Testes em animais permitem saber se as coisas são seguras para humanos

Cientista explica que bichinhos são importantes e recebem tratamento digno

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São Paulo

Olhe um pouco ao redor: alimentos, remédios, maquiagem, xampu, creme dental e outros itens de higiene pessoal. Tudo isso, antes de chegar até a nossa casa, passou por testes em animais.

Os testes são uma maneira que os cientistas têm para se certificar de que as coisas que de alguma maneira usamos no corpo não vão nos fazer mal. Seria muito arriscado já sair usando e consumindo esses produtos sem uma garantia de que são seguros.

Teste em animais - Folhinha
"Os cientistas só fazem isso porque entendem a importância do conhecimento obtido para a humanidade”, diz a biomédica Laís Berro - Catarina Pignato

Até mesmo os brinquedos são testados. Porque, imagine só: uma toxina presente no plástico do qual é feito um carrinho de brinquedo, por exemplo, pode envenenar uma criança.

Produtos de higiene e beleza, por sua vez, podem ter elementos capazes de causar alergias e queimaduras. Isso sem falar nos problemas que alguns remédios podem causar, como malformações em bebês.

Para evitar essas encrencas, o único jeito é conhecer ao máximo esses produtos e as substâncias dos quais eles são feitos, e o efeito deles em organismos vivos, como células cultivadas em laboratórios e em animais de experimentação.

Mas por que não fazer testes diretamente em humanos e deixar os bichinhos em paz?

Sem os testes, talvez algumas questões ficariam sem resposta. Ou, se tivessem respostas, pode ser que elas demorassem muito a chegar.

É o que explica Laís Berro, biomédica brasileira professora no Centro Médico da Universidade do Mississipi, nos EUA. “Alguns acompanhamentos poderiam levar mais de 20 anos, contra apenas alguns meses com base em pesquisas com animais”, conta.

Imagine, por exemplo, como é urgente buscar novos tratamentos contra o câncer, e como essa busca precisa ser séria. É preciso ter certeza de que esse remédio tem mais chance de fazer bem do que mal aos pacientes.

Laís trabalha com pesquisas que envolvem roedores, como ratos e camundongos, e também primatas, como macacos-resos.

“Antes dos testes em animais existirem a taxa de mortalidade era enorme e não existia uma quantidade suficiente de medicamentos para tratar as diversas doenças”, explica Laís. “Imagina o risco que corria, por exemplo, uma criança alérgica sem acesso a um medicamento antialérgico.”

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A biomédica Laís Berro é professora no Centro Médico da Universidade do Mississipi, nos EUA - Arquivo Pessoal

Mas os animais se machucam no processo? As normas que as pesquisas seguem são rígidas para minimizar ao máximo o sofrimento animal. Um bom resumo são os três “erres”: reduzir o número de animais usados ao mínimo possível, refinar (aperfeiçoar) as técnicas para reduzir o sofrimento, e substituir (do inglês “replace”) sempre que for possível o experimento com animais por outro método.

As normas são rígidas especialmente em pesquisas que envolvem macacos, explica Laís. Isso acontece não só pelo custo elevado de criação desses animais, mas também pela proximidade evolutiva com a espécie humana.

Em geral, os animais moram no laboratório, em gaiolas, normalmente em pares ou em grupos —alguns estudos exigem que eles morem sozinhos nas gaiolas, mas para isso é preciso ter aprovação de um grupo de pessoas chamado comitê de ética.

Os animais sempre têm contato visual e auditivo uns com os outros. Em alguns lugares, eles têm também uma área externa onde podem correr.

“Macacos comem ração especial suplementada com frutas, vegetais e forragem (sementes, frutas secas, castanhas) que a gente coloca em cima de uma grama sintética, onde eles brincam. Cada animal tem um brinquedo e um espelho dentro da gaiola, o que torna o ambiente mais estimulante”, conta Laís.

“Eles também ouvem música durante o dia e uma vez por semana assistem filmes —os favoritos são ‘O Rei Leão’, ‘Procurando Nemo’ e ‘O Reino dos Primatas’; curiosamente alguns macacos odeiam os filmes das ‘Crônicas de Nárnia’.”

Sofrimento, especialmente em macacos, é proibido pelos comitês de ética. Se algum animal está passando por qualquer tipo de sofrimento não previsto, eles recebem remédio para dor.

“Normalmente isso acontece por causas não relacionadas ao estudo: por exemplo, uma macaquinha nossa tem cólica menstrual todo mês e recebe ibuprofeno durante esses dias; um outro macaquinho precisou ter um dente removido por causa de uma cárie e está em tratamento para dor.”

Infelizmente não é possível trocar tudo o que se testa em animais por outros modelos experimentais ou simulações em computadores, mas alguns resultados são animadores.

Algumas marcas de maquiagem já conseguiram construir sistemas para simular o funcionamento da pele humana, por exemplo. Era muito comum que testes fossem feitos em coelhos, para ver se havia sinais de reação alérgica.

Somando esses testes já feitos ao conhecimento que os cientistas acumularam ao longo das décadas de desenvolvimento, é possível ir daí já para os testes em humanos, sem passar pelos animais.

“É errado pensar que quem faz pesquisa em animais não gosta deles. Eu sou apaixonada! Os cientistas só fazem isso porque entendem a importância do conhecimento obtido para a humanidade”, diz Laís, que também faz parte de um grupo que quer aumentar a transparência e o potencial de gerar novos tratamentos com base nas pesquisas com animais.

“Os cientistas defendem o uso responsável de animais em pesquisas e os tratam com humanidade e dignidade. A pesquisa animal é insubstituível para o avanço da ciência.”

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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