária e França, entre outros", diz Samar Moukheiber Adaimi, administradora desse festival.

Andrée Daouk, organizadora do festival de Beiteddine, explica que "a cada ano ele era um desafio durante os eventos. Apesar de tudo, dos bombardeios, tentávamos organizar os festivais. Vocês têm algo no Brasil que nós também temos, o sol. E, quando se vê o céu, há esperança de viver."

Daouk era responsável pelo "Mardi Club", reuniões semanais que promoviam a cultura em Beirute na época dos conflitos. "A cultura não tem fronteiras. É mais forte que e-mail, MSN. É uma troca para a vida toda, e, quando não a partilhamos, tornamo-nos estéreis."

No final de semana, um dos programas preferidos dos beirutenses é caminhar no Corniche, a avenida à beira-mar. Pode-se parar para apreciar uma formação rochosa no mar que já serviu de inspiração para poemas e músicas.

À noite, a região próxima à praça dos Mártires concentra restaurantes e bares com propostas, sabores e valores diversificados. E a vida noturna em Beirute também oferece opções para gostos variados.

PAULO DANIEL FARAH é professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

 

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