Experimente começar a ler este texto em voz alta a partir daqui: “Planeta Terra chamando! Planeta Terra chamando! Este é o diário de bordo de Lucas Silva e Silva, falando diretamente do Mundo da Lua, onde tudo pode acontecer”.
Agora observe se os adultos à sua volta abriram um sorriso e estão olhando para você. Se esta foi a reação deles, há uma boa explicação. É que este era o bordão (que é como se chama aquela fala que um personagem repete frequentemente) do protagonista de uma série muito famosa quando eles eram pequenos.
“Mundo da Lua” foi ao ar na TV Cultura há 30 anos, entre outubro de 1991 e setembro de 1992, quando talvez seus pais, tios e tias tivessem a mesma idade que você tem agora. No programa, quem dizia que o planeta Terra estava chamando era o Lucas Silva e Silva, um menino que mora com a família em uma casa em São Paulo.
Quando completa dez anos, Lucas recebe de presente do avô Orlando um gravador. E, a partir dali, toda vez que ele tem algum problema, seja uma implicância com a irmã Juliana, um desentendimento na escola ou uma briga em casa, Lucas corre para gravar uma história fantástica em que tudo acontece como ele gostaria.
“O Lucas Silva e Silva era uma mistura de mim menino e do meu filho, que tinha a mesma idade do Lucas”, conta Flavio de Souza, criador de “Mundo da Lua”. “Era um menino que tinha qualidades e defeitos, que gostava de todas as pessoas da família, mas isso não o impedia de ter probleminhas com cada um deles, que também tinham probleminhas com ele, mas tudo acabava sempre se resolvendo.”
Quem interpretava Lucas Silva e Silva era o ator Luciano Amaral, que depois viveria o Pedro, em "Castelo Rá-tim-bum". Na época, ele já tinha feito comerciais de TV, mas nunca tinha participado de nenhum programa. A mãe de Luciano ficou sabendo de um teste que selecionaria um menino para uma nova série, e resolveu levá-lo para participar.
“Eu me lembro de ter muito medo quando fui aprovado, me lembro de chorar porque não queria fazer. Nas propagandas, eu tinha que decorar um texto pequenininho. Daí peguei o papel principal de uma série e fiquei muito impactado com a quantidade de textos dos roteiros, o sentimento era de que não ia dar conta. Mas, no fim das contas rolou”, lembra Luciano.
Ele tinha 12 anos quando participou do “Mundo da Lua”, e conta que precisou continuar estudando direitinho mesmo com a rotina de gravações. “Eu ia de manhã para o colégio e saía direto para a TV Cultura. Um carro me pegava na escola. Eu almoçava na TV e pegava o texto para começar a gravar”, conta.
No meio da tarde, enquanto os adultos do elenco continuavam gravando cenas, Luciano tomava um lanche, fazia a lição de casa e estudava para as provas, isso tudo sempre de segunda a sábado, com folgas só aos domingos.
A frase famosa de Lucas Silva e Silva estava no roteiro escrito por Flavio de Souza, e foi ganhando o jeitinho típico de o personagem dizê-la ao longo dos episódios. O gravador que Lucas usava para gravá-la, aliás, era sonho de consumo de todas as crianças da época: todo cheio de luzes piscantes e coloridas.
“Era um objeto que eu quis ter muito quando tinha a idade dele. Até aconteceu uma coisa triste, eu ganhei um gravador num Natal dos meus pais, mas ele não funcionava direito, e meu pai ficou muito chateado porque tinha comprado um que era barato, ele gostaria de ter comprado um melhor, mas o dinheiro deles não deu”, recorda o autor Flavio.
“Mas, no ano seguinte eu ganhei um gravador excelente, que usei para gravar músicas do rádio e de filmes direto da televisão. O gravador do Lucas Silva e Silva é um chamado Geloso, que era importado, só existia na Itália e, para trazer para o Brasil, fazia o preço ficar ainda maior, então a gente nem sonhava em ter um desses. E um Geloso de verdade não tinha aquelas luzes que piscam quando ele funciona.”
Todos se lembram com muito carinho da época de “Mundo da Lua”, um dos programas infantis de mais sucesso da TV Cultura, e que hoje em dia é reprisado na TV Rá Tim Bum em horários variados.
“Para mim foi muito especial porque trabalhei com minha família verdadeira. Eu estava grávida de verdade, o personagem Tio Dudu, do Flavio de Souza, era meu marido na vida real”, lembra a atriz Mira Haar, que interpretava Carolina, mãe de Lucas.
“O Lucas era um garoto muito legal e amoroso. O Luciano, além de ser um grande amigo, me chama de mãe até hoje, virou meu filho para sempre e hoje ele é padrinho da minha neta de verdade, acreditam?”.
Para Luciano, um dos episódios mais legais de fazer foi o “Lar Doce Lar”, em que Lucas não quer comer verduras e, no sonho do gravador, tudo é feito de doce. “Era tudo comestível, não era nada cenográfico!”, diz.
“Teve outro com Lucas jogando na seleção brasileira de futebol, e eu sempre gostei muito de futebol. Nesse eu fiquei nervoso porque tinha que cobrar uma falta e fazer um gol, jogar com uns caras maiores. Era tudo muito bom.”
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