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27/06/2005 - 19h03

Ilha de Páscoa isola visitantes em meio a vulcão e esculturas

ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha

Duas pessoas de cada vez sobem ao topo do "sendero" --trilha, em espanhol. À esquerda, uma imensa cratera de 1,6 km de diâmetro do vulcão Rano Kau se abre diante dos forasteiros. A cavidade foi preenchida pela água da chuva, que formou lagoas rodeadas por plantas que só existem ali. À direita, um penhasco se junta à imensidão azul do Pacífico. A cerca de 3.700 km da costa sul-americana, a ilha de Páscoa parece flutuar no meio do mar.

Nos arredores do vulcão, lugar chamado Orongo, os antigos rapanui (nome que era dado aos nativos e seu idioma antes da colonização) instalaram a aldeia cerimonial mais importante de Páscoa, onde cultivaram entre os séculos 11 e 17 o mito do homem-pássaro, ritual de forte conotação de fertilidade e poder. Reza a lenda que líderes dos principais clãs nadavam até uma pequena ilha chamada Motu Nui à espera de um lendário pássaro, o manutara. Quem primeiro conseguisse transportar um ovo intacto até essa parte da ilha convertia-se em chefe do clã. A etapa seguinte era raspar o cabelo e pintar de branco a cabeça do homem-pássaro, que assumiria a liderança entre os nativos por um ano.

Hoje, os pássaros que dão as caras por lá são aves marinhas em fluxo migratório. O lugar, porém, continua a exercer um certo magnetismo, só que desta vez enfeitiçando turistas do mundo inteiro, que se isolam horas a mirar o infinito do Pacífico.

Essa prática insular é recorrente entre os exploradores de Páscoa, ilha considerada --até mesmo a olhos céticos-- a mais misteriosa do planeta. No meio do caminho entre o Chile e a Polinésia Francesa, tal distanciamento geográfico e cultural lhe imprimiu uma característica quase autóctone, o que levou seus moradores originais a chamarem Páscoa de Te Pito o Te Henua --em português, "umbigo do mundo".

Triangular, formada por três vulcões com idade estimada entre 3 milhões e 300 mil anos, a ilha de Páscoa tem em Hanga Roa seu centro habitado, onde estão os estabelecimentos comerciais, de hotéis a restaurantes, dos poucos bares a posto do correio, banco e o aeroporto Mataveri. É no povoado arborizado, pacato e de poucas atrações onde vivem quase todos os cerca de 3.500 habitantes, basicamente à custa do turismo.

Mas, afinal, o que esperar de uma viagem a um lugar tão distante no meio do nada?

Templo de pedra

A ilha de Páscoa ganhou esse nome por ter sido "descoberta" pelo navegador holandês Jacob Roggeveen, no domingo de Páscoa de 1722. Desde o fim do século 19, pertence ao Chile.

Quem vai para lá está mesmo atrás dos moais, as estátuas monolíticas de até 20 m de altura, feitas com rocha vulcânica, que ainda hoje desafiam as explicações de arqueólogos e antropólogos. Únicas no mundo, são elas as vedetes de Páscoa.

O que ninguém sabe explicar ao certo é como um povo da Idade da Pedra, sem contato com outras culturas ou influências, conseguiu desenvolver tal técnica de criação. Alinhados de costas para o oceano, há cerca de 900 moais espalhados por toda a extensão da ilha, em meio a altares de veneração chamados ahus, plataformas de até 60 m de comprimento e 7 m de altura que agrupam as esculturas. O maior dos ahus é o Tongariki, com 15 estátuas.

Sabe-se que todos os moais eram dedicados ao culto dos mortos e representavam reis, sacerdotes e guerreiros. Eram uma forma de devoção e expressão artística dos antigos rapanui.

Não espere encontrar em Páscoa uma vegetação típica de floresta tropical. Uma das mais fortes teorias sustenta a tese de que a ilha talvez tenha sido um paraíso com matas, aves e golfinhos até o ano 900, quando os primeiros habitantes chegaram por lá. Setecentos anos e cerca de 15 mil habitantes depois, todas as árvores haviam sido cortadas e usadas principalmente no transporte das estátuas.

O ritmo da devastação humana superou a capacidade natural de reposição, provavelmente em conseqüência da obsessão em que se transformou a criação dos moais. Sem árvores, como construir canoas para a pesca? Onde os pássaros se alimentariam e fariam seus ninhos?

Análises de restos de alimento acumulado por diferentes gerações revelam avanço da fome a partir de 1400. A história de Rapa Nui --"ilha grande", no antigo idioma nativo- teria se interrompido em 1862. Não bastasse a escassez de comida, guerras foram deflagradas entre as tribos, colaborando para o extermínio. Lentamente, a população foi se recuperando. Hoje, acredita-se que 70% dos cerca de 3.500 habitantes da ilha sejam continentales (chilenos), contra 30% de pascoenses ou mestiços.

Em "flashback", histórias são narradas pelos guias durante as visitas aos sítios arqueológicos. Quem se cansar delas pode sair à caça das belas praias da ilha, como a pequena enseada de Ovahe, de areia rosada, ou Anakena, decorada por moais em boa definição de traços.

Olhando para as lagoas da cratera do vulcão Rano Kau ou mirando a imensidão sem fim do Pacífico, uma coisa é certa: estar em Páscoa é ficar longe de tudo, perto de ninguém e mais próximo de si.

Roberto de Oliveira viajou a convite da LAN e da Fenix Operadora.

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