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27/06/2005 - 19h30

Pequena ilha colombiana, San Andrés reúne beleza caribenha

HENRIQUE SKUJIS
da Revista da Folha

A tampa do porta-malas do velho Chevrolet Caprice anos 70 vai aberta mesmo. O taxista dá de ombros, acomoda-se no banco dianteiro e dispara por ruas esburacadas em direção a um daqueles hotéis dos sonhos que beiram as águas multicoloridas do Caribe. No caminho, puxa papo, mas não fala em espanhol -apesar de estarmos em território colombiano. O dialeto que escapa da boca do homem de cabelos rastafári é o "criollo", um inglês suficientemente temperado para ser incompreensível aos forasteiros.

A sutil falta de pompa na recepção no aeroporto pode soar estranha aos visitantes acostumados aos paraísos turísticos do Caribe. Mas é exatamente esse tratamento autêntico e simples que confere um charme a mais à ilha de San Andrés, pedacinho de terra perdido no meio do mar do Caribe. São apenas 34 quilômetros quadrados (um terço do tamanho do parque Ibirapuera), habitados por quase 70 mil pessoas e cercados de corais que fazem a alegria de mergulhadores do mundo todo.

Publicações especializadas em mergulho sempre colocam San Andrés na lista de melhores destinos do planeta. Exaltam a visibilidade de até 30 metros debaixo d'água, a abundante vida marinha e os naufrágios ideais para um passeio subaquático --um dos quatro barcos afundados nos arredores da ilha é um cargueiro da frota do milionário Aristóteles Onassis, que foi a pique há quatro décadas.

A região, no entanto, é passagem de navios carregados de mercadorias há quatro séculos. Naquela época, além das barreiras de corais --eterno obstáculo para timoneiros--, piratas vagavam pelas calmas águas do Caribe atrás das riquezas a bordo dos navios espanhóis. O mais famoso desses corsários foi o escocês Henry Morgan, que, na segunda metade do século 17, costumava enterrar seus tesouros na pequena San Andrés. Passeio imperdível é visitar La Cueva de Morgan, caverna aberta pela água em uma barreira de coral, onde o pirata escondia o farto produto de suas gatunagens.

Quem toma conta do esconderijo é o escritor Jimmy Gordon Bull, 46, descendente de piratas escoceses. "Sou meio pirata, meio escravo", diz Gordon, referindo-se aos negros trazidos da África por um grupo de 300 nobres ingleses puritanos que chegou à ilha em 1629, fugindo da perseguição do regime absolutista de Carlos 1º.

Nativos como Gordon, descendentes dessa mistura de piratas e escravos, dão o tom de San Andrés: são negros e falam o "criollo". Apesar de já terem se rendido ao turismo, responsável por 80% dos dividendos locais, ainda preservam um modo de vida diferenciado --moram em antigas e raras casas de madeira com arquitetura de estilo inglês e fazem vistas grossas à poligamia. "O importante é ter dinheiro para manter as esposas", explica o guia de turismo Rafael Caro, atualmente com apenas duas mulheres.

Rafael não é nativo. Ele faz parte de um batalhão de colombianos continentais que nas últimas décadas desembarcou na ilha atrás dos dólares dos turistas e para suprir as necessidades comerciais surgidas desde a implantação da zona de livre comércio, em 1953. Nas últimas cinco décadas, a população de San Andrés subiu 1.200%: de 5 mil para 70 mil pessoas. "Vieram também muitos suburbanos das grandes cidades", conta Willian Godofred Peterson Bent, de 82 anos, descendente de piratas dinamarqueses e prefeito da ilha entre 1959 e 1961.

Para barrar o crescimento demográfico, o forasteiro tem permissão para ficar até quatro meses em San Andrés. Vencido esse período, só com autorização especial.

Segundo Peterson, entre os "neo-ilhéus", muitos são foragidos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc. "Contrária à ação dos guerrilheiros, essa gente se viu obrigada a fugir para longe", diz. Longe, no caso, não é força de expressão: San Andrés dista 700 quilômetros da costa colombiana, o que fez com que a ilha sempre mantivesse mais contatos com a Jamaica do que com a própria Colômbia.

Para o turista, o prazo de 120 dias é quase uma eternidade. Uma volta completa pela estrada bem asfaltada que circunda a pequena San Andrés leva no máximo uma hora. Reserve, no entanto, pelo menos três dias para curtir a paisagem e os vários pontos de interesse.

O passeio ao redor da ilha pode ser feito nos gigantescos táxis em estado precário (mas divertido) de conservação, em motos alugadas, em ônibus ou até de bicicleta. No sentido anti-horário, saindo da zona urbana, a primeira parada acontece na caverna de Morgan, onde funciona um museu que recria o mundo dos piratas. A escala seguinte é no pequeno porto, onde ancoram luxuosos cruzeiros. "Vê aquele barquinho com três motores?", pergunta Rafael. "Foi apreendido dos traficantes no mês passado", conta o guia. "Eles se arriscam nesse tipo de embarcação até Miami."

Alguns quilômetros depois, enquanto o carro estaciona no balneário West View, coloque a roupa de banho para pular de uma parede de pedra de cinco metros e nadar entre peixes coloridos. Mais adiante, no extremo sul da ilha, calce o tênis para andar até o Olho Soprador: dependendo da força da maré e da intensidade do vento, a água do mar é esguichada a mais de dez metros de altura por um buraco no chão de pedras. Há quem chame a atração de "gêiser colombiano".

Ainda nesse giro ao redor da ilha, o turista não precisa molhar além dos joelhos para ficar cara a cara com o naufrágio do barco de Onassis. A estrutura carcomida pela ferrugem está logo ali, imponente, a espera de qualquer atrevido com uma máscara e um snorkel.

Para encerrar o passeio, é hora de gastar as economias na zona de livre de comércio: o centro de San Andrés é uma espécie de free shop gigante, com lojas vendendo eletrônicos, roupas, perfumes, uísques e uma série de produtos a preços tentadores.

No dia seguinte, embarque até Johnny Cay, uma ilhota ainda mais paradisíaca a cinco minutos de barco de San Andrés. Depois de dar a volta completa entre os coqueiros da pequena porção de areia branca, siga até El Acuário, onde mesmo os mais medrosos se esbaldam com a quantidade de peixes coloridos que nadam em águas rasas. Volte para San Andrés e circule a pé pela área urbana. Sua curta passagem pela ilha estará completa se trombar com uma partida de beisebol, assistir a um jogo de basquete e, com sorte, der de cara com um ensaio de moda no meio da rua.

O jornalista Henrique Skujis viajou a convite da Copa Airlines

Especial
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