Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

'Vênus de Milo' tem vida de celebridade depois de anos debaixo da terra

Escultura achada em escombros é uma das obras mais famosas do mundo

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São Paulo

Existem algumas obras de arte que pode até ser que a gente não saiba o nome, mas que todo mundo já viu alguma vez na vida e reconhece de longe. É o caso da “Mona Lisa”, por exemplo, pintada por Leonardo da Vinci, ou de “O Grito”, criado por Edvard Munch.

Nesta quinta-feira (8), é comemorado o aniversário de descobrimento de uma obra como estas: a “Vênus de Milo”. Há 201 anos, um fazendeiro estava escolhendo boas pedras para construir um muro em sua casa, na ilha grega de Milos, quando se deparou com a hoje famosa escultura soterrada.

A "Vênus de Milo" no Museu do Louvre, em Paris, na França, em foto tirada em janeiro de 2021 (Photo by Martin BUREAU / AFP) - AFP

A obra representa uma mulher com mais de dois metros de altura, vestindo apenas uma túnica na cintura. Sua característica mais marcante, além da beleza, é que seus braços estão faltando —parecem quebrados, um deles um pouco acima do cotovelo, e o outro, bem junto ao ombro.

O fazendeiro, de nome Theodoros Kendrotas, avistou primeiro só um pedaço da Vênus, que estava inteira debaixo de escombros. Olivier Voutier, um oficial da Marinha francesa que havia acabado de chegar à Grécia com seu navio chamado Estafette, e que também estava cavando na região, percebeu o movimento de Theodoros.

Olivier procurava antiguidades, e rapidamente entendeu que a escultura encontrada era uma importante obra de arte, que certamente valeria bastante dinheiro. “Ele percebeu de cara que a Vênus era coisa de um grande artista”, assegura o historiador e crítico de arte João Spinelli, professor na USP e na Unesp.

Depois de negociações e algumas viagens, a Vênus de Milo hoje mora no Museu do Louvre, o mais famoso de Paris, capital da França. Não há como ter certeza sobre quem foi seu criador, mas as suspeitas são de que ela teria sido esculpida por Alexandros de Antióquia ou por Praxiteles, dois importantes artistas de diferentes períodos da história.

A estimativa é que ela tenha sido produzida por volta do ano 300 a.C (antes de Cristo), o que faria dela uma obra com mais de 2.000 anos de idade. João Spinelli explica que, nesta época, era comum que os artistas retratassem a mitologia, e por isso existe a certeza de que esta escultura representa uma deusa —Vênus, o nome romano para a grega Afrodite, divindade da beleza e do amor.

Um colega do oficial Olivier Voutier, que também estava presente quando a escultura foi encontrada, deixou um relato por escrito. Nele, ele fala dos braços da Vênus, dizendo que sua mão direita segurava parte da roupa, e a mão esquerda segurava uma maçã.

O professor João Spinelli diz que, mesmo que não seja possível admirar estas partes da obra —que também perdeu parte do coque no cabelo e o pé esquerdo—, todo mundo pode imaginá-las.

“Uma pessoa que observa algo inacabado tem a capacidade de completar aquela falta emocionalmente. É melhor ter a verdade faltando do que uma mentira acrescentada”, diz ele, sobre a possibilidade de a escultura ser restaurada com novos braços.

“Através de fragmentos você pode imaginar como seria a beleza daquele braço que está faltando. É preferível deixar fragmentos que você tem certeza que são do artista, do que acrescentar adereços que comprometam sua qualidade.”

A artista e galerista Maria Montero também sugere um exercício diante de obras como a "Vênus de Milo". "Quando você olha em um museu uma obra que foi produzida quase 400 anos antes de Cristo tudo parece muito distante, mas é bacana para a gente pesquisar o que acontecia naquela época", diz.

"Um bom exercício é pensar como vai ser daqui a 200 anos, quando alguém encontrar uma obra produzida hoje. Que obra seria esta? Quais pistas ela traria sobre o que estamos vivendo hoje?", propõe. "A arte é uma lupa da sociedade. Pense no que você gostaria que um arqueólogo encontrasse para falar sobre nosso período atual."

Ainda sobre a "Vênus de Milo", o professor João acredita que ela seja a segunda obra mais visitada do Museu do Louvre, perdendo apenas para a “Mona Lisa”. “Ela caiu no gosto do povo, foi transformada em souvenir, e já foi reinterpretada inúmeras vezes. Virou um símbolo de feminilidade”, resume.

Turistas observam a "Vênus de Milo". Foto Joel Silva / Folhapress - Joel Silva/Folhapress

Isso se deve à graciosidade da escultura, explica João. “A graça é uma beleza espontânea, singela, não é apelativa. A ‘Vênus de Milo’ é um perfeito exemplo deste conceito estético”, ensina.

“Pessoas importantíssimas a estudaram, a questionaram. Obras símbolo da graciosidade mostram mulheres lindas e elegantes, sem afetação. Não há nelas nada que o artista tenha colocado para deixá-las mais imponentes. E a 'Vênus de Milo' é imponente por si só.”

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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