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Jabutis do músico Itamar Assumpção inspiram novo livro infantil

Anelis Assumpção lembra a infância, o pai e os animais Devagar e Quase Parando

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São Paulo

Jabutis são aqueles que vivem na água ou os que habitam a terra? Eles comem alface ou gostam de carne? É bem normal não lembrar todos os detalhes a respeito dos hábitos de vida dos jabutis e acabar confundindo-os com seus primos cágados e tartarugas, mas uma coisa que qualquer pessoa sabe sobre eles é que são grandes inimigos da pressa.

Essa característica dos quelônios —que é como se chama essa ordem de répteis que inclui os três animais— é uma das mais famosas, e não à toa é tema de várias histórias infantis. Essa história aqui, por exemplo, se baseia na lentidão dos jabutis para falar do Devagar e do Quase Parando.

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Ilustração de Dalton Paula para livro de Itamar Assumpção - Divulgação

Estes nomes bem apropriados foram dados aos jabutis que chegaram um dia à casa da família Assumpção, que morava no distrito da Penha, em São Paulo. Quem batizou os bichinhos foi Itamar, pai das meninas Serena e Anelis.

Pois Devagar e Quase Parando foram direto morar no quintal e não eram muito de interagir com os humanos. Ainda assim, certamente observavam com interesse as brincadeiras que aconteciam ali.

“Eu gostava de brincar de caçar abelhinhas. Eu pegava um vidro, fazia muitos furos na tampa com um prego, meu pai me ajudava. E a gente ficava olhando de pertinho como elas eram, as patas, as asas, não por muito tempo, logo a gente soltava”, lembra Anelis, hoje com 41 anos.

Ela e irmã também brincavam de subir no abacateiro e de esconde-esconde nas folhagens —nessa modalidade, Devagar e Quase Parando eram grandes mestres, Anelis conta, porque era impossível encontrá-los depois que eles se enfiavam pelas plantas.

Outra brincadeira de sucesso era quando Itamar pedia que as meninas fechassem os olhos e abrissem as mãos, e elas tinham que adivinhar se o que ele colocava ali em suas palmas era um moranguinho, um tatu ou uma minhoca (não importava o que fosse, no final o pai sempre presenteava as duas com um beijinho e o moranguinho).

“Meu pai foi um cara muito legal. Foi, não, ele é. Ele é tão legal que, mesmo depois que ele morreu, ainda continua acontecendo um monte de coisas que ele deixou aqui pra gente aprender, ver com beleza, pra gente melhorar, entender as outras pessoas, a natureza, pra gente se sensibilizar”, diz Anelis.

Itamar Assumpção morreu em 2003, aos 53 anos. “Ele deixou um monte de coisa bonita escrita, muitas músicas feitas, muitos textos, poemas, fora todos os discos que ele lançou, porque meu pai, além de ser muito legal, ele era cantor, compositor, produtor, arranjador, ator. Ele era um grande artista.”

Entre esses presentes que ficaram mesmo depois da partida de Itamar, está o livro “O Jabuti Não Tá Nem Aí” (Editora Caixote, 40 páginas, R$ 52), lançado agora com ilustrações de Dalton Paula e prefácio assinado por Anelis Assumpção.

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Ilustração de Dalton Paula fala das cores presentes ao casco dos jabutis - Divulgação

Os versos falam mais sobre como os jabutis gostam de viver suas longas vidas (eles podem passar dos 80 anos!). Itamar escreve, por exemplo, sobre como são bichinhos da paz, muito mansinhos, e lembra que, se eles por algum motivo acabarem de barriga para cima, vão precisar de ajuda para se desvirar.

A Editora Caixote já havia lançado recentemente outro livro do artista, também para crianças, chamado “Homem-Bicho – Bicho-Homem” (32 páginas, R$ 52), e pretende publicar até o próximo ano mais dois volumes da mesma coleção.

Nessa família tão ligada à arte e à natureza, tanto Anelis quanto Serena também viraram artistas e foram ser cantoras e compositoras.

“No começo, eu não queria fazer música, não, eu queria desenhar, fazer arquitetura, biologia, eu gostava muito de história. Aí depois eu fui crescendo e vi que, com a música, eu podia fazer tudo que eu gostava. Dentro da música cabiam todos os mundos que eu gosto de explorar. Meu pai me estimulou sem querer”, entende Anelis.

Serena também partiu muito cedo, aos 39 anos, em 2016, deixando bastante saudade. Anelis, por sorte, tem muitas lembranças boas daquele quintal onde moravam Devagar e Quase Parando, e onde ela viveu uma das partes mais gostosas de sua infância junto do pai e da irmã.

“A gente tinha vários pés de cana e meu pai colhia, descascava, e fazia uns palitinhos bem fininhos de cana pra gente chupar”, conta Anelis. “Sinto saudade de passear na Penha a pé. E eu gostava muito de ir com meu pai comprar cadernos e canetas. A gente era muito ligado.”

“Meu pai era um grande amigão, eu sinto falta desse amigo de verdade, que me ensinou tantas coisas lindas, que me ensinou a ser uma mulher adulta, que me ensinou que o mundo era tão maior do que aquele nosso quintal, e que eu não tivesse medo de sair do quintal e ir pro mundo. Tenho saudade do meu velho.”

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