No clássico “Quincas Borba” (1891), de Machado de Assis, “nós assistimos a um ser humano, o Rubião, enlouquecer sob o olhar das estrelas, que ficam impassíveis, lá no alto, como a plateia assistindo a um espetáculo”, afirma o escritor Luiz Antonio Aguiar, especialista na obra machadiana.
É de autoria de Aguiar, vencedor do Prêmio Jabuti, o roteiro da adaptação para os quadrinhos de "Quincas", segundo romance da trilogia realista de Machado --entre “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro”.
Nascido em 1839 no Rio de Janeiro, Machado tornou-se um dos mais importantes nomes da literatura brasileira. Morreu na mesma cidade em 1908.
A história de Rubião começa quando ele herda do filósofo Quincas Borbas —também personagem em “Memórias Póstumas”— posses, títulos, um cachorro e, junto com isso tudo, a loucura.
O discípulo da filosofia do "humanitismo", de autoria de Quincas, vive uma trajetória de ascensão e decadência, em que é ele próprio o resultado fracassado das teorias de seu falecido mentor.
“Ao vencedor, as batatas”, diz o humanitismo. Sobrevive o mais forte, mas Rubião não era.
Para desenhar a história de Rubião e o Rio de Janeiro do final do século 19, Berta se inspirou no impressionismo, movimento artístico que vigorava na Europa na época, como forma de aludir à forte influência dos costumes daquele continente sobre a elite carioca nesse período.
“Das xícaras de café às construções das cidades, tudo foi desenhado pensando nas personalidades e nas condições sociais de cada personagem”, ela explica. A ilustração de cenários como a praia de Botafogo e o Largo de São Francisco se baseou em fotografias históricas.
Neste ano, o romance passa a integrar a lista de leituras obrigatórias do exame da Fuvest junto com títulos como “Angústia”, de Graciliano Ramos, e “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto.
A adaptação de Aguiar para a HQ procura unir “a solidez de um romance clássico com uma linguagem super contemporânea”, os quadrinhos, mais popular entre os leitores mais jovens.
No entanto, os grandes temas machadianos, como a complexidade das relações humanas e as vaidades políticas, permanecem em qualquer formato.
“Se colocássemos o Rubião na caverna de Winden (da série “Dark”, da Netflix) e ele viesse parar em 2020, com certeza se apaixonaria por uma moça bonita e casada. E alguém perceberia sua ingenuidade e se aproximaria dele de olho no seu dinheiro”, diz Camila Saraiva, editora da FTD.
Para ela, a obra de Machado, como é próprio de grandes autores, fala de comportamentos e fragilidades humanas aos quais estamos sempre suscetíveis, seja no século 19, seja no século 20.
“Quincas Borba em Quadrinhos” pode ser comprado no site da editora (https://ftd.com.br/detalhes/?id=6949). O book trailer está disponível no YouTube e pode ser conferido aqui:
Quincas Borba em Quadrinhos
Editora FTD, 96 páginas. R$ 49
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