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19/06/2006
-
17h15
da Revista da Folha
"Favor não tirar os sapatos." Não deve haver lugar no mundo com mais plaquinhas com esses dizeres do que na Patagônia. Nos ônibus que circulam pela região das cidades argentinas de El Calafate e El Chaltén, na província de Santa Cruz, a advertência se espalha por todo canto por um motivo especial. A quantidade de visitantes que praticam trekking é tamanha, e os cenários naturais para a atividade são tão fartos, que o chulé virou uma preocupação real nos ambientes fechados do trecho mais cênico da Patagônia argentina.
A ameaça aos olfatos mais sensíveis é amenizada durante o inverno, quando este pedaço sempre belo e frio do planeta recebe menos andarilhos. É depois da alta temporada --que vai de novembro a março-- que suas charmosas pousadas e estâncias (fazendas abertas ao turismo) ficam restritas a casais simpatizantes do sossego no ambiente rural, a amantes das leituras à beira da lareira e aos fãs da boa mesa regada a parrilas, assados e vinhos. A terceira turma concorda: para que andar tanto se lá fora faz um frio danado e entre quatro paredes está tão quentinho?
Durante o inverno, as hospedarias e os restaurantes da turística El Calafate, destino dos vôos que partem de Buenos Aires, se esmeram para garantir abrigo e estômagos "calientes" aos visitantes que fogem do frio médio de dois graus negativos.
Em qualquer época do ano, no entanto, a Patagônia surpreende os brasileiros. É impossível não se encantar com as vastas planícies verdes das estepes, os rios e lagos de água azulada formados pelo derretimento da neve das montanhas e, principalmente, pelos glaciares.
O mais famoso deles, o de Perito Moreno, a 80 km de El Calafate, chegou a reunir 14 mil pessoas no espetáculo da sua última grande ruptura, entre 10 e 13 de março. Com 5 km de frente e 60 m de altura, ele é um dos únicos que não pára de se mover e protagoniza estrondosos espetáculos diários de desmoronamento.
Fora do gigantesco Parque Nacional Los Glaciares, que abriga o Perito Moreno e outros 350 glaciares, o visual rural faz lembrar aquele do filme "Brokeback Mountain": caubóis usam chapéu de vaqueiro, os "gauchos" lidam com o gado e as ovelhas, cavalos pontilham os pastos, fogueiras são acesas sob as estrelas de noites frias e rústicas, casas de fazenda soltam a fumaça das lareiras e fogões à lenha.
Quem visita a Estância Cristina (www.estanciacristina.com) se deslumbra com o impacto visual do glaciar Upsala, o maior da região, com 600 km2. Um dia de passeio na estância custa US$ 150 e inclui, além de um banquete tipicamente argentino, opções de passeios a cavalo ou em veículos 4x4.
O investimento compensa já no passeio de barco para chegar à Estância, cruzando o Lago Argentino. As embarcações partem de Porto Bandera, a 40 km de El Calafate, e passam pelo glaciar Upsala e por vários icebergs, branquíssimos pedaços de gelo que se soltaram dos glaciares e bóiam sobre o lago. Quem se empolgar pode se render ao passeio de dois dias e uma noite promovido pelo Cruceros Marpatag (www.crucerosmarpatag.com). O tour visita, além do Upsala, os glaciares de Perito Moreno e Spegazzini, este com paredes de 130 m.
A montanha que fuma
Em terra firme, os ambientes selvagens mais surpreendentes estão a 220 km de El Calafate, em El Chaltén. Descoberta pelos turistas há menos de duas décadas, a cidadela só recentemente viu proliferarem lojinhas, restaurantes e agências de viagem. E as hospedarias já não se resumem a albergues para mochileiros, como é possível perceber no requintado hotel Los Cerros (www.loscerrosdelchalten.com). Com conforto e restaurante de primeira linha, é lá que se encontra alguns dos melhores vinhos argentinos e iguarias como as sobremesas feitas com doces de calafate, a planta local que deu nome à cidade vizinha.
El Chaltén significa "montanha que fuma" na língua dos índios telhuelches. Era assim que eles chamavam o Fitz Roy, montanha de 3.445 m que se destaca na cordilheira que rodeia a cidadezinha e que vive com fumaça em volta do pico. Para chegar ao mirante próximo de sua base é preciso fazer trekkings que podem durar um ou mais dias. Quem anda mais vê o que há de mais belo.
As trilhas beiram lagos e rios e cruzam as florestas de lengas, árvores de tronco retorcido e esbranquiçados que vivem cheias de cipós.
Na temporada fria, porém, as longas caminhadas são restritas aos mais determinados. A agência Fitz Roy Expediciones (www.fitzroyexpediciones.com.ar) organiza tours de cinco dias --e até oito horas de caminhada por dia para quem não resiste à bela luz de inverno que doura as árvores cobertas de neve e os lagos congelados. Nesse caso, é freqüente a necessidade do uso de grampos especiais que ajudam as botas a grudar no gelo. Quem resiste, volta para o aconchego dos hotéis, estâncias e restaurantes como herói. Mas, diante de tanto esforço, só tira os sapatos dentro do quarto, para se jogar direto numa banheira de hidromassagem para o merecido banho quente.
O ambiente inóspito tipicamente patagônico pode ser experimentado de forma mais intensa por quem visita ou se hospeda nas chamadas estâncias. Essas antigas fazendas eram produtoras de lã de ovelha quando este pedaço do sul argentino começou a ser povoado, no século 19. Só recentemente descobriram o turismo rural. Há mais de dez delas na região (www.estanciasdesantacruz.com).
Para quem: gosta de atividades ao ar livre em meio a paisagens exuberantes, hospedagem charmosa em ambientes rurais
Quando ir: faz frio o ano todo, mas o inverno, de junho a setembro, agrada mais aos casais e aos amantes da gastronomia do que aos praticantes de trekking
Qeem leva:
- Natural Mar, tel. 3214-4949 (www.naturalmar.com.br). A partir de US$ 901. Inclui aéreo, traslados, cinco noites em apto. duplo com café da manhã e passeios.
- TAM Viagens, tel. 0800 555 200 (www.tamviagens.com.br). A partir de US$ 1.152. Inclui aéreo, traslados, cinco noites em apto. duplo com café da manhã, entrada para cassino com um drinque, city tour, lagoa Nimez com observação de pássaros e excursão ao glacial Perito Moreno com ingresso incluído, seguro-viagem.
www.visualturismo.com.br" target="_blank">www.visualturismo.com.br). A partir de US$ 1.157. Inclui aéreo, traslados, seis noites em apto. duplo com café da manhã e passeios.
Daniel Nunes Gonçalves e Caio Vilela viajaram a convite da Gol Linhas Aéreas Inteligentes e da Hostería La Estepa.
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No inverno, Patagônia substitui o trekking pela contemplação
DANIEL NUNES GONÇALVESda Revista da Folha
"Favor não tirar os sapatos." Não deve haver lugar no mundo com mais plaquinhas com esses dizeres do que na Patagônia. Nos ônibus que circulam pela região das cidades argentinas de El Calafate e El Chaltén, na província de Santa Cruz, a advertência se espalha por todo canto por um motivo especial. A quantidade de visitantes que praticam trekking é tamanha, e os cenários naturais para a atividade são tão fartos, que o chulé virou uma preocupação real nos ambientes fechados do trecho mais cênico da Patagônia argentina.
A ameaça aos olfatos mais sensíveis é amenizada durante o inverno, quando este pedaço sempre belo e frio do planeta recebe menos andarilhos. É depois da alta temporada --que vai de novembro a março-- que suas charmosas pousadas e estâncias (fazendas abertas ao turismo) ficam restritas a casais simpatizantes do sossego no ambiente rural, a amantes das leituras à beira da lareira e aos fãs da boa mesa regada a parrilas, assados e vinhos. A terceira turma concorda: para que andar tanto se lá fora faz um frio danado e entre quatro paredes está tão quentinho?
Caio Vilela/Folha Imagem |
Vista panorâmica da Estancia Cristina, com picos nevados, que marcam divisa com o Chile |
Em qualquer época do ano, no entanto, a Patagônia surpreende os brasileiros. É impossível não se encantar com as vastas planícies verdes das estepes, os rios e lagos de água azulada formados pelo derretimento da neve das montanhas e, principalmente, pelos glaciares.
O mais famoso deles, o de Perito Moreno, a 80 km de El Calafate, chegou a reunir 14 mil pessoas no espetáculo da sua última grande ruptura, entre 10 e 13 de março. Com 5 km de frente e 60 m de altura, ele é um dos únicos que não pára de se mover e protagoniza estrondosos espetáculos diários de desmoronamento.
Fora do gigantesco Parque Nacional Los Glaciares, que abriga o Perito Moreno e outros 350 glaciares, o visual rural faz lembrar aquele do filme "Brokeback Mountain": caubóis usam chapéu de vaqueiro, os "gauchos" lidam com o gado e as ovelhas, cavalos pontilham os pastos, fogueiras são acesas sob as estrelas de noites frias e rústicas, casas de fazenda soltam a fumaça das lareiras e fogões à lenha.
Quem visita a Estância Cristina (www.estanciacristina.com) se deslumbra com o impacto visual do glaciar Upsala, o maior da região, com 600 km2. Um dia de passeio na estância custa US$ 150 e inclui, além de um banquete tipicamente argentino, opções de passeios a cavalo ou em veículos 4x4.
O investimento compensa já no passeio de barco para chegar à Estância, cruzando o Lago Argentino. As embarcações partem de Porto Bandera, a 40 km de El Calafate, e passam pelo glaciar Upsala e por vários icebergs, branquíssimos pedaços de gelo que se soltaram dos glaciares e bóiam sobre o lago. Quem se empolgar pode se render ao passeio de dois dias e uma noite promovido pelo Cruceros Marpatag (www.crucerosmarpatag.com). O tour visita, além do Upsala, os glaciares de Perito Moreno e Spegazzini, este com paredes de 130 m.
A montanha que fuma
Em terra firme, os ambientes selvagens mais surpreendentes estão a 220 km de El Calafate, em El Chaltén. Descoberta pelos turistas há menos de duas décadas, a cidadela só recentemente viu proliferarem lojinhas, restaurantes e agências de viagem. E as hospedarias já não se resumem a albergues para mochileiros, como é possível perceber no requintado hotel Los Cerros (www.loscerrosdelchalten.com). Com conforto e restaurante de primeira linha, é lá que se encontra alguns dos melhores vinhos argentinos e iguarias como as sobremesas feitas com doces de calafate, a planta local que deu nome à cidade vizinha.
El Chaltén significa "montanha que fuma" na língua dos índios telhuelches. Era assim que eles chamavam o Fitz Roy, montanha de 3.445 m que se destaca na cordilheira que rodeia a cidadezinha e que vive com fumaça em volta do pico. Para chegar ao mirante próximo de sua base é preciso fazer trekkings que podem durar um ou mais dias. Quem anda mais vê o que há de mais belo.
As trilhas beiram lagos e rios e cruzam as florestas de lengas, árvores de tronco retorcido e esbranquiçados que vivem cheias de cipós.
Na temporada fria, porém, as longas caminhadas são restritas aos mais determinados. A agência Fitz Roy Expediciones (www.fitzroyexpediciones.com.ar) organiza tours de cinco dias --e até oito horas de caminhada por dia para quem não resiste à bela luz de inverno que doura as árvores cobertas de neve e os lagos congelados. Nesse caso, é freqüente a necessidade do uso de grampos especiais que ajudam as botas a grudar no gelo. Quem resiste, volta para o aconchego dos hotéis, estâncias e restaurantes como herói. Mas, diante de tanto esforço, só tira os sapatos dentro do quarto, para se jogar direto numa banheira de hidromassagem para o merecido banho quente.
O ambiente inóspito tipicamente patagônico pode ser experimentado de forma mais intensa por quem visita ou se hospeda nas chamadas estâncias. Essas antigas fazendas eram produtoras de lã de ovelha quando este pedaço do sul argentino começou a ser povoado, no século 19. Só recentemente descobriram o turismo rural. Há mais de dez delas na região (www.estanciasdesantacruz.com).
Para quem: gosta de atividades ao ar livre em meio a paisagens exuberantes, hospedagem charmosa em ambientes rurais
Quando ir: faz frio o ano todo, mas o inverno, de junho a setembro, agrada mais aos casais e aos amantes da gastronomia do que aos praticantes de trekking
Qeem leva:
- Natural Mar, tel. 3214-4949 (www.naturalmar.com.br). A partir de US$ 901. Inclui aéreo, traslados, cinco noites em apto. duplo com café da manhã e passeios.
- TAM Viagens, tel. 0800 555 200 (www.tamviagens.com.br). A partir de US$ 1.152. Inclui aéreo, traslados, cinco noites em apto. duplo com café da manhã, entrada para cassino com um drinque, city tour, lagoa Nimez com observação de pássaros e excursão ao glacial Perito Moreno com ingresso incluído, seguro-viagem.
www.visualturismo.com.br" target="_blank">www.visualturismo.com.br). A partir de US$ 1.157. Inclui aéreo, traslados, seis noites em apto. duplo com café da manhã e passeios.
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