Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

De mosquinhas a cachorros, conheça a saga dos animais que foram ao espaço

Um dos bichos mais famosos a voar em uma nave foi a cadela Laika, que nunca voltou à Terra

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Conforme os humanos se espalharam pelo planeta, eles quase sempre tiveram animais como companheiros. Mas, quando chegou a hora de ir ao espaço, eles ganharam uma função ainda mais importante, a de precursores.

Quando alguém faz uma coisa antes de todo mundo, essa pessoa é considerada uma precursora naquele assunto. Pois, quando os primeiros foguetes começaram a deixar a atmosfera da Terra, 80 anos atrás, ninguém sabia se era possível viver e trabalhar adequadamente no ambiente espacial —e foi, então, que os animais entraram nessa história.

Ilustração com fundo azul escuro mostra diversos animais no espaço sideral: duas cachorrinhas, Belka e Strelka, passeiam sobre a Terra. Acima delas à esquerda, a cachorrinha Laika brinca com asteróides. Ao seu lado um chimpanzé brinca de ponta cabeça, ao lado dele, um macaquinho Albert II, voa agarrado a um foguete. Abaixo dele, uma tartaruga flutua presa por balões.
Carolina Daffara

Afinal, como seria possível descobrir como um organismo vivo reagiria à sensação de flutuar se não existisse gravidade? Ou se ele conseguiria comer e tomar água nessa situação? E manejar instrumentos? E simplesmente sobreviver, se exposto à radiação cósmica?

O único jeito de saber tudo isso era mandar alguém até lá, só que não dava para começar com humanos.

O primeiro experimento foi bem modesto e despachou apenas algumas moscas-das-frutas -sabe aquelas que ficam voando em cima da banana quando ela já está bem madura?

As moscas foram embarcadas em uma cápsula no topo de um foguete V-2. Esse veículo tinha sido criado por cientistas alemães durante a Segunda Guerra Mundial, e depois disso foi reconstruído nos Estados Unidos.

O voo aconteceu em 20 de fevereiro de 1947, dois anos após o fim da guerra, e queria testar os efeitos da radiação espacial nos insetos. A cápsula atingiu 109 km de altitude, ultrapassando a fronteira definida do espaço, e desceu de paraquedas, sendo resgatada.

As mosquinhas sobreviveram, tornando-se os primeiros animais (até onde se sabe) a atingir o espaço.

Mas nem sempre o final era feliz assim. Albert II era um macaco-reso e se tornou o primeiro primata no espaço, a bordo de um V-2, em 14 de junho de 1949. Seu paraquedas falhou e ele morreu na queda.

E esse, infelizmente, não era um desfecho incomum. Dois em cada três macacos lançados em missão durante os anos 1940 e 1950 morreram no pouso, ou logo depois dele. Resgatar cápsulas que vão ao espaço se mostrou bem mais difícil do que enviá-las até lá.

Os americanos, então, estavam em uma corrida com a União Soviética (hoje chamada de Rússia) para desenvolver foguetes cada vez mais potentes. Não só para levar gente ao espaço, mas, principalmente, para transportar bombas em caso de uma nova guerra.

Mas os soviéticos costumavam lançar cachorros. Em 1951, voaram os cãezinhos Tsygan e Dezik, que foram até o espaço e voltaram, sobrevivendo ao pouso (ufa!). Era a primeira vez que um animal de grande porte ia ao espaço e voltava para contar a história.

Arca de Noé espacial

Esses experimentos todos eram feitos sem grande divulgação. Sua realização era responsabilidade dos militares, que têm por costume o segredo. Além disso, ninguém ia gostar de ficar sabendo que tantos animais vinham morrendo em voos de foguete.

Isso mudaria em 1957. Em 4 de outubro daquele ano, a União Soviética lançou o Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra. Diferentemente dos voos anteriores, em que o foguete subia ao espaço e logo descia, desta vez uma nave foi levada até lá em cima e lá foi deixada, dando voltas ao redor do nosso planeta.

Era um feito muito mais impressionante. Os americanos ficaram tão assustados que precisaram logo reagir, dando início à corrida espacial.

Os soviéticos não estavam para brincadeiras. Menos de um mês depois, em 3 de novembro, eles lançaram ao espaço, dentro do Sputnik-2, a cachorrinha Laika. Ela ficou famosíssima, e se tornou o primeiro animal a orbitar a Terra.

Infelizmente, ainda não havia tecnologia para recuperá-la com vida. Trazer uma nave da órbita é ainda mais complicado do que buscá-la de uma rápida passada no espaço, porque ela viaja muito mais depressa. Apesar das dificuldades, era uma tecnologia que tanto americanos quanto soviéticos teriam de desenvolver se quisessem enviar pessoas em voos futuros.

Finalmente deu certo em 19 de agosto de 1960, quando a União Soviética lançou o Sputnik-5. A bordo, duas cachorras, Belka e Strelka, além de um coelho, 40 camundongos, 2 ratos e 15 frascos com moscas-das-frutas e planetas —​quase uma Arca de Noé espacial. Voltou todo mundo são e salvo, pela primeira vez após um voo orbital.

Nos Estados Unidos, a prioridade era testar bichos mais parecidos com humanos, capazes de mover alavancas e apertar botões, como astronautas teriam de fazer depois. Sendo assim, em 21 de janeiro de 1961, Ham se tornou o primeiro chimpanzé a ir ao espaço e voltar numa cápsula Mercury. O mesmo modelo levaria o primeiro astronauta americano, Alan Shepard.

Mas foi um voo daqueles rapidinhos. Para conferir que um primata conseguia desempenhar tarefas por longo período, os americanos mandaram Enos, que se tornou o primeiro (e até hoje único) chimpanzé a orbitar a Terra, em 29 de novembro de 1961.

Foto tirada em novembro de 1957 da cadela Laika - AFP

Com os primeiros voos com orbitais gente, entre 1961 e 1962, tornou-se menos necessário enviar animais como precursores para testar sua capacidade de sobreviver nessas viagens espaciais. Até hoje, alguns deles são enviados ao espaço e passam rotineiramente por experimentos a bordo da Estação Espacial Internacional, principalmente ratos e camundongos, mas não mais com o mero objetivo de sobreviver.

Ainda assim, nas viagens à Lua, mais uma vez animais foram precursores. Em 14 de setembro de 1968, a União Soviética lançou uma cápsula, chamada Zond-5, com duas tartarugas, moscas, minhocas e outros espécimes vivos. Ela deu a volta na Lua antes de voltar à Terra, e essas criaturas foram as primeiras habitantes do nosso planeta a passear nos arredores do nosso satélite natural.

Os americanos ficaram com tanto medo de que os soviéticos lançassem gente para a Lua em seguida que anteciparam o voo da missão Apollo-8, que partiu em dezembro de 1968 levando os primeiros astronautas a dar uma volta ao redor da Lua.

No fim, os americanos também levaram animais para um passeio lunar, mas apenas nas missões Apollo-16 e 17. Realizadas em 1972, elas levaram vermes e camundongos, respectivamente. E aí os animais foram acompanhados por pessoas, passando de precursores a companheiros do homem na exploração do espaço.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.