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25/11/2004 - 09h28

Berlim - 15 anos depois: Bairro é símbolo da Berlim reunificada

FABIO SCHIVARTCHE
enviado especial da Folha de S.Paulo a Berlim

No início, era um bairro tipicamente operário do regime comunista. Aos poucos, foi ganhando novas cores com bares e praças, artistas e intelectuais. Quinze anos após a queda do Muro de Berlim, a trajetória de Prenzlauer Berg revela que a tão sonhada reintegração social das duas Alemanhas é possível.

Fabio Schivartche/Folha Imagem

O bairro de Prenzlauer Berg, em Berlim


A derrubada dos tijolos que dividiram a cidade alemã e o mundo por 28 anos, no dia 9 de novembro de 1989, trouxe a esperança de melhores dias para quem morava no Leste e a expectativa geral de uma explosão econômica no país. A realidade mostrou-se mais modesta, com desemprego alto (de até 20%) e a difusão de preconceitos entre orientais e ocidentais.

Mas não em Prenzlauer Berg. Lá, bem na divisa onde passava o muro, está em desenvolvimento uma experiência urbanística que vem impressionando moradores e especialistas --e cativando o olhar estrangeiro.

Em vez de simplesmente demolir os velhos blocos de prédios quase seculares, optou-se por reaproveitá-los. Assim, uma antiga caixa d"água transformou-se num prédio residencial de luxo. Uma fábrica de cerveja desativada deu lugar a um centro cultural.

Parques e praças brotaram em meio ao asfalto, construídos pelos próprios moradores. Uma pesquisa pública definiu quais as prioridades. Houve quem optasse por pistas de skate. Outros, por quadras esportivas.

Há também uma rede de proteção social diferenciada, cujo melhor exemplo são os prédios exclusivos para deficientes físicos e para mães solteiras.
Um passeio pelas arborizadas ruas do bairro mostram o resultado: novos bares, restaurantes e lojas moderninhas pipocam a cada semana, sempre lotados de estudantes universitários e turistas.

Essas mudanças atraíram jovens de toda Berlim. Hoje, se fosse uma cidade, Prenzlauer Berg teria a maior taxa de natalidade do país e uma das maiores da Europa -2,1 crianças por mulher, em média. É quase o dobro da média nacional, um número expressivo numa região que vem envelhecendo ano a ano e preocupando os demógrafos.

Tantas diferenças com outros bairros da antiga Berlim Oriental, que tiveram seus prédios descaracterizados e ganharam dezenas de shoppings centers envidraçados, valeram ao escritório Stern o prêmio anual da União Européia de Planejamento Urbano.

"Decidimos modernizar em vez de derrubar", resume Cornelius van Geisten, diretor da Stern, a firma contratada pelo governo alemão para projetar a reforma. "Mas nada disso teria sido possível sem a colaboração dos moradores. Tratamos as pessoas com sensibilidade e obtivemos uma resposta positiva."

Cara nova

O projeto de saneamento urbano em Prenzlauer Berg já consumiu 587 milhões. Mas só um terço foi bancado pelo governo. O restante ficou por conta dos proprietários dos imóveis --que hoje sorriem com a recente valorização imobiliária da área.

Passada a euforia inicial da reunificação, quando 10 bilhões foram investidos a cada ano pelo governo principalmente em infra-estrutura no Leste, o dinheiro rareou. Em Prenzlauer Berg, a partir de agora, as mudanças terão de ser financiadas pelos próprios moradores.

Mas eles não reclamam. O artista plástico Alexander Schauff, 25, é um dos 60 mil habitantes do bairro. Mudou-se para lá há dois anos. Vive entre seu ateliê e as festas de música eletrônica que freqüenta --todos os finais de semana-- a duas quadras de seu apartamento, na Schönhauser Allee.

Foi numa dessas baladas que conheceu sua mulher, Sabine, natural de Leipzig, no Leste. Ele criou-se em Hamburgo, no Oeste.

Casaram-se em maio, e Sabine já está esperando um bebê. Como o apartamento atual ficará pequeno, eles estão de mudança. Vão morar num prédio cuja parte externa está sendo totalmente reformada. Ao lado, um edifício idêntico -com a fachada descascada e suja- ainda exibe marcas de tiros da Segunda Guerra Mundial.

São as cicatrizes de Berlim, que o urbanista Van Geisten, da Stern, vê como identidade da cidade. "Prenzlauer Berg é um exemplo de renovação urbana e social importante para a Alemanha e outros países. Mostramos que para vencer limitações financeiras e romper preconceitos é preciso motivar os moradores preservando suas raízes", afirma.

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