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22/09/2005
-
12h46
Enviada especial da Folha de S.Paulo a Portugal
A primeira parada, saindo de Lisboa, ainda não fica no Alentejo. Setúbal é uma cidade portuária, que se divide entre o estuário do rio Sado e o oceano Atlântico, com um casario simples, de tradicionais fachadas azulejadas. Nas paredes de casas, bares e lojas, aparecem também as manifestações urbanas, que não são poucas, com grafites e stickers.
Setúbal é cidade natal do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) e um dos "paraísos" portugueses eleitos por Hans Christian Andersen (1805-75) em 1866. Também guarda o primeiro exemplar do estilo renascentista manuelino, do qual o mais famoso talvez seja o mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa.
Com os motivos marítimos que caracterizaram a decoração dos edifícios erigidos ou reformados sob o reinado de dom Manuel, o pioneiro foi justamente o Convento de Jesus, construído na última década do século 15 em Setúbal, que cresceu muito nessa época dos descobrimentos.
Criada pelos fenícios, ocupada por romanos, conquistada pelos bárbaros e posteriormente pelos árabes, Setúbal era fornecedora de sal e de peixes.
A história dessas sucessivas ocupações é encontrada nas ruínas romanas da península de Tróia, no Sado, onde há restos de estruturas usadas pelos romanos para salgar os peixes, ou no castelo de Palmela, na vila de Palmela, uma incrível fortificação moura que foi conquistada por dom Afonso Henriques (1112-85) e voltou ao poder árabe em 1191, com tropas comandadas pelo general Al Mansur, que governava a Andaluzia na época em que se chamava Al Andalus --o nome chegou a valer para quase toda a península Ibérica e manteve-se apesar da diminuição do território sob domínio mouro.
Após a batalha de Navas de Tolosa, em 1212, com a derrota dos árabes e a reconquista, o castelo já estava novamente sob domínio português e foi doado à Ordem de Santiago. Mas só no século 15 é construído o convento para a ordem, que funcionou até 1834. Após algumas décadas de abandono, o castelo foi restaurado para abrigar uma das Pousadas de Portugal, hotéis instalados em locais históricos ou "de charme".
Alentejo
Também nas margens do rio Sado está Alcácer do Sal. Já na região alentejana, Alcácer também viu a sua história se fazer pelo sal e pelos peixes e ganhou o nome a partir dos seus pontos altos: "alcácer" é uma palavra de origem árabe que quer dizer fortificação.
A cidade é toda branca. Todas as construções são caiadas ou pintadas de branco. No alto de um morro, no entanto, ergue-se o castelo de Alcácer, construção árabe do século 8º sobre ruínas romanas restaurada pelos portugueses --onde dom Manuel foi aclamado rei e se casou pela segunda vez. O castelo também abriga uma pousada, que mistura a rusticidade das muralhas a ambientes clean. Lá embaixo, o rio Sado, as casinhas e a cidade, com núcleo medieval e fórum romano.
Alvito
A próxima parada é Alvito. A vila de mil habitantes tem seu castelo mourisco e também guarda igrejas e vila medieval. Mas Alvito também pode ser a primeira parada da Rota do Fresco --um circuito dos afrescos alentejanos organizados pela pesquisadora Catarina Vilaça de Sousa. São 45 igrejas com pinturas murais. Os afrescos são descobertos pouco a pouco, atrás de tintas, altares ou azulejos, e o dinheiro para a sua restauração é buscado em empresas da região.
"Temos tesouros dos séculos 15 e 16 que foram construídos com o patrimônio daquela época. Hoje, não temos esse mesmo patrimônio para conservá-los", explica Catarina. "Procuramos romper um pouco com as maneiras tradicionais de encarar o patrimônio", conta. "Não pedimos dinheiro ao governo. Partimos do princípio que não há. Responsabilizamos os moradores, as pessoas da região, pela conservação desses tesouros, para que algum mecenas se interesse, e temos conseguido."
Perto dali, a cidade de Beja também exibe seu castelo. No caminho, a curiosa Cuba, que é sede de uma feira anual com atrações que vão de brasões de pães a um churrasco de lula. As estradas da região são margeadas por vinhas, oliveiras e sobreiros --árvores das quais se extrai a cortiça das rolhas.
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ALEXANDRA MORAESEnviada especial da Folha de S.Paulo a Portugal
A primeira parada, saindo de Lisboa, ainda não fica no Alentejo. Setúbal é uma cidade portuária, que se divide entre o estuário do rio Sado e o oceano Atlântico, com um casario simples, de tradicionais fachadas azulejadas. Nas paredes de casas, bares e lojas, aparecem também as manifestações urbanas, que não são poucas, com grafites e stickers.
Setúbal é cidade natal do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) e um dos "paraísos" portugueses eleitos por Hans Christian Andersen (1805-75) em 1866. Também guarda o primeiro exemplar do estilo renascentista manuelino, do qual o mais famoso talvez seja o mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa.
A.Moraes/Folha Imagem |
Castelo erguido no século 15 em Alvito hoje abriga pousada |
Criada pelos fenícios, ocupada por romanos, conquistada pelos bárbaros e posteriormente pelos árabes, Setúbal era fornecedora de sal e de peixes.
A história dessas sucessivas ocupações é encontrada nas ruínas romanas da península de Tróia, no Sado, onde há restos de estruturas usadas pelos romanos para salgar os peixes, ou no castelo de Palmela, na vila de Palmela, uma incrível fortificação moura que foi conquistada por dom Afonso Henriques (1112-85) e voltou ao poder árabe em 1191, com tropas comandadas pelo general Al Mansur, que governava a Andaluzia na época em que se chamava Al Andalus --o nome chegou a valer para quase toda a península Ibérica e manteve-se apesar da diminuição do território sob domínio mouro.
Após a batalha de Navas de Tolosa, em 1212, com a derrota dos árabes e a reconquista, o castelo já estava novamente sob domínio português e foi doado à Ordem de Santiago. Mas só no século 15 é construído o convento para a ordem, que funcionou até 1834. Após algumas décadas de abandono, o castelo foi restaurado para abrigar uma das Pousadas de Portugal, hotéis instalados em locais históricos ou "de charme".
Alentejo
Também nas margens do rio Sado está Alcácer do Sal. Já na região alentejana, Alcácer também viu a sua história se fazer pelo sal e pelos peixes e ganhou o nome a partir dos seus pontos altos: "alcácer" é uma palavra de origem árabe que quer dizer fortificação.
A cidade é toda branca. Todas as construções são caiadas ou pintadas de branco. No alto de um morro, no entanto, ergue-se o castelo de Alcácer, construção árabe do século 8º sobre ruínas romanas restaurada pelos portugueses --onde dom Manuel foi aclamado rei e se casou pela segunda vez. O castelo também abriga uma pousada, que mistura a rusticidade das muralhas a ambientes clean. Lá embaixo, o rio Sado, as casinhas e a cidade, com núcleo medieval e fórum romano.
Alvito
A próxima parada é Alvito. A vila de mil habitantes tem seu castelo mourisco e também guarda igrejas e vila medieval. Mas Alvito também pode ser a primeira parada da Rota do Fresco --um circuito dos afrescos alentejanos organizados pela pesquisadora Catarina Vilaça de Sousa. São 45 igrejas com pinturas murais. Os afrescos são descobertos pouco a pouco, atrás de tintas, altares ou azulejos, e o dinheiro para a sua restauração é buscado em empresas da região.
"Temos tesouros dos séculos 15 e 16 que foram construídos com o patrimônio daquela época. Hoje, não temos esse mesmo patrimônio para conservá-los", explica Catarina. "Procuramos romper um pouco com as maneiras tradicionais de encarar o patrimônio", conta. "Não pedimos dinheiro ao governo. Partimos do princípio que não há. Responsabilizamos os moradores, as pessoas da região, pela conservação desses tesouros, para que algum mecenas se interesse, e temos conseguido."
Perto dali, a cidade de Beja também exibe seu castelo. No caminho, a curiosa Cuba, que é sede de uma feira anual com atrações que vão de brasões de pães a um churrasco de lula. As estradas da região são margeadas por vinhas, oliveiras e sobreiros --árvores das quais se extrai a cortiça das rolhas.
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