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10/02/2005
-
10h14
Enviada especial ao Pará
Como toda cidade quatrocentona, o coração de Belém é o seu mercado municipal --parada obrigatória. Por ser o cartão-postal da capital, é o melhor lugar para começar a desvendar o que é que o paraense tem.
Pelo rio Guamá, embarcações vão aportando na baía de Guajará carregadas de peixe e de frutas trazidas das ilhas próximas. Ainda antes de amanhecer, esse lado da cidade já ergue mais de mil barracas em 50 mil metros quadrados. O sol nasce, e uma mistura de cores, sabores e cheiros típicos vai tomando conta do mercadão. E assim há mais de 300 anos.
Em 1688, com o aumento constante do fluxo de mercadorias transportadas em barcos pelo rio Amazonas --que aportavam na capitania--, fez-se necessário criar um posto de controle, local para "haver o peso".
Com uma estrutura de ferro trazida da Inglaterra no século 19, reflexo da riqueza do ciclo da borracha --responsável pela ascensão e pela queda da cidade-- e mais de mil barracas de todo tipo de comércio, o Ver-o-Peso é um dos maiores entrepostos comerciais do país, candidato a tornar-se Patrimônio Histórico da Humanidade, pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura).
Para quem prefere acompanhar o murmurinho das primeiras horas do mercado, estar por lá antes das 6h é imprescindível. Quem não quiser pular da cama cedo pode ir mais tarde, mas a parte da manhã garante produtos mais frescos e maior presença dos clientes locais, além de o calor não castigar tanto.
As frutas garantem a fascinação pelo exotismo local. Vale visitar a barraca 24A para conversar com Carmelita dos Passos, de 57 anos, dos quais 33 labutando no mesmo local. A variedade às sextas-feiras pode chegar a 50 tipos de frutas, e Carmelita explica a função e o sabor de cada uma delas: "Urucu é bom para o colesterol, buriti é para licor".
O tucupi, molho amarelado típico da região, merece espaço de destaque na feira e fica ao lado das barracas de camarão. Extraído da raiz da mandioca-brava, ele precisa ser cozido para perder o venenoso ácido cianídrico.
O chef paraense Paulo Martins não recomenda, porém, a compra do tucupi na feira. "Geralmente ele tem muito corante e deixa o caldo bem amarelo."
Além desses ingredientes, saber sobre as mandingas é irresistível --mesmo para os descrentes. Ao passar pela ala de barracas forradas de famosas ervas medicinais, mandingas e chás, o convite das vendedoras é ouvido de longe: "Aqui tem o feitiço da bota; tem erva que cura câncer". É só parar em uma delas e abrir o coração.
Na 21D, Deusa investiga as intenções do comprador e fica difícil sair de lá sem uma garrafinha de feitiço. Mas a mais tradicional é a barraca de Beija-flor, 74, que há 50 anos aconselha a clientela do mercado sobre a melhor solução para os problemas cotidianos. Tem de olho de carrapato, para infecção, a membro do quati, para disfunções sexuais. Beija-Flor diz que tudo dá certo.
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ANDRESSA ROVANIEnviada especial ao Pará
Como toda cidade quatrocentona, o coração de Belém é o seu mercado municipal --parada obrigatória. Por ser o cartão-postal da capital, é o melhor lugar para começar a desvendar o que é que o paraense tem.
Pelo rio Guamá, embarcações vão aportando na baía de Guajará carregadas de peixe e de frutas trazidas das ilhas próximas. Ainda antes de amanhecer, esse lado da cidade já ergue mais de mil barracas em 50 mil metros quadrados. O sol nasce, e uma mistura de cores, sabores e cheiros típicos vai tomando conta do mercadão. E assim há mais de 300 anos.
Em 1688, com o aumento constante do fluxo de mercadorias transportadas em barcos pelo rio Amazonas --que aportavam na capitania--, fez-se necessário criar um posto de controle, local para "haver o peso".
Com uma estrutura de ferro trazida da Inglaterra no século 19, reflexo da riqueza do ciclo da borracha --responsável pela ascensão e pela queda da cidade-- e mais de mil barracas de todo tipo de comércio, o Ver-o-Peso é um dos maiores entrepostos comerciais do país, candidato a tornar-se Patrimônio Histórico da Humanidade, pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura).
Para quem prefere acompanhar o murmurinho das primeiras horas do mercado, estar por lá antes das 6h é imprescindível. Quem não quiser pular da cama cedo pode ir mais tarde, mas a parte da manhã garante produtos mais frescos e maior presença dos clientes locais, além de o calor não castigar tanto.
As frutas garantem a fascinação pelo exotismo local. Vale visitar a barraca 24A para conversar com Carmelita dos Passos, de 57 anos, dos quais 33 labutando no mesmo local. A variedade às sextas-feiras pode chegar a 50 tipos de frutas, e Carmelita explica a função e o sabor de cada uma delas: "Urucu é bom para o colesterol, buriti é para licor".
O tucupi, molho amarelado típico da região, merece espaço de destaque na feira e fica ao lado das barracas de camarão. Extraído da raiz da mandioca-brava, ele precisa ser cozido para perder o venenoso ácido cianídrico.
O chef paraense Paulo Martins não recomenda, porém, a compra do tucupi na feira. "Geralmente ele tem muito corante e deixa o caldo bem amarelo."
Além desses ingredientes, saber sobre as mandingas é irresistível --mesmo para os descrentes. Ao passar pela ala de barracas forradas de famosas ervas medicinais, mandingas e chás, o convite das vendedoras é ouvido de longe: "Aqui tem o feitiço da bota; tem erva que cura câncer". É só parar em uma delas e abrir o coração.
Na 21D, Deusa investiga as intenções do comprador e fica difícil sair de lá sem uma garrafinha de feitiço. Mas a mais tradicional é a barraca de Beija-flor, 74, que há 50 anos aconselha a clientela do mercado sobre a melhor solução para os problemas cotidianos. Tem de olho de carrapato, para infecção, a membro do quati, para disfunções sexuais. Beija-Flor diz que tudo dá certo.
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