Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

Menino cria um mundo sem limites em sua cadeira de rodas

Peça 'Hora do Recreio' ensina sobre aceitação e acessibilidade

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São Paulo

Imagine ter que passar todos os intervalos dentro da sala de aula, sem poder ir para o pátio com os amigos —sim, muitas escolas nem estão abrindo atualmente por causa da pandemia, mas tente pensar como era aquela época antes de tudo mudar. Seria chato? Como será que é ficar sozinho e sem brincadeiras?

Pois a vida de Guilherme, um menino de dez anos, é exatamente assim. Porque sua escola não tem rampas de acesso por onde sua cadeira de rodas possa circular livremente, Guilherme não pode descer quando bate o sinal.

Guilherme é o personagem principal de “Hora do Recreio”, uma peça online gratuita que tem apresentações neste sábado (29) e domingo (30).

Peça "Hora do Recreio"
Cena da peça online "Hora do Recreio", sobre o menino Guilherme - Jeferson Medrado/Divulgação

E, embora ele esteja presente só na ficção, todo mundo sabe que existem vários meninos e meninas como ele, que se locomovem sobre rodas, e que seriam bem mais livres se houvesse mais acessibilidade por aí.

“Descobri que, mesmo com as suas limitações, as pessoas com deficiência querem estar junto de todos e ser tratadas iguaizinhas a todos os outros. Querem brincar junto, correr junto, e até tomar bronca junto —mas isso quando alguém não for legal com outro coleguinha”, conta Luciano Brandão, ator que interpreta Guilherme.

Para viver este papel, Luciano, que não usa cadeira de rodas na vida real, teve que treinar bastante para se sentir à vontade e ficar preparado fisicamente. “Principalmente os braços, porque tem que ter força neles”, explica.

“A parte mais difícil era me movimentar dentro da sala de aula, para não ficar batendo em todo lugar. Vai que eu derrubo as coisas, o cenário, aí não ia ficar legal, não é?”.

Para Fernando Lyra Jr., diretor do espetáculo, Guilherme é um menino bagunceiro, que adora contar histórias, e que ama, acima de tudo, estar junto com seus amigos.

Conforme a história vai passando, os colegas de turma de Guilherme aprendem bastante sobre ele.

“Aprendem que ele é um garoto justo, que assume suas responsabilidades, mesmo que seja suspenso da escola depois de admitir que grudou chiclete na porta do banheiro, para que ninguém seja responsabilizado por sua culpa”, completa Fernando.

Para ele, “Hora do Recreio” mostra que Guilherme é um garoto como outro qualquer. “Ele conta histórias, come lanche, dá risadas, tem medo, sonhos, ama os animais, acha a professora linda e faz tudo que uma criança faz”, enumera.

“Sendo assim, ele deve ser tratado como nós gostaríamos de ser, e principalmente conviver com todo mundo igualmente. A cadeira de rodas dele, na verdade, são suas pernas, só que diferentes.”

Entre uma história e outra, Guilherme imagina e projeta sua cadeira-de-rodas-foguete-supersônica-espacial.

Peça "Hora do Recreio"
Guilherme brinca na hora do intervalo - Jeferson Medrado/Divulgação

Ela tem retrovisores, estepe, esticador de pernas e jato de água para espantar cachorro. Com ela, ele pretende chegar mais rápido aos lugares e explorar outros universos. Isso enquanto o sinal não toca, avisando que o recreio acabou.

Um dia, Guilherme acaba caindo da cadeira. “É um momento de traquinagem”, diz o ator Luciano.

“Ele se sente tão livre brincando que se distrai e cai. Para ele, cair tudo bem, desde que não se machuque. A única coisa ruim é que ele leva bronca da mãe, pois, como ainda não consegue voltar ao assento sozinho, é ela quem o coloca de volta na cadeira.”

Para o diretor, o papel de “Hora do Recreio” é mostrar que a diferença está no olhar dos outros, e que as crianças cadeirantes só querem se divertir como todo mundo da mesma idade. “A reflexão está na aceitação”, resume.


HORA DO RECREIO

Texto e direção: Fernando Lyra Jr. Com Luciano Brandão. dias 29 e 30 de maio. Sáb. às 16h e dom. às 11h e às 16h. Grátis. Ingressos pelo Sympla (www.sympla.com.br). Link de acesso disponibilizado após confirmação do ingresso.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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