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05/08/2005 - 20h00

Delta do Parnaíba exibe santuário de ilhas e dunas

ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha

O vento forte refresca a ação do sol e ajuda a encarar os 30 metros de duna. Vale o esforço. Lá do alto, a vista é espetacular: de um lado a imensidão do Atlântico; embaixo, a água salobra esverdeada de rios e igarapés se mistura ao mar; à frente, uma lagoa de água da chuva reflete o vaivém do manguezal.

Talvez seja essa mistura de ecossistemas o segredo que torna o delta do rio Parnaíba um daqueles lugares raros do mundo. Como os dedos da mão espalmada, os cinco canais do rio formam um labirinto antes de desembocar no Atlântico, passando por um conjunto formado por cerca de 70 ilhas, dunas, lagoas, igarapés e refúgios ecológicos.

Ao encontrar o oceano, a velocidade dos rios diminui, fazendo com que areia, argila e cascalhos transportados por suas águas fiquem depositados nas margens. O acúmulo deste material na costa gera os deltas fluviais, nome inspirado pela frequente forma triangular que apresentam (delta é triângulo em grego).

O do rio Parnaíba se espalha por uma área de 2.700 km2, praticamente o dobro de extensão da cidade de São Paulo, sendo 35% no Piauí e 65% no Maranhão. É o único em mar aberto das Américas. Acidentes geográficos parecidos ocorrem apenas no rio Mekong, no Vietnã, e no Nilo, na África.

Parnaíba, no extremo Norte do Piauí, é o ponto de partida para explorar esse santuário natural. Segunda maior cidade do Estado, o município ainda preserva uma amostra dos tempos áureos de exportação de cera de carnaúba, uma palmeira típica do Nordeste, que perdeu fôlego para a versão industrial sintética.

Igrejas e casarões de diferentes estilos, dos séculos 18 e 19, foram preservados, como o Espaço Cultural Porto das Barcas, antigo entreposto de exportação de charque para a Europa, às margens do rio Igaraçu (um dos braços do Parnaíba), hoje transformado em restaurante, galeria de arte e lojas de artesanato.

Se a elite parnaibana perdeu o status com a decadência da cera, mulheres de pescadores e catadores de caranguejo descobriram a arte de transformar a palha da carnaúba em artesanato internacional do outro lado do Igaraçu, na ilha de Santa Isabel, a maior do delta, com 8 km de extensão.

Vá conhecer o trabalho feito por Serrate Maria Souza Gonçalves, 36, presidente da associação Trançados da Ilha, que reúne 30 mulheres na confecção de redes (R$ 20), pratos decorativos (R$ 25, três peças) e outros utilitários domésticos artesanais, lugar certeiro para garantir as "lembrancinhas" (tel. 0/xx/86/323-6581). A Trançados da Ilha fica justamente no caminho em direção ao porto dos Tatus, área de onde saem as embarcações rumo ao delta.

Caju e areia Dependendo da maré, os barcos costumam partir pela manhã, entre 7h e 10h, em direção aos caminhos sinuosos d'água. Certifique-se na Capitania das Portos que a embarcação está em ordem, antes de zarpar. Os passeios duram praticamente o dia todo, com direito a paradas em ilhas e dunas e custam cerca de R$ 300 (até cinco pessoas).

Solicite autorização para visitar a ilha do Caju, antigo reduto de jesuítas, que ali ficaram até o final do século 18, localizada no lado maranhense, mas com sede em Parnaíba. Reservas, visitas guiadas e almoços podem ser agendados pelos tels. 0/xx/ 86/321-3044 ou 321-1179. A ilha tem mais que cinco vezes o tamanho do arquipélago de Fernando de Noronha, 35% ocupados por manguezais e 12% por dunas, margeadas por uma orla de 27 km de praias desertas. Para chegar até lá, são cerca de duas horas de lancha em meio ao delta.

Tatus, cotias, tamanduás, veados, guarás, tucanos, tartarugas marinhas, jacarés, macacos, 140 espécies de aves, tem bichos por todos os lados nessa área de proteção ambiental. Bem em frente à entrada principal da sede, um tamburi, árvore de tronco grosso e copa imensa, recheado com três dezenas de ninhos de xexéus, pássaro de coloração negra com parte do dorso e da cauda amarela, funciona como cartão-postal. É comum avistar outro habitante nativo, o camaleão. No caminho da praia, lagoas rodeadas por garças.

A ilha tem uma pousada com 14 apartamentos de decoração rústica, bem confortável, e banheiro privativo, cujas diárias variam de R$ 155 a R$ 220 (chalé) por casal, com café da manhã. Seu cardápio de peixes, caranguejos e camarões é o melhor de Parnaíba --prove a caipirinha tradicional de limão ou caju. A maioria dos visitantes é estrangeira.

Uma viagem de uma semana é suficiente para conhecer praticamente todo o litoral do Piauí, o menor do Brasil, com 66 km de extensão, e perceber que a natureza não foi gentil só com o santuário ecológico do delta --há belíssimas praias. Ainda mais quando se pode economizar, pagando menos de R$ 15 por uma refeição por casal. Não há chances de voltar sem provar o caranguejo --o Estado é o maior produtor do país.

Praticamente colada a Parnaíba está a cidade de Luís Correia. A praia do Coqueiro, a 10 km do centro, vale uma parada. Tranquila, principalmente na área perto do farol do Itaqui, oferece opções de bares e restaurantes, apesar da precariedade dos serviços.

Se o seu negócio é correr atrás de lugares paradisíacos, praias desertas, em meio a dunas e lagoas de água doce e salgada, avance mais 40 km e vá se jogar em Barra Grande e Barrinha, no município vizinho de Cajueiro da Praia. No começo da tarde, quando a maré baixa, dá para caminhar mais de 60 m mar adentro com a água no joelho e se banhar nas inúmeras piscinas naturais. Relaxe e assista ao pôr-do-sol, pouco depois das 17h, boiando no mar calmo.

No comecinho da noite, com o vento do delta refrescando o calor nordestino, todo mundo se encontra nas sorveterias do Araújo (são três em Parnaíba e uma em Luís Correia). Prove cajá com sapoti, duas bolas grandes por R$ 2. Estique os pés num pufe de taboa, fibra vegetal tirada de lagoas e rios, sensação do verão, e curta a maresia.

Como chegar

O acesso é feito pela rota Norte, saindo da capital, Teresina, com duas opções de roteiro: pelo Caminho das Águas, com paradas na cachoeira do Urubu e na lagoa de Joaquim Pires, são 350 km; pelo das Pedras (os destaques são o Parque Nacional Sete Cidades e o monumento Heróis de Jenipapo), 335 km. A condição das estradas é boa na maior parte, com sinalização de paradas, hotéis, restaurantes e centros de artesanato

Quando ir

O ano inteiro. Temperatura média anual: 26,8ºC. No "inverno", de janeiro a março, há chuvas esparsas no final da tarde. Em julho, período de férias escolares, a cidade é concorrida.

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