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21/10/2004 - 09h06

Salvador: Forte esconde a capoeira tradicional

do enviado especial da Folha de S.Paulo a Salvador

Tarde de sábado no Mercado Modelo. Sem berimbau --supremo sacrilégio para os puristas--, acontece no ponto turístico uma roda de capoeira.

Num desdobrar clássico da cena, assoma uma gringa no recinto e saca a máquina fotográfica. Aborda-a, continuação natural do quadro, um capoeirista, que lhe cobra uma taxa. Ela lhe dá o dinheiro e só então há retratos.

Nada contra essa capoeira para o turista ver, mas, se você quiser conhecer exemplos mais embasados e, por assim dizer, "tradicionais" do jogo, esqueça o roteiro mais manjado e não se satisfaça com os shows folclóricos.

Partindo do largo do Pelourinho em demanda da ladeira do Carmo e seguindo pela rua Direita de Santo Antônio, chega-se à região do largo de Santo Antônio além do Carmo, com uma igreja e um forte homônimos.

O forte de Santo Antônio além do Carmo (não confundir com o forte "mainstream" de Santo Antônio da Barra, onde ficam o farol da Barra e o mais badalado pôr-do-sol local), que remonta ao século 17, é também conhecido como forte da capoeira, pois é hoje sede de dois grupos soteropolitanos cuja importância é inversamente proporcional ao estado de conservação do endereço.

O lugar, que já foi uma cadeia, está caindo aos pedaços e deve ser reformado a partir do começo de 2005. O segurança não deixa fotografar o interior --não se quer que seja divulgada a construção em petição de miséria.

Abstraído o panorama, acham-se ali dois centros de referência da chamada capoeira angola --grosso modo, mais negaceada, ritualística, quase coreográfica, em contraste com a dita regional, criada nos anos 1930 por Manoel dos Reis Machado (1900-1974), o mestre Bimba, provindo da angola. Ele transformou a capoeira em esporte e foi o primeiro capoeirista a ter uma academia reconhecida oficialmente. Isso foi em 1937, ano do Estado Novo de Getúlio Vargas, interessado na institucionalização da cultura popular.

A regional evoca as artes marciais e fez, quando surgiu, a cabeça de jovens brancos abonados, enquanto a angola foi perseguida e esteve à margem, com o estrato pobre, dos negros. Apesar das birras de praxe entre ambas ao longo do tempo, o fato é que os praticantes do "estilo antigo" respeitam mestre Bimba. E costuma haver um sentimento recíproco em relação aos cânones angoleiros por parte da "educação física".

No térreo do forte, está a academia de mestre João Pequeno, 86, que forma com mestre João Grande, que dá aulas em Nova York e é 16 anos mais novo, a mais mítica dupla de capoeiras. Eles foram discípulos de Vicente Ferreira Pastinha (1889-1981), o mestre Pastinha, que, amigo de Jorge Amado e de Carybé, apesar de ter morrido cego, na miséria e no esquecimento, é ora reverenciado.

A academia de Pastinha foi também freqüentada por mestre Moraes, aluno de João Grande. Moraes fundou o Grupo de Capoeira Angola Pelourinho (Gcap), instalado no segundo pavimento do Além do Carmo e que tem hoje ramificações em Manchester, Tóquio, Fortaleza e São Luiz do Paraitinga (SP). Em fevereiro, o Gcap concorreu ao Grammy na categoria de world music tradicional. Em 1996, o grupo lançou o seu primeiro CD pelo selo Smithsonian Folkways.

Na capoeira angola, em geral, não há a graduação por cordões coloridos, à moda das faixas do caratê e do judô. Para jogá-la --atenção: não é "lutar" ou "dançar"-, são freqüentemente proibidos os pés descalços.

Também no mais das vezes não se batem palmas. Amarelo e preto, cores do clube de futebol de coração de mestre Pastinha, o Ypiranga, costumam estampar respectivamente a camisa e a calça de alguns angoleiros, embora haja mestres, caso de João Pequeno, que fazem uso do branco. A formação da orquestra mais difundida compreende três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um agogô e um reco-reco.

As rodas de mestre João Pequeno acontecem às terças, às quintas e aos sábados, às 19h30, e aos domingos, às 17h; as de mestre Moraes, às 19h dos sábados.

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