Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

'Vamos marcar um psicólogo?': saiba por que é legal se sua família sugerir isso a você

Christian Dunker ajuda crianças a entender como são a conversa, o consultório e a relação na terapia

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São Paulo

Um dia, Leticia ouviu dos pais que talvez fosse a hora de começar a ir a um psicólogo. Ela tinha oito anos naquela época. A família explicou à menina que todo mundo precisa de alguém para conversar e desabafar, e que isso também podia ser bom para ela. Leticia aceitou a proposta e foi.

Ela já tinha uma ideia de como funciona o trabalho de um psicólogo, porque todos na sua casa em algum momento da vida frequentaram um consultório desse tipo. Acontece que nem todo mundo sabe o que um psicólogo faz na prática e, quando escuta que precisa começar a se encontrar com um, pode se sentir inseguro —afinal, será que eu estou ficando maluco para precisar desse tipo de ajuda?

Sobre fundo rosa, criança segura rolo de linha vermelha embaraçado, de sua boca saem balões que chegam aos ouvidos de mulher sentada a sua frente. Ela segura uma ponta da linha e vai enrolando num carretel.
Uma psicóloga ajudando uma criança a "desatar alguns nós" - Carolina Daffara

Calma, que a resposta é “não”. Um psicólogo é, antes de tudo, um especialista em escutar pessoas. Quem explica isso é Christian Dunker, um cara bem importante na sua profissão (olha quanta coisa vem escrita no cartão de visitas dele: “psicanalista, professor titular em psicanálise e psicopatologia do Instituto de Psicologia da USP”).

“A gente vai a um psicólogo para falar e descobrir coisas sobre nós e especialmente coisas que não estão indo muito bem com a gente. Ele é um amigo? Mais ou menos. Um médico? Mais ou menos”, começa Christian.

“Ele ou ela é especializado em ouvir coisas estranhas da gente, do mundo, da vida. Coisas que às vezes a gente nem sabe dizer o nome delas, coisas que a gente está sentindo sem saber que está sentindo, coisas que a gente quer dizer, mas não encontra as palavras.”

Não importa qual seja a sua idade, você já deve ter percebido que a vida tem momentos alegres e tristes. É que é comum sentir medo de alguma coisa, ou tristeza, até raiva. “Acontece que, às vezes, a gente sente essas coisas muito mais forte do que deveria sentir”, continua Christian.

“Como se aquilo virasse um monstro dentro da gente, como se a gente começasse a brigar com aquilo. Às vezes, a gente perde o gosto por brincar, por dormir, comer, fazer coisas de que a gente gosta. Descobrir porque isso está acontecendo é o que a gente faz no psicólogo.”

Leticia, a menina do começo do texto, hoje tem 12 anos, então faz bastante tempo que ela visitou uma psicóloga pela primeira vez. Mesmo assim, ela se lembra bem de como foi essa consulta inicial.

“Meu pai entrou comigo, começou a conversar com a recepcionista, e ela me pediu para eu seguir no corredor porque, lá no fundo, ia ter a sala da psicóloga. Cheguei lá, ela se apresentou, sentei na cadeira e era tudo muito bem decorado, tinha vários jogos e várias plantas espalhadas, um tapete e um sofá também”, conta.

Além de conversar e fazer algumas perguntas, a psicóloga da Leticia propôs uma brincadeira. “Era um jogo que tinha que empilhar algumas taças e tirar uma por uma sem deixar a do topo cair. Era muito legal. Quando saí, ela conversou com meu pai e ele veio me perguntar se eu queria continuar fazendo. Eu disse que sim.”

Christian explica que os consultórios dos psicólogos são muito diferentes uns dos outros, seja para atender adultos ou crianças. “Mas, em geral, eles têm lugares pra gente sentar, têm brinquedos de muitos tipos, uma mesa pra jogar. E eles são feitos pra gente se sentir à vontade”, resume.

E sabe aquela cama engraçada que às vezes aparece nos filmes e desenhos quando alguém vai ao psicólogo, e a pessoa se deita ali de costas para quem está atendendo? Pode ser que você encontre uma —ela se chama divã—, e, se quiser, vai poder se deitar nela também.

As consultas duram em média uma hora. É provável que vocês conversem e brinquem. “Tem psicólogos que caminham com a criança pelo quarteirão, pela praça, andam até algum lugar. E a gente pode discutir filmes, Tik Toks, Youtchubes...” (sim, o Christian chama o Youtube de Youtchube e é famoso por isso também).

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O psicanalista Christian Dunker, que gosta de dizer "Youtchube" e entende tudo sobre psicólogos - Mastrangelo Reino/Folhapress

Leticia faz terapia, que é o jeito que a gente chama esse tratamento com psicólogos, até hoje. Ela já parou por um tempo e depois voltou porque sentiu vontade. “Uma das coisas mais importantes que aprendi com a minha terapeuta é que a gente faz terapia para lidar com pessoas que não fazem terapia”, ensina.

“Por outro lado, é muito difícil falar sobre mim mesma, contar sobre os meus problemas para outra pessoa. Ainda me sinto um pouco desconfortável. Mas, a partir do momento que você começa a ir frequentemente, fica muito legal, você pega intimidade e ela vira sua amiga.”

Christian explica uma parte importante, da qual muita gente desconfia: será que o psicólogo conta para alguém o que a gente conta para ele? “Ele não vai contar, a não ser que ele te diga que vai ter que contar. Porque, às vezes, pra parar de doer, para atacar o problema, a gente vai precisar da ajuda da família, de outros médicos, dos irmãos, de professores, e até da escola. Mas você vai autorizar isso”, diz.

E os segredos da gente, será que ele vai descobrir? “Você vai descobrir seus segredos!”, se entusiasma Christian. “Essa é a ideia, se tudo der certo. E é bom que aconteça”, tranquiliza.

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A menina Letícia Cassandre Coelho Gomes, 12 anos, que mora em Tatuí, no interior de São Paulo, e faz terapia desde os oito anos de idade - Arquivo Pessoal

Leticia confirma que a terapia a ajuda muito. “Já consegui passar de vários episódios ruins da minha vida com a terapia porque eu sinto que lá ela vai me ajudar a achar os problemas e a solução pra eles”, relata.

“Já consegui parar de fazer muitas coisas ruins que eu fazia comigo mesma. E nem sempre você vai ter uma coisa ruim pra contar, e que bom se só tiver coisa boa. E, quando tiver coisa ruim pra contar, conta, desabafa e fala, porque isso vai te fazer bem.”

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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