Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

Cérebro ajuda mães a pôr em prática o mais generoso dos amores

Sidarta Ribeiro e Tati Bernardi dizem que até cheiro dos filhos desperta afeto materno

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São Paulo

Elas até gostam de ganhar coisas novas, mas vivem falando que o maior presente da vida são os filhos —vai dizer que nunca ouviu isso em casa, quando chega o Dia das Mães? Mas de onde será que vem um amor assim tão grande, a ponto de as mães acharem a gente mais gostoso que chocolate, e mais bonito que flor ou joia?

Sidarta Ribeiro, escritor e um dos mais conhecidos neurocientistas brasileiros, explica, antes de tudo, que o que chamamos de amor é um conjunto de emoções, pensamentos e mudanças corporais. E, neste caso aqui, o “combo” tem originalmente a função de ajudar as mães.

Especial de Dia das Mães Folhinha 2021
Catarina Pignato

“O cuidado amoroso delas com seus filhos e filhas diminui as chances de que fiquem doentes, promove o desenvolvimento da inteligência e cria benefícios de saúde por toda a vida”, resume Sidarta.

Ele diz que o cérebro humano tem uma capacidade enorme de amar. “E o amor das mães pelos filhos costuma ser o mais generoso de todos”, confirma o cientista.

“Um beijo carinhoso é causado por muitos mecanismos biológicos ativados no cérebro e outras partes do corpo. Um exemplo é o hormônio ocitocina, que é liberado durante o parto, a amamentação e atos de carinho.”

Hormônios são substâncias responsáveis por ativar e controlar diversas funções do corpo. A ocitocina é chamada de “hormônio do amor” justamente por isso que Sidarta conta, sobre as situações em que ele é liberado, e que ajudam a aumentar a ligação entre mães e seus bebês.

Às vezes, esse amor já surge logo no começo da gravidez. Outras vezes, ele vemdepois. Mas Sidarta diz que, quase sempre, é um amor que continua crescendo, e que com o passar dos anos vai se modificando por tudo que acontece na relação das mães com suas filhas e filhos.

E é importante deixar claro que não é preciso que a criança tenha saído da barriga daquela mãe para ser amada por ela. O cérebro é tão genial que dá uma forcinha para as famílias que são formadas de outras maneiras.

“Os mesmos mecanismos cerebrais que explicam o amor da mãe pelos filhos biológicos também são ativados no caso do amor por filhas e filhos adotivos. O amor é uma construção feita diariamente”, conta Sidarta.

A escritora e colunista da Folha Tati Bernardi lembra o que sentia quando sua filha Rita, hoje com três anos, ainda era uma bebezinha. “Tinha uma coisa muito forte de bicho. Enquanto ela mamava, enfiava o nariz no meu sovaco, eu cheirava o cangote dela, o chulé, e ficava alucinada. Amor bicho total.”

“Eu achava fofo até o pum e o cocô. Eu ouvia e ficava maravilhada, pensava ‘ela funciona’. Não deixava ninguém chegar perto, troquei todas as fraldas dela até os três meses. Teve um dia que escondi na bolsa uma meia dela que estava muito fedorenta, pra ninguém lavar. Eu ficava cheirando pra me acalmar. Era tipo um fandanguinhos.”

Sidarta fala que esse tipo de coisa acontece. “Porque somos mesmo bichos: animais, mamíferos, primatas que raciocinam, mas que nunca deixam de fazer as coisas típicas dos bichos, como respirar, comer, dormir, sonhar e amar.”

“Os cheiros das pessoas são muito diferentes e podem produzir sensações distintas dependendo de quem cheira. Mães e filhos costumam ter cheiros parecidos e costumam gostar destes cheiros.”

O neurocientista acrescenta que este lado amoroso é muito mais desenvolvido nos mamíferos do que nos outros animais. Segundo ele, isso tem a ver com o longo tempo que os filhotes de mamíferos passam com suas mães e pais, sendo protegidos para poder aprender mais.

Tati acha que se apaixonou perdidamente por Ritinha quando ela deu o primeiro sorriso, e que, desde então, o amor só aumenta. “A gente se mudou esses dias e, ontem, ela foi pra janela e gritou ‘Ei, pessoas, podem vir me visitar, já estou na casa nova’. Ela é demais.”

Mas, assim como há as gracinhas que toda criança faz, também tem os chiliques que a maioria delas dá. Será que, nem assim, com a parte difícil de ser mãe, elas desistem de gostar dos filhos? Será que isso afeta a fábrica de amor delas?

“Afeta sim”, diz Sidarta, “mas as mães quase sempre aguentam a repetição das frustrações. Além de terem uma tendência biológica de amar seus filhos incondicionalmente, isso é muito cobrado das mães pela sociedade.”

“Entretanto, nossa sociedade ainda reflete uma estrutura machista em que as mães trabalham muito mais que os pais no cuidado com os filhos. E isso vai cansando. É preciso cuidar mais e melhor das nossas mamães”, aconselha o cientista.

TODO MUNDO LÊ JUNTO
Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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