Os adultos são mesmo interessantes: sempre dizem que as crianças precisam falar sobre o que sentem, mas eles mesmos não conseguem tocar em alguns assuntos. Já experimentou tentar conversar sobre tristeza, fantasma ou ETs com seus pais? Eles ficam morrendo de medo!

Um bom jeito de as crianças ajudarem os adultos a lidar melhor com temas que eles consideram difíceis é assistindo ou lendo juntos uma boa história. Uma editora brasileira, por exemplo, criou um selo para publicar livros infantis que falam justamente dos medos de gente grande.

Entre as obras recém-lançadas pelo selo Caveirinha, braço infantil que a DarkSide Books apresentou ao mercado há três anos para falar de fantasia e imaginação aos pequenos, está “O Balde Vazio” (R$ 54,90; 48 págs.), escrito e ilustrado pelo premiado animador Wesley Rodrigues.

O livro conta a história de um balde solitário que só tem o vento como amigo. Nas suas aventuras pelos ares, o balde deixa um casal de passarinhos apavorado, achando que perdeu seus filhotes para sempre.

“A gente não pode não falar sobre esses assuntos”, entende Bruno Dorigatti, editor da DarkSide e do selo Caveirinha. “A proposta é adequar esses temas de um jeito a atrair, sem virar algo que vá chocar ou traumatizar. A gente tem que cada vez mais criar oportunidades para a criança lidar com esses sentimentos”.

O primeiro livro da Caveirinha, por exemplo, foi “A Vida não me Assusta” (R$ 49,90; 48 págs.), de Maya Angelou, com ilustrações originais do pintor Jean-Michel Basquiat. Ele fala de alguns tipos de monstro, desde aqueles que vivem embaixo da cama até os que fazem bullying na escola.

“Como os pais hoje liberam muito o celular, as crianças têm acesso a mais coisas, mas às vezes não da melhor maneira. Com um livro, você foca em um objeto físico, que tem uma dimensão e uma finitude. É um universo que permite a liberdade de interpretações, mas delimitando um olhar, sempre com empatia”, continua Bruno.

Além da história do balde, a Caveirinha lançou agora durante a quarentena “Anna e o Balão” (R$ 54,90; 36 págs.), de Férrez e Fernando Vilela; “Meu Querido Abismo” (R$ 49,90; 80 págs.), de Raphael Gancz e Mariana Coan; e “Nós, os ETs” (R$ 54,90; 56 págs.), de Marcel Souto Maior e Mariana Massarani.

Sobre esse último, Marcel conta que a vontade de escrever quase uma enciclopédia sobre alienígenas veio no meio da pandemia. “A ideia surgiu nesse susto de a gente estar sob uma ameaça invisível, sem saber o que vai acontecer. Foi na escrita que busquei um pouco de conforto e comecei a pensar no nosso papel aqui”, explica.

Pai de Nina, 9, e Amora, 5, o editor Bruno conta que, em tempos de quarentena, com cada vez menos controle sobre o uso das telas não só pelas crianças como também pelos pais, dar o exemplo é fundamental.

“A criança é uma maquininha de reverberação. Se você não tem livros em casa, ela não vai ter essa disposição de se interessar pela leitura. Ela tem que ver a paixão dos adultos quando compram o livro, quando o livro chega. No meu caso, assino as revistinhas da Turma da Mônica e deixo as duas escolherem livros novos nos sites”, diz.

“É importante apontar caminhos para as crianças, mostrando que a vida pode ser sempre mais leve do que os adultos fazem parecer”, resume Marcel Souto Maior.

“Alguns livros infantis ficam com a gente. Mesmo adulto, a gente reabre e encontra respostas, e se reencontra neles. Acho que escrever pra criança tem muito a ver com esperança”.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança