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Antonio Prata: Será que o jornal de sábado já saiu?
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ANTONIO PRATA
COLUNISTA DA FOLHA
Fomos os quatro embora da festa no carro do Flávio, único que tinha carta. Mal partimos, o Gui olhou no relógio e disse que eram 3h50, "será que o jornal de sábado já saiu? Onde tem uma banca 24 horas?".
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Karime Xavier/Folhapress |
O colunista Antônio Prata, que também tem blog na Folha.com |
Ficamos um momento em silêncio, tensos e excitados, até que o Salompas pediu para ser deixado em casa, antes. O Flávio falou pra ele largar de ser amarelão, íamos todos atrás do jornal. (O Salompas tinha vindo ao mundo Rodrigo Cornachinni e assim permaneceu até a quarta série, quando foi à escola com um emplastro Salompas colado nas costas, empesteou a classe com o cheiro de sauna do adesivo e, até o fim do colegial, teve de conformar-se com o apelido).
Achamos uma banca aberta na Paulista, mas a edição do dia seguinte ainda não tinha chegado. Ficamos no carro, fumando um Marlboro atrás do outro e esperando a Kombi que já rodava por aí, com --ou sem-- nossos nomes dentro.
O Flávio havia prestado cinema e o Salompas, administração. Eu e o Gui estávamos tentando filosofia. A concorrência era de 1,5 aluno por vaga e perguntávamo-nos qual metade, e de quem, ficaria de fora. Prometi ao Gui levar sua metade de cima às aulas, caso a de baixo não entrasse, mas recusava-me a ir pra USP carregando as pernas dele.
Eram cinco e tanto quando uma Kombi da Folha apareceu. Assim que o blocão de jornais caiu no chão, cada um de nós arrancou um exemplar. O Gui foi o primeiro: "Entrei!". Logo, veio o Flávio: "Aha! Aqui!". Com o indicador trêmulo, encontrei meu nome na enorme lista.
O Salompas fechou o jornal e colocou-o de volta na pilha. "Desencana, Salompas!", disse o Flávio, "Ainda tem GV e PUC e, se você não passar, é um ano de cursinho só jogando truco com aquele monte de gostosa!".
Eu larguei a filosofia dois anos depois. O Gui terminou, fez mestrado, doutorado, agora dá aula numa faculdade. O Flávio trabalha numa produtora. Com o Salompas, perdi contato. No ano passado, soube que fez direito em Bauru, mas tem uma fazenda de coco no Ceará, exporta pra América do Norte e Caribe e anda de jatinho particular pra cima e pra baixo. Duvido que alguém ainda o chame de Salompas.
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