Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/05/2005 - 11h49

No Caribe, St. Martin e St. Barth ascendem ao alto luxo

VINCENZO SCARPELLINI
Enviado especial a St. Martin e St. Barth

Entre Anguilla e Guadalupe, entre o mar do Caribe e o oceano Atlântico, duas ilhas emergem cerca de 2.400 km a leste de Porto Rico, latitude 18 graus e longitude 19 graus e sete minutos ou, simplificando, a três horas de vôo de Miami. São Saint Martin e Saint Barthélemy.

Pergunte aos locais sobre histórias ou lendas, e a resposta será, na maioria dos casos, negativa. A razão está talvez no passado dessas ilhas. Áridas e sem nascentes de água potável, elas viveram a transformação do patinho feio: antes, miséria, esquecimento e as trevas da solidão. Hoje, riqueza e turismo com relâmpagos de mundanalidade. Em suma, um passado esquecível. Entretanto, estamos no Caribe. A luz é tão intensa que, se os olhos estão fechados, ultrapassa a barreira das pálpebras. Atrás dos óculos de sol, os visitantes --mais do que a história-- buscam a natureza.

Buscam o mar. Ou melhor, as cores do mar. Os pensamentos se tingem dessas cores: verde pintado com pincel, azul ultramarino, verde óxido de cobre, azul cobalto, turquesa, esmeralda e, de perto, a transparência de uma lente de cristal. "É reencontrada. O que? A eternidade. É o mar misturado ao sol." Embora a palavra "eternidade" possa parecer um tanto grave para um destino turístico, o verso do poeta francês Arthur Rimbaud (1854-1891) resume todo o abandono que se prova ao pisar na areia dessas ilhas.

O mar das ondas que lambem os pés parece não ter relação com o outro mar, demasiado grande e inapreensível, capaz de devorar qualquer coisa. Se um é objeto de prazer e o outro impõe respeito, é porque a natureza é sempre recriada pela imaginação, refletindo assim um estado de espírito.

Provavelmente os ilhéus de dois ou três séculos atrás teriam dito simplesmente que a natureza não dava prazer e que a mistura de mar e sol significava só duro trabalho e, por vezes, sede e fome.

Nessa época, St. Barthélemy e St. Martin viviam, sobretudo, da produção de sal. O produto era vendido ou trocado por peixe, pois era com o sal que os navios de passagem conservavam o pescado até seus destinos, nas costas americanas ou canadenses.

Era também época de piratas, corsários e bucaneiros. Violentos, cruéis, amantes do sangue dos outros, inesgotável inspiração para escritores de qualquer lugar e cineastas de Hollywood.

A serviço das coroas européias, ou simples aventureiros, participavam de uma luta de todos contra todos. "Toda nave [embarcação] era um inimigo e, se encalhada, uma presa", escreveu, bem mais tarde, Jules Michelet (1798-1874), historiador e escritor francês. De vez em quando, os próprios habitantes da terra firme eram assaltados.

Mas os sofrimentos passaram. As duas ilhas, semeadas de estradas lisas, são hoje zona franca. Pertencem à França e, metade de St. Martin, à Holanda (com o nome de Sint Maarten).

Com o turismo, a imagem da natureza misturou-se à sedução do luxo, ao conforto da boa gastronomia, a uma pitada de topless europeu. Os hotéis chegaram, a estada ficou prazerosa, e o mar tornou-se inspirador, exclusivo, paradisíaco.

Visto de longe, projeta sobre a agitação das cidades a promessa de uma fuga mole e preguiçosa, até levemente melancólica (que é outra forma de preguiça). Depois, visto de perto, da proa de um barco, da praia ou do quarto de um hotel, sabe manter sua promessa. Ou, como escreveu o poeta, ensaísta e romancista André Pieyre de Mandiargues (1909-1991): "O mar do Caribe é o espaço geográfico que mais se aproxima ao espaço onírico". Embora sejam parte da iconografia da viagem exótica, St. Martin e St. Barthélemy não pertencem às rotas caribenhas do turismo de massa. Ao menos por enquanto. E beber água não é mais um problema. Basta pedir: servem-se Evian ou Perrier.

Vincenzo Scarpellini viajou a convite da American Airlines, dos hotéis La Sammanna e Guanahani e da consultora X-Mart

Especial
  • Turismo fez St. Barth dar volta por cima
  • Invisível, linha divide St. Martin de Sint Maarten
  • Guloseimas põem ilha na rota da boa mesa

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre turismo no Caribe
  •  

    Sobre a Folha | Expediente | Fale Conosco | Mapa do Site | Ombudsman | Erramos | Atendimento ao Assinante
    ClubeFolha | PubliFolha | Banco de Dados | Datafolha | FolhaPress | Treinamento | Folha Memória | Trabalhe na Folha | Publicidade

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade