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'Julián É uma Sereia' fala de menino que quer viver da forma que se vê no espelho

Protagonista do livro de Jessica Love sabe que é uma sereia (mas o que acontece quanto todo mundo souber?)

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Ilustração do livro da americana Jessica Love Divulgação

São Paulo

Julián é moreno, tem cabelos curtos cacheados e uma barriguinha comum a crianças da sua idade. Por falar em idade, assim, pelas imagens, dá para chutar que Julián tenha lá seus sete, oito, talvez dez anos.

Digo “chutar” porque é difícil acertar exatamente quanto tempo de vida uma pessoa tem só de olhar para o seu rosto ou seu corpo. Na verdade, é difícil arriscar e acertar dizer qualquer coisa a respeito do que se passa dentro de alguém só pela forma que essa pessoa tem de existir no mundo.

Pois o que sabemos com precisão a respeito de Julián é que ele é neto da Vozita, uma mulher de cabelos brancos e brilhantes. Os dois aparecem juntos logo nas primeiras páginas de “Julián É uma Sereia” (editora Boitatá, 40 páginas, R$ 53), caminhando de mãos dadas em direção a uma estação de trem.

E, logo na página seguinte, quando Vozita e seu neto já estão embarcados no vagão, também descobrimos que Julián, o protagonista da nossa história, adora sereias. Precisa ver o jeito com que ele observa três passageiras próximas a ele —Julián fica tão admirado que se perde em pensamentos.

Nesta sua breve divagação, ele é envolvido pela água salgada do mar onde peixinhos nadam tranquilos, e vai se despindo da roupa que usa na realidade: tchau, regatinha branca, adeus bermudinha vermelha! Julián agora tem cabelos muito longos e... uma cauda de sereia.

“Vamos, filho. Descemos nesta estação”, e é assim que Vozita chama o neto de volta à vida real. Só que aquela não é uma fantasia boba de Julián. Aquela não é a primeira nem será a última vez que sonhará que é igual àquelas que ele contempla em todos os lugares.

Porque há sereias onde quer que você olhe. Além do trem, com as sereias adultas, elas também brincam felizes, em sua forma criança, ao redor de um hidrante que esguicha água fresca em um dia quente de verão.

Julián quer saber se Vozita também viu as sereias. E Julián quer, acima de tudo, que Vozita saiba que ele também é uma sereia.

Enquanto a avó toma banho, quando chegam do passeio, Julián —agora de verdade— tira a roupinha, pega uma samambaia do vaso, prende com uma faixa aos cabelos e ainda acrescenta flores ao penteado.

Enquanto Vozita toma banho, Julián se transforma - Divulgação

Em frente ao espelho, Julián capricha no batom. E, olhando para a janela, tem uma ideia incrível: as cortinas da casa de Vozita se transformam em uma saia que parece uma cauda que parece a coisa mais divina que já existiu. Julián está pronto.

Vozita sai do banho e se depara com a novidade —será que ela vai ficar brava? Pelo contrário. Ela dá um presente ao neto. É um colar de contas cor-de-rosa que dá duas voltas no pescoço de Julián, que agora parece mais orgulhoso do que nunca.

O que acontece depois fica como surpresa para quem quiser ler o livro, escrito e ilustrado pela americana Jessica Love. Mas é importante dizer que “Julián É uma Sereia” sugere reflexões importantes para os adultos que quiserem conhecer a história na companhia das crianças.

Isso porque, enquanto a gente é pequeno, olha para o mundo de uma maneira mais leve e livre, menos enfumaçada do que como acaba encarando as coisas depois de crescer. É bem possível, por exemplo, que uma criança entenda melhor que muita gente grande a história de “Julián É uma Sereia”.

Se for este o caso aí na sua casa, fica aqui uma sugestão para te ajudar a explicar as coisas para seus adultos: diga a eles que a vida é muito curta para passarmos ela toda de um jeito desconfortável. Ou, compare o mundo a uma festa, onde todo mundo quer e merece ser feliz estando dentro da roupa que realmente foi destinado a usar.

Depois me conta se eles compreenderam tudo.

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Vozita e Julián saem para passear - Divulgação

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