Sentir ciúme é normal quando chega um novo irmãozinho

Crianças lembram como foi descobrir que um bebê estava a caminho e falam da relação com ele

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Os gêmeos Tomás e Vitor foram convidados pelos pais para jantar em um restaurante legal. Chegando lá, podiam escolher qualquer prato do cardápio. Quando as batatas fritas apareceram, eles receberam também uma notícia: ganhariam uma irmã dali a alguns meses.

“Eu chorava muito, imaginando diferentes cenários. Nenhum deles era bom, era um pior que o outro. Porque eu achava que a nossa família já estava completa”, lembra Tomás Kato Toledo, 12 anos. “A gente vê acontecendo com os outros, mas quando acontece com você é um baque muito grande.”

Vitor também não ficou feliz de cara. “A primeira coisa que eu pensei foi um pouco egoísta, mas eu pensei que perderia meu espaço na família, que já não era 100%, óbvio, por conta do Tomás, mas que era um espaço que eu me sentia muito bem”, revela.

No dia do nascimento de Liv, os gêmeos estavam na escola. Os professores contaram para toda a turma que a irmã deles tinha finalmente chegado, e todos comemoraram muito, com abraços nos meninos.

Vitor Kato Toledo, 12, Tomás Kato Toledo, 12, e Liv Kato Toledo, 4
Vitor e Tomás Kato Toledo, 12 anos, e Liv Kato Toledo, 4 anos, em foto logo após o nascimento da irmã caçula da família - Arquivo Pessoal

“A partir dali meu coração começou a bater muito rápido porque eu sabia que a gente ia pra maternidade conhecer ela. Foi muito emocionante”, conta Vitor. “Ali já foi uma sequência de momentos mágicos, era um ser humano novo chegando”, completa Tomás.

Ficar confuso com a família aumentando é comum. Pode dar medo de como vai ser dividir a atenção da mãe e do pai, de como a caixa de brinquedos vai ser compartilhada, e até mesmo medo por não saber como a casa vai ficar com a chegada de mais alguém.

O escritor e psicólogo Ilan Brenman, autor de mais de 80 livros, fala sobre isso em “Quero Nascer de Novo” (editora Moderna, 32 páginas, R$ 50).

“Minha filha de quase três anos estava com ciúme da chegada da irmã, e se enfiou debaixo do vestido da mãe grávida, abraçou a barriga e disse ‘Quero nascer de novo’”, lembra Ilan.

Para ele, a chegada de um irmão é um momento de grande aprendizagem. “Você aprenderá a dividir seus brinquedos e a atenção dos pais, ganhará um companheiro para brincar e brigar, perceberá que dois juntos são mais fortes que um só”, promete.

“O começo será difícil. Você terá ciúme, é normal, mas segura a onda que o bebê crescerá e vocês serão amigos de brincadeiras e aventuras.”

Joaquim Araújo tem três anos e acabou de ganhar uma irmã, a Helena. Ele gosta de contar como ela é. “Bagunceira e safadinha. Ela rouba todos os meus brinquedos e põe na boca e mastiga”, reclama.

Embora ele diga que achou um pouquinho chato quando soube que a mãe esperava um neném, ele agora já faz planos. “Vou emprestar um monte de brinquedo quando ela ficar grande”, adianta.

Joaquim mal vê a hora de poder brincar de trator e de avião, e de tomar sorvete de chocolate com Helena.

No caso de Francisco Andrade, sete anos, tudo foi mais fácil porque ele sempre quis ter um irmão. Fernando, que hoje tem três anos, nasceu em casa. “Eu tava dormindo e ouvi um barulho. Perguntei para o meu pai o que era, e ele falou que meu irmão tinha nascido. Fui correndo pro quarto da mamãe”, conta Francisco.

Mas mesmo quem sonhava em ganhar companhia sabe que às vezes irmãos e irmãs se desentendem. Francisco diz que já levou bronca porque não queria brincar com Fernando. E Tomás fala que algumas brigas acontecem por causa do mau humor de Liv.

O livro “As Aventuras de Mike - O Bebê Chegou!” (editora Outro Planeta, 176 páginas, R$ 39,90), de Gabriel Dearo e Manu Digilio, começa com uma piada sobre esses probleminhas: “Para nossos irmãos, que passaram anos medindo o refrigerante com uma régua antes de dividi-lo”.

“A gente se baseou muito na nossa infância e quando a gente recebeu irmãozinhos. Nós dois somos irmãos mais velhos”, diz Manu. O livro mostra como a família de Mike, que já tem uma irmã pequena, precisa se ajustar com a chegada de mais um bebê.

“Eles ficam na expectativa imaginando se vai ser menino ou menina, com quem vai ser parecido. No final, Mike descobre que foi legal a experiência, e entra em aventuras com o bebê”, adianta Dearo.

“Bebês dão mais trabalho, não tem jeito”, resume Ilan Brenman. “Eles não falam o que estão sentindo, precisam ser alimentados e cuidados. Tem pais que passam um sufoco grande nesse momento, muita angústia, ansiedade por não saber o que está ocorrendo.”

Liv hoje tem quatro anos, e se lembra de quando Tomás e Vitor a colocavam no berço. “Eu chorava, porque não tinha nenhuma luz no corredor”, diz, contando que os gêmeos a protegiam de um monstro que aparecia no escuro.

“Com a chegada de um irmão, ficamos menos egocêntricos, ou seja, percebemos que o mundo não gira ao nosso redor”, explica Ilan. Vitor também traz boas notícias para quem vai em breve virar o irmão mais velho: “Vai ser uma das melhores coisas da sua vida. Fique tranquilo, que vai dar tudo certo”.

TODO MUNDO LÊ JUNTO
Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.