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28/06/2004
-
03h17
Correr com os pés montados na história é a grande atração da Maratona de Atenas. O percurso é o mesmo dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, que os melhores corredores do mundo percorrerão em agosto.
A corrida começa no estádio de Maratona, onde atenienses e persas se enfrentaram em 490 a.C. na batalha que mudou a história. Não se pode saber como seria o mundo hoje se os persas --que então contavam com mais armas e mais soldados-- tivessem vencido, mas é lícito acreditar que dificilmente floresceriam a arte, a literatura, a filosofia e a política gregas, base da cultura ocidental.
Talvez para sua própria surpresa, os atenienses venceram. O comandante Miltíades mandou um soldado até Atenas para dar a notícia. Superequipado, ele correu os cerca de 42 quilômetros até a capital, deu a boa nova e morreu.
Sua façanha entrou para a história e, mais de dois mil anos depois, foi lembrada quando estavam sendo organizados os primeiros jogos da Era Moderna.
Em homenagem ao feito do soldado grego --Fidípides, segundo alguns, mas há polêmica sobre o seu nome--, criou-se uma corrida de distância semelhante à que separa Maratona de Atenas.
Na prova moderna, os atletas correm o tempo todo em asfalto e seus maiores inimigos são o calor, a umidade e algumas armadilhas que o percurso lhes reserva.
Os primeiros quilômetros são planos, com uma leve descida. É quando os corredores ficam cercados pela história.
À direita, nas colinas de Maratona, está a tumba em que foram enterrados soldados atenienses e escravos --naquela batalha, pela primeira vez, senhores e servos combateram lado a lado. E, pela bravura, os escravos tiveram a duvidosa honra de serem enterrados com os homens livres.
À esquerda, ao longe, está a baía onde aportaram os persas. Mas os corredores não a vêem. A seu alcance, está apenas o cenário grego suburbano de hoje. Alguns moradores saúdam vizinhos que correm, outros incentivam a todos.
A partir daí, o cenário não varia muito: a estrada corta pequenas cidades, passa por regiões menos habitadas, volta ao perímetro urbano. O que muda é a topografia: a partir do km 10 e até o 17, aproximadamente, o percurso tem várias subidas. Algumas curtas, outras mais longas. Nada muito íngreme, mas o suficiente para minar as forças do corredor.
No km 17, um refresco: forte descida, em que muitos aproveitam para recuperar o terreno. É aí que erram, pois logo começa uma longa, dolorosa subida, que, com alguns platôs, vai até o km 30. Então inicia a parte mais difícil da maratona, dois quilômetros e tanto que lembram a subida da Brigadeiro Luiz Antônio --o terror de quem corre a São Silvestre, em 31 de dezembro, em São Paulo.
Para compensar, o atendimento por parte dos organizadores é impecável. A cada 2,5 km, os maratonistas recebem água; em postos selecionados, há esponjas com água gelada para refrescar o corpo, bebidas isotônicas e frutas.
Mesmo assim, o corredor comum chega esgotado à entrada da cidade. Pelo menos agora o esforço é menor, com o percurso final todo em descida. Mas sempre em terreno aberto, exposto ao sol. Mesmo em Atenas, a corrida passa por largas avenidas e quase não há sombra --os mais extenuados chegam a se sentar ou deitar nos canteiros das avenidas, buscando a proteção dos arbustos.
A estátua de um corredor estilizado anuncia que falta apenas um quilômetro. Os corredores buscam as últimas forças, apertam o ritmo e se preparam para festejar. Enfim terminam a empreitada no berço da história esportiva moderna, correndo pela ferradura do estádio Panathinaikon.
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História circunda o percurso de Atenas
da Folha de S.PauloCorrer com os pés montados na história é a grande atração da Maratona de Atenas. O percurso é o mesmo dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, que os melhores corredores do mundo percorrerão em agosto.
A corrida começa no estádio de Maratona, onde atenienses e persas se enfrentaram em 490 a.C. na batalha que mudou a história. Não se pode saber como seria o mundo hoje se os persas --que então contavam com mais armas e mais soldados-- tivessem vencido, mas é lícito acreditar que dificilmente floresceriam a arte, a literatura, a filosofia e a política gregas, base da cultura ocidental.
Talvez para sua própria surpresa, os atenienses venceram. O comandante Miltíades mandou um soldado até Atenas para dar a notícia. Superequipado, ele correu os cerca de 42 quilômetros até a capital, deu a boa nova e morreu.
Sua façanha entrou para a história e, mais de dois mil anos depois, foi lembrada quando estavam sendo organizados os primeiros jogos da Era Moderna.
Em homenagem ao feito do soldado grego --Fidípides, segundo alguns, mas há polêmica sobre o seu nome--, criou-se uma corrida de distância semelhante à que separa Maratona de Atenas.
Na prova moderna, os atletas correm o tempo todo em asfalto e seus maiores inimigos são o calor, a umidade e algumas armadilhas que o percurso lhes reserva.
Os primeiros quilômetros são planos, com uma leve descida. É quando os corredores ficam cercados pela história.
À direita, nas colinas de Maratona, está a tumba em que foram enterrados soldados atenienses e escravos --naquela batalha, pela primeira vez, senhores e servos combateram lado a lado. E, pela bravura, os escravos tiveram a duvidosa honra de serem enterrados com os homens livres.
À esquerda, ao longe, está a baía onde aportaram os persas. Mas os corredores não a vêem. A seu alcance, está apenas o cenário grego suburbano de hoje. Alguns moradores saúdam vizinhos que correm, outros incentivam a todos.
A partir daí, o cenário não varia muito: a estrada corta pequenas cidades, passa por regiões menos habitadas, volta ao perímetro urbano. O que muda é a topografia: a partir do km 10 e até o 17, aproximadamente, o percurso tem várias subidas. Algumas curtas, outras mais longas. Nada muito íngreme, mas o suficiente para minar as forças do corredor.
No km 17, um refresco: forte descida, em que muitos aproveitam para recuperar o terreno. É aí que erram, pois logo começa uma longa, dolorosa subida, que, com alguns platôs, vai até o km 30. Então inicia a parte mais difícil da maratona, dois quilômetros e tanto que lembram a subida da Brigadeiro Luiz Antônio --o terror de quem corre a São Silvestre, em 31 de dezembro, em São Paulo.
Para compensar, o atendimento por parte dos organizadores é impecável. A cada 2,5 km, os maratonistas recebem água; em postos selecionados, há esponjas com água gelada para refrescar o corpo, bebidas isotônicas e frutas.
Mesmo assim, o corredor comum chega esgotado à entrada da cidade. Pelo menos agora o esforço é menor, com o percurso final todo em descida. Mas sempre em terreno aberto, exposto ao sol. Mesmo em Atenas, a corrida passa por largas avenidas e quase não há sombra --os mais extenuados chegam a se sentar ou deitar nos canteiros das avenidas, buscando a proteção dos arbustos.
A estátua de um corredor estilizado anuncia que falta apenas um quilômetro. Os corredores buscam as últimas forças, apertam o ritmo e se preparam para festejar. Enfim terminam a empreitada no berço da história esportiva moderna, correndo pela ferradura do estádio Panathinaikon.
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