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13/09/2004 - 10h09

Forasteiro ainda não descobriu feira portenha de Mataderos

HELOISA LUPINACCI
Enviada especial a Buenos Aires

Ao contrário da feira de San Telmo, na qual são vendidas antigüidades, que concentra grande número de turistas, a feira de Mataderos ainda é pouco freqüentada por forasteiros.

Ao contrário da feira de Palermo, que oferece objetos de design e concentra jovens descolados, a de Mataderos atrai a população local em busca de dança e comida.

Na região oeste da cidade, essa feira recôndita reúne várias regiões da Argentina em um punhado de quadras.

Atraente por sua autenticidade, a feira de Mataderos acaba de entrar na lista de atrações a serem divulgadas pela Secretaria de Turismo de Buenos Aires.

Para chegar lá, é inevitável pensar que o taxista está tentando tirar vantagem. O caminho é bem longo, e até condutores bonairenses podem se perder.

Um deles, quando apanhado nos arredores da feira, exclama: "Vivo nesse bairro há dez anos e nunca tinha visto essa feira".

Esse não tem olhado muito por onde anda. A feira de Mataderos tem 17 anos e ocupa o entorno do mercado de Hacienda. Ela se divide em duas partes. Em uma, há barracas de roupas, brinquedos, utilidades domésticas. Uma espécie de mercado a céu aberto, com mercadorias baratas.

Na outra parte, produtores de todas as regiões do país expõem produtos regionalizados.

Comum às duas partes: a fumaça que ondula a partir das brasas da parrilla, o churrasco argentino, presente em cada esquina.

No centro da feira, fica um palco ao redor do qual se forma um amontoado de gente. Ali, no meio dessa multidão, moradores da região e visitantes bailam os passos típicos de danças como o chamamé, da região litorânea, o zamba e o gato, da região dos pampas, e a chacarera, vinda do norte do país.

Os locais vibram a cada vez que o locutor anuncia a próxima dança. A música começa a sair de caixas de som que propagam faixas de CDs e de fitas-cassete.

O zamba é um dos mais bonitos de ver. Com lencinhos da mão, o casal se prende, passando o pano por trás do pescoço do par. Olhares românticos são abundantes nesses passos. Outra que se destaca é o bailecito. Ela também exige o uso de um lencinho, mas agora, em vez de enlaçar o par, ele chacoalha no ar a cada refrão.

Alguns ensinam visitantes a dançar. O clima é receptivo. Ninguém fica bravo com esbarros ou falta de habilidade. Até porque, se fosse para encrencar com topadas alheias, a dança não aconteceria: na pista circulam vendedores de doces como pirulitos ou cones recheados de "dulce de leche".

As barracas também vendem preciosidades gastronômicas regionais. Do norte, vindas de Tucumán, e dos confins da Patagônia, ao sul. Os queijos orgânicos La Albertina são feitos com leite de vaca e podem ser temperados, sem tempero ou defumados. O preço: nove pesos por 500 g. Os queijos de ovelha da marca Santa Agueda são produzidos segundo tradições de diversos países. Há queijo fresco, queijo tipo feta (grego), queijo tipo pecorino (italiano). Tudo feito de maneira artesanal com leite ovino na cidade de Flores, na Província de Buenos Aires. Cada um custa a partir de cinco pesos. Na barraca Quesito de Tucumán, os queijos de leite de vaca podem ter forma de trança (os mais caros, dez pesos) ou ser do tipo criollo, bastante rústico e normalmente aromatizado com ervas. Nessa mesma barraca, vendem-se doces em compota. O mais curioso é o de cayote (pronuncia-se quase como "caixote"), fruta que parece uma melancia branca. Em uma barraquinha sem nome comandada por um garoto de Tucumán, sopressatas dividem espaço com lingüiças calabresas e salsichas alemãs. O mais caro é a sopressata, tipo de salame feito com a carne mais magra do porco: 25 pesos o quilo.

Mas à parte da sessão de queijos e embutidos, o destaque mesmo é o festival de grelhas sobre as quais são assados grandes pedaços de carne.

A parrilla domina os cantos da feira. E os nacos de carne não poderiam se sentir mais em casa.

O nome da feira e do bairro, Mataderos, se dá por conta de um mercado de Hacienda instalado na região. Fundado em 1890, o mercado tem seu prédio tombado. Nesse tipo de mercado, os bois são mortos, e os pedaços de carne são separados e vendidos.

Devido aos problemas trazidos pela proximidade de um estabelecimento do tipo para o bairro, como o cheiro ruim decorrente da morte dos bois, o mercado deve ser fechado em breve.

Seu espaço será incorporado pela feira, que passará a contar com uma área coberta.

Essa área deve virar o palco das demonstrações de habilidades gauchescas, hoje espremidas num fim de rua no canto da feira, onde gaúchos argentinos mostram seus truques.

Os homens que se apresentam representam um tipo bastante específico: são os gaúchos que moram na cidade e mantêm suas tradições. A região de Mataderos concentra esse tipo.

Descentralização

A feira surgiu de uma iniciativa que visa a descentralizar as atenções voltadas ao centro de Buenos Aires. Tenta levar os visitantes a conhecer uma região que está fora do circuito turístico, por onde eles dificilmente transitariam.

Ela acontece aos domingos, de abril a dezembro. Nos outros meses do ano, ganha ares de quermesse.

Heloisa Lupinacci viajou a convite da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), da companhia aérea Aerolineas Argentinas e da rede Sheraton.

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