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28/07/2005 - 11h37

Irã: Isfahan acredita ser "metade do mundo"

ANA LUCIA BUSCH
Diretora-executiva da Folha Online
CAIO VILELA
Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Irã

A incomparável Isfahan, com seu charme de velho mundo, resume o esplendor da arte e da arquitetura islâmicas no Irã. Da cozinha de seus restaurantes, escondidos no labiríntico bazar, saem banquetes aromáticos, servidos em pequenas mesas ao nível do chão. Às margens do rio Zayandé, sombreado por suas pontes de pedra, os locais passeiam ao pôr-do-sol, antes de encerrar o dia nas "chaykunés", ou casas de chá, onde jovens, velhos, homens e mulheres reúnem-se todas as noites para tragar um fumo suave e saborear o chá forte e adocicado.

Caio Vilela
Fim de tarde na ponte Chubi, em Isfahan
Fim de tarde na ponte Chubi, em Isfahan
No coração da cidade, que hoje povoa o noticiário por abrigar uma usina nuclear para conversão de urânio, uma das maiores e mais belas praças do mundo, a Emam Khomeini, mantém a elegância seiscentista e a vocação para centro de poder e adoração.

Ali, entre duas imponentes mesquitas e um pequeno palácio, reúnem-se cordiais vendedores de tapetes, recitando bordões em inglês, espanhol ou japonês, universitárias com seu manto negro cobrindo o jeans e o tênis surrado e alguns turistas que ainda arriscam uma visita ao país. Pouca gente diante da grandeza da praça, quase sempre vazia.

Dividem espaço com uma dezena de pequenas carruagens pretas, prontas a percorrer rapidamente o retângulo de 500 metros por 160 metros da praça, cobrando extorsivos US$ 10. Nas calçadas, crianças arriscam um futebolzinho, aproveitando-se das antigas marcações, instaladas quando a cidade ainda era a capital da Pérsia, há quase 300 anos. Serviam de baliza para as partidas de pólo que costumavam distrair a nobreza, instalada no alto do palácio Ali Qapu, de seis andares.

Em um dos cantos da praça, a sombria entrada da mesquita Emam, com seu portal de 30 m de altura emoldurado por dois minaretes ainda mais altos, confere aos fiéis a certeza de sua pequenez diante de Alá. Nas paredes e no teto, intricados desenhos em tonalidades de azul confundem-se com obras-primas da caligrafia persa. Sob a abóbada principal, a acústica perfeita faz o som ecoar sete vezes, como que para espalhar o texto sagrado por todo o edifício.

Vizinha, a mesquita Sheik Lotfollah reflete-se no espelho-d'água que define o centro da praça. Famílias inteiras sentam-se no gramado para saborear um farto e longo piquenique, enquanto observam os azulejos em mosaico da abóbada refletirem a luz do sol de forma mutante, passando de um laranja rosado a um dourado intenso, conforme o fim da tarde se aproxima.

Sons e cores

Caio Vilela
Ponte Si-o Seh, em Isfahan, com montanhas Solfé, ao fundo
Ponte Si-o Seh, em Isfahan, com montanhas Solfé, ao fundo
A tranqüilidade e o silêncio das mesquitas são perfeitos contrapontos para o burburinho do bazar que ocupa o outro lado da praça. Milhares de pequenas lojas estendem-se por quilômetros de ruelas centenárias, escuras e cobertas. E não é preciso gastar nada para mergulhar nesses sons e cores, repleta de gente de todos os tipos, comprando e vendendo temperos, artesanato, roupas, acessórios automotivos e qualquer coisa que caiba na imaginação.

Mais que palco de comércio, o bazar é uma comunidade vibrante, com mesquitas próprias, banhos públicos e locais de encontro. Uma das saídas, não-sinalizada, é claro, leva à mesquita Jamé, construída no século 11, mas modificada nos sete séculos seguintes. Conhecida como a enciclopédia da arquitetura islâmica, pela variedade de estilos, é de uma simplicidade desconcertante.

Mas Isfahan não se resume à imensa praça e às mesquitas. Abriga também belíssimos palácios, com o Chehel Sotun, com afrescos perfeitamente preservados em suas paredes e teto. Edificado no século 17, ficou conhecido como palácio das 40 colunas, somando às 20 pilastras que sustentam a entrada do castelo as mesmas 20 refletidas no lago que divide ao meio o roseiral.

Também fica na cidade o mais charmoso hotel do Irã, o Abassi. Instalado em um antigo ponto de encontro de caravanas reais no século 17, ainda mantém seu ar de nobreza, ainda que um pouco decadente, conforme evidenciam o velho encanamento e as banheiras descasadas dos apartamentos. Logo na entrada, o teto do lobby trabalhado com mosaicos de espelhos e os lustres de cristal inspiram o viajante e despertam a curiosidade dos iranianos comuns, incapazes de pagar os cerca de US$ 140 da diária.

O típico café da manhã, com pão tradicional, queijo feta, mel, geléia de cenoura e creme de leite, é servido no restaurante, com paredes cobertas de afrescos em tons avermelhados. Os quartos distribuem-se ao redor de um enorme pátio, com jardins e fontes que conduzem à casa de chá.

Ligando as metades

Outro capítulo se desenrola às margens do rio Zayandé e nas pontes quatrocentonas que ligam os dois lados da cidade. Durante o dia, o corre-corre das crianças, carregando seu sorvete de açafrão, e o burburinho dos estudantes ávidos por treinar seu inglês com qualquer estrangeiro garantem o movimento ininterrupto. Jovens casais dividem barcos a remo e grupos de amigos cantam e tocam violão no extenso bulevar que percorre a margem o rio.

À noite, sob seus arcos dourados, a cidade vibra ao som das águas, acomodando-se nos estreitos passeios sombrios debaixo das pontes ou nas casas de chá instaladas entre seus pilares.

Não é difícil entender por que os locais, sem modéstia, repetem há séculos que "Isfahan é metade do mundo", acreditando estarem ali, na grandeza da cidade, metade das maravilhas da Terra. E mesmo para o mais cético dos visitantes, é difícil contestar.

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