30/07/2005 - 12h05

Portillo é opção para curtir neve em família

TONI SCIARRETTA
Editor de Brasil e Dinheiro da Folha Online

O vento gelado no rosto machuca, mas também dá as boas-vindas para quem cruza as montanhas dos Andes chilenos até as pistas de Portillo, a estação de esqui mais antiga da América do Sul, local para esportistas, iniciados ou não, que tentam levar o esqui a sério.

Nos pés do Aconcágua, a 2.850 m de altitude, a paisagem das 17 pistas de esqui é o branco que cega, manchado, bem ao fundo, por um lago tenebroso de águas escuras, quase congelado --dá pavor só de pensar em cair nessas águas. A senha para desfrutar da paisagem é conseguir se equilibrar, mesmo que pela primeira vez (vão te ajudar com isso), num par de esquis.

Ideal para os já iniciados no esporte, Portillo é um refúgio família para os que se cansaram do agito da argentina Bariloche (Brasiloche) e do chileno Valle Nevado. A 164 km e a duas horas e meia de carro, cordilheira acima de Santiago, a estação de esqui não tem sequer uma vilinha, só um hotel com bar e restaurante, dois alojamentos básicos e um bar animado.

E do que mais precisa um esquiador além de neve? Portillo reserva neve fofa, abundante e de boa qualidade o inverno inteiro. Mal começou a temporada deste ano e já caíram quase 9 m de neve, o dobro dos 4,5 m de todo o ano passado. Há até uma máquina que espalha os flocos artificialmente pelas pistas.

Da porta do hotel, é só calçar os esquis e sair deslizando. Os alojamentos ficam bem no meio das pistas, sendo várias delas montanha abaixo, em que o esportista nem precisa pegar um dos 12 teleféricos. A maior tem 3,2 km, o que permite quase meia hora de emoção ininterrupta.

Dá até para almoçar uma refeição quentinha lá no meio das montanhas no restaurante Tio Bob's, que serve sopa e grelhados, a 340 m teleféricos acima do complexo hoteleiro. O visual é deslumbrante. Vale o esforço mesmo para aqueles que não conseguem esquiar até o local. Uma escola de esqui com 40 professores se encarrega de apresentar os primeiros escorregões para crianças e adultos no quintal dos alojamentos. As aulas duram uma hora e meia e custam US$ 26.

Dá inveja ver como as crianças aprendem a esquiar melhor e mais rápido que os adultos. O difícil não é se equilibrar nos esquis, mas conseguir freá-los, tarefa que os professores de Portillo farão de tudo para ensinar aos mais desastrados, que precisam de tempo e paciência no aprendizado.

Para os iniciantes, Portillo tem só três pistas, tipo café-com-leite: El Corralito, El Puma e La Princesa, infelizmente todas bem em frente às outras dez intermediárias, onde os esquiadores mais experientes humilham os novatos com suas manobras. Para os mais ousados, Portillo reserva quatro pistas, duas delas dificílimas: El Condor e La Roca Jack, essa última a estrela da estação, local que desafia esquiadores experientes em seus 340 m de declive. Roca Jack foi inclusive palco do campeonato mundial de esqui de 1966 e é bastante procurada por atletas profissionais, que buscam manter os treinos durante o verão no hemisfério Norte.

Em Portillo, pistas e teleféricos são todos à prova de fila mesmo na alta temporada. A estação não comporta mais de 600 pessoas --o hotel tem lugar para 450 hóspedes e os alojamentos, para outros 116.

Na volta das montanhas, é só tirar os esquis e as botas, deixá-los numa espécie de guarda-volumes e tomar um chocolate quente. Pronto, está feito o reaquecimento. Ascensoristas, garçons e até professores de esqui falam a toda hora "obrigado'' e ''bom dia'' aos brasileiros, que nem se dão ao trabalho de ensaiar um espanholzinho básico. Até a sinalização nas pistas de esqui e as instruções de uso de teleférico são em português, com leves erros de ortografia (portunhol). Não poderia ser diferente: 40% dos usuários são brasileiros.

No início desta temporada, a temperatura varia entre -5ºC, pela noite, até 10ºC, pela manhã. Dentro do hotel faz calor. Não se esqueça de levar camisetas, bermudas e roupas leves. Portillo é um lugar para se perder na imensidão branca, esquecer da vida, dos problemas, do agito e ver as crianças de casaco fazendo bonecos de neve. O lugar lembra um cruzeiro perdido no meio do oceano, no caso, na neve dos Andes. A única preocupação é com o vento gelado no rosto, que racha lábios desprotegidos, e com o sol refletido na neve. Nem pense em filtros solares menores que 60.

A noite começa com um relaxante banho a 38ºC na jacuzzi do hotel, ao ar livre, cercado de neve e de montanhas por todos os lados. No jantar, nada de prato light que as calorias já foram gastas nas pistas e as roupas grossas permitem eventuais excessos. A ferveção é no rústico bar La Posada, onde turistas e "staff", uma rapaziada que decidiu ganhar uns trocados nas montanhas, dividem as mesmas mesas. E aí já é quase hora de calçar as botas de novo e de se preparar para mais um dia de velocidade nas montanhas.

QUEM LEVA: Interpoint Viagens e Turismo, tel. 3087-9400 (www.interpoint.com.br). A partir de US$ 2.834. Inclui aéreo, traslados, sete noites apto. duplo com pensão completa e uso ilimitado dos meios de elevação. NS Tour Skinet, tel. 3061-2800 (www.skinet.com.br). A partir de US$ 2.734. Inclui aéreo, traslados, sete noites em apto. duplo com pensão completa, uso ilimitado dos meios de elevação e seguro-viagem. Snowtime, tel. 3088-3700 (www.snowtime.com.br). A partir de US$ 2.771. Inclui aéreo, traslados, sete noites em apto. duplo com pensão completa e uso ilimitado dos meios de elevação.

Toni Sciarretta viajou a convite da LAN e da estação de esqui de Portillo.

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