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17/06/2005 - 13h13

Belém renasce com mistura de sabores, cultura popular e história

ANA LUCIA BUSCH
diretora-executiva da Folha Online
CAIO VILELA
especial para a Folha Online

Pouco antes do amanhecer, em uma pequena ilha nos arredores de Belém, 3.000 papagaios despertam com seus gritos esganiçados e voam em direção à floresta, em terra firme. A revoada marca o início de um longo dia para as aves, que partem de seu ninho em busca de alimentos, sob o olhar curioso dos turistas. Para os visitantes, acomodados em barcos ao redor da ilha, é apenas o primeiro espetáculo da cidade.

Caio Vilela
Esculturas ao ar livre à beira da baía de Guarajá
Esculturas ao ar livre à beira da baía de Guarajá
Não muito distante da ilha dos Papagaios, à margem do rio Guamá, um outro burburinho começa a ganhar volume. Dezenas de barcos carregados de peixes, açaí, bacuri, cupuaçu e outros frutos da terra abastecem de cores o maior mercado ao ar livre da América Latina, o Ver-o-Peso. Movimentam quase 2.000 barraquinhas, onde pessoas se acotovelam por um banquinho para saborear seu açaí matinal --no copo, na cuia, puro, com peixe ou com carne. Do outro lado da feira, já das ruas de Belém, chegam mandingas, porções mágicas e temperos, e suas alegres vendedoras, sempre prontas para explicar o efeito de cada pequeno potinho.

Mas a feira, um eterno cartão postal da cidade, não é mais sua única estrela. Em uma espécie de renascimento cultural, Belém brilha também com seus museus, igrejas e palacetes restaurados, cercados sem cerimônia por modernas áreas de lazer e centros de cultura. Ruas sombreadas por mangueiras, enormes áreas verdes, bons restaurantes e bares cheios de charme completam o atmosfera da metrópole, que parece se renovar a cada dia.

Ainda na beira do rio, em uma grande exemplo das reformas, a decadente área portuária transformou-se na moderna estação das Docas: um enorme complexo cultural e de lazer. Nos galpões de ferro ingleses do século 19, restaurantes com agradável área ao ar livre servem comida típica. Logo ao lado, há cinema, auditório, lojas de artesanato, uma sorveteria e a cervejaria Amazon Beer, cuja principal estrela é a cerveja de bacuri, uma fruta amazônica que confere sabor adocicado à bebida.

Caio Vilela
Barcos atracados próximo do mercado Ver-o-Peso
Barcos atracados próximo do mercado Ver-o-Peso
Também partem do píer da Estação os barcos que percorrem o rio Guamá ao pôr-do-sol, embalados por apresentações de carimbó, uma dança sensual e divertida trazida da ilha de Marajó. Na passarela que margeia o rio, um anfiteatro ao livre e o espaço entre os galpões recebem palhaços e mímicos e até pequenas orquestras eruditas. Artistas populares encenam uma alegre saga do Boi, desfilando pelo mesmo calçadão.

Não muito longe dali, museus, uma igreja ainda em fase de restauração e uma imensa área de lazer ao ar livre revitalizaram um conjunto de edifícios dos séculos 17 e 18 e o antigo forte, de 1616, marco de fundação da cidade. A principal atração do projeto, batizado de Feliz Lusitânia, é o Museu de Arte Sacra, um dos mais importantes do país em arte religiosa e litúrgica. Em um prédio contíguo, o Museu do Círio apresenta uma pequena mas significativa coleção de objetos relativos ao Círio de Nazaré, que todo mês de outubro reúne mais de 1,5 milhão de fiéis em procissão pelas ruas de Belém.

Um antigo hospital militar, na mesma área, transformou-se na Casa das Onze Janelas, em alusão a sua arquitetura. O centro cultural expõe um retrato da arte contemporânea brasileira, com obras de Alfredo Volpi, Lasar Segall, Aldemir Martins e Tomie Ohtake, entre outros. Trabalhos de fotógrafos paraenses compõem a outra mostra permanente. Do lado de fora, um anfiteatro, um pequeno píer e esculturas ao ar livre são cenário para um agradável final de tarde à beira da baía do Guajará. Também fica nessa casa o badalado restaurante Bar da 11, ponto de encontro da elite de Belém.

No forte do Presépio, onde a cidade surgiu a partir de uma pequena construção de taipa, o Museu do Encontro conta um pouco do início da colonização portuguesa na Amazônia. Exibe também peças de cerâmica marajoara e objetos indígenas. No interior de suas muralhas ficam expostos antigos canhões e munição.

Mais ao centro da cidade, um pequeno orquidário com espécies amazônicas e um simpático coreto abrem as portas do Parque da Residência, que deu novo uso à antiga residência oficial dos governadores do Pará. O conjunto abriga também a estação Gasômetro, onde galpões de ferro da antiga Companhia de Gás do Pará tornaram-se um teatro para 400 pessoas. Em uma composição desativada da Estrada de Ferro Belém-Bragança, a sorveteria vagão serve o delicioso sorvete de tapioca.

Nesse universo em mutação, até mesmo a prisão recebeu ares diferentes. Desativadas, as celas do Presídio São José abrigam hoje o Pólo Joalheiro e a Casa do Artesão. As áreas administrativas do edifício, de 1749, viraram o Museu de Gemas do Pará, que mostra seu brilho máximo em uma pedra de quartzo de 2.500 kg. Em pequenas oficinas ao redor do jardim instalado no pátio dos detentos, designers locais mesclam ouro e prata a sementes nativas e criam jóias inspiradas na cultura marajoara.

Caio Vilela
Theatro da Paz foi restaurado e reinaugurado
Theatro da Paz foi restaurado e reinaugurado
Da época áurea do ciclo da borracha, Belém ostenta o magnífico Theatro da Paz, reinaugurado após cuidadosa restauração, para receber companhias de teatro e de ópera. A antiga bilheteria do teatro, de 1878, virou o minúsculo Bar do Parque, uma verdadeira instituição na cidade, com suas mesinhas de ferro prontas para receber quem quer que seja, 24 horas por dia. Aos domingos, na Praça da República, onde ficam o bar e o teatro, uma feirinha de artesanato atrai interessados em conhecer o trabalho de ceramistas locais, escondidos no meio das dezenas de barracas de camelôs.

Um pouco antes ou um pouco depois da chuva, que cai todos os dias no meio da tarde, vale arriscar um passeio ao Museu Zoobotânico Emílio Goeldi, com suas mais de 800 espécies de plantas nativas e 600 espécies de animais, incluindo um simpático peixe-boi.

À noite, enquanto a cidade se ilumina com seus bares e restaurantes, os papagaios da ilha voltam para casa. Em poucas horas, vão despertar novamente para um dia igual a todos os outros, em que praticamente nada mudou. Mas na cidade que os abriga, cada novo burburinho traz também um ar de mudança.

Ana Lucia Busch e Caio Vilela viajaram a convite da CVC.

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