Por que nascem os monstros

Escritora Olga de Dios adora desenhar criaturas porque elas permitem "não discriminar"

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São Paulo

Era uma vez uma época em que pessoas achavam que algumas cores eram coisa só de menino ou só de menina. O rosa, por exemplo, era exclusividade de garotinhas. Olga de Dios nasceu neste tempo. Suas roupas eram cor-de-rosa, seus brinquedos eram cor-de-rosa, tudo seu era cor-de-rosa.

Ela cresceu achando que esta era uma cor chata, cafona e ligada à fraqueza. Quando virou adulta, no entanto, Olga entendeu que podia transformar o rosa, e fazer dele uma cor divertida, fresca e valente.

Adivinhe qual é a cor favorita hoje em dia da ilustradora e escritora espanhola Olga de Dios, 41 anos. Pois é, Olga agora ama rosa. “Gosto de usar essa cor para dar outro significado a ela, e libertá-la de preconceitos tão antigos”, conta.
Monstro azul com braços compridos sorri para outras criaturas em meio a uma floresta
Ilustração da escritora espanhola Olga de Dios - Reprodução
Não é uma coincidência, portanto, que um de seus personagens mais conhecidos se chame Monstro Rosa. Com um olho só, uma boca bem grande, orelhinhas, e pelos compridos, o personagem foi o primeiro de Olga a se transformar em livro.

Hoje, ela tem oito livros publicados, nos quais escreve a história e faz os desenhos, e ainda colaborou com mais de uma dezena de outros autores. No Brasil, seis de seus títulos foram traduzidos e editados pela Boitatá, selo infantil da editora Boitempo.

Todos os livros de Olga têm monstros. “Adoro desenhar monstros porque eles me permitem não discriminar. Ao desenhar personagens humanos você tem que escolher sua cor da pele, seu tipo de cabelo e seu jeito de se vestir”, explica.

“Gosto mais de desenhar personagens monstruosos porque são mais abertos, qualquer pessoa pode se sentir representada por eles. Meus monstros não são humanos, mas expressam sentimentos humanos com os quais a gente pode ter empatia.”

Dar preferência aos monstros também ajuda Olga a falar de alguns temas que às vezes os adultos podem achar difíceis. “Muitos leitores me disseram que, em algum momento de suas vidas, se sentiram como o Monstro Rosa”, lembra.

“Isso teria sido mais difícil de acontecer se esta história fosse protagonizada por uma pessoa com uma idade, uma crença religiosa, uma orientação sexual ou com uma identidade de gênero específicas.”

Olga também é muito preocupada com o meio ambiente. Quando escreveu “Rã de Três Olhos”, ela inventou uma protagonista que luta contra uma fábrica que não para de produzir coisas novas, mesmo que as pessoas não estejam dando conta de comprar e usar tantos produtos assim.

“Tento transmitir que é importante reduzir nosso consumo, e tento propor outros modelos possíveis. Não quero dizer que a solução é mudar só o comportamento individual, porque isso seria ingênuo, irreal e injusto”, esclarece.

Junto da avó e de vários monstros, a Rã de Três Olhos consegue transformar a fábrica em um lugar melhor, provando a importância do trabalho coletivo. “Temos que ligar o conceito de saúde ao cuidado do meio ambiente desde a infância”, acredita.

Olga desenha desde que se lembra “de saber pensar”. Aos oito anos, tinha aulas de desenho, mas achava tudo muito chato. “Eles me obrigavam a desenhar natureza morta, tipo vasos e frutas”, conta.

Com o tempo, desenvolveu um estilo próprio, e se formou em ilustração na faculdade. Seu livro “Monstro Rosa” já foi traduzido para 13 idiomas, e distribuído em 20 países.

Além de fã de cor-de-rosa, Olga também adora quando uma história tem uma protagonista feminina. “As meninas valentes e que conduzem sua própria vida me fascinam.”

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