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Paola Carosella dá sua receita de coragem para as crianças

Chef argentina é uma das biografadas em novo livro sobre mulheres imigrantes

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São Paulo

Embora já fosse dona de restaurantes no Brasil, a chef Paola Carosella se tornou conhecida do grande público quando se tornou jurada do programa MasterChef.

Só que Paola é muito mais do que aquela chef elegante, com sotaque bonito e cheia de talento —ela é uma mulher de muita coragem, que construiu sua vida longe do lugar em que nasceu, e que ainda se consagrou em uma profissão muitas vezes vista como exclusiva para homens.

Paola Carosella nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 1972. Ela já foi eleita por uma revista importante chamada Forbes como uma das mulheres mais poderosas do Brasil.

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Paola Carosella em foto de 2019 - André Giorgi/UOL

Sua história é uma das que são contadas no novo livro "Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes: 100 mulheres imigrantes que mudaram o mundo" (Elena Favilli, editora Planeta, R$ 119,90, 224 páginas). Paola conversou com a Folhinha a este respeito.

Quando você era criança, gostava de contos de fada e histórias de princesa?

Eu me lembro de gostar muito de livros de suspense e de histórias reais, de pessoas de verdade. Histórias de aventuras também eram minhas favoritas. E eu amava ouvir rádio.

Você consegue lembrar quais eram suas personagens femininas favoritas na ficção e na vida real e por que gostava de cada uma delas?

Anne Frank [menina que escreveu "O Diário de Anne Frank"] foi uma das minhas heroínas. Eu sofria junto e o meu relacionamento com ela ficou tão próximo que, às vezes, sentia que estávamos no mesmo quarto.

Como você era na escola entre seus amigos e amigas?

Muito tímida, muito solitária. Tinha dificuldade para fazer amigos, era muito alta, bem mais alta que a maioria. E era bem tímida. Queria fazer amigos, mas não sabia muito bem como.

Havia algo, na sua infância e adolescência que você gostaria de fazer, mas que foi impedida porque era menina?

Não, mas, quando eu quis começar a cozinhar, aos meus 18 anos, tive dificuldades em encontrar um restaurante que me acolhesse para fazer estágio, pois nenhum aceitava mulheres.

Você tem um trabalho que, por muito tempo, foi considerado como algo só para homens. Você acha que sofreu esse tipo de preconceito na sua carreira?

Eu acho que eu não conseguia entender que o que me magoava era preconceito. Eu sofria, me sentia discriminada ou desvalorizada, e isso me fazia mal, mas eu não entendia. Hoje sei, mas lá na época não se falava disso, e eu aceitei como algo normal. Isso fez com que eu tivesse que me esforçar ainda mais, muito mais, o que pode parecer até bom —às vezes gostamos de histórias de superação, ou achamos que, quanto mais difícil algo fica, mais aprendemos ou mais crescemos.

Hoje sei que nem tudo deveria ser tão difícil. Eu sempre gostei muito de trabalhar e sempre fui muito dedicada, mas às vezes a pressão era tanta que eu achava que nada do que eu fizesse era o bom o suficiente. Isso me fez crescer bastante insegura também, almejando resultados perfeitos que não existem. Fiquei muito exigente comigo mesma, mas não de uma forma muito saudável. Demorei um tempo para entender que o melhor que eu pudesse fazer já era muito bonito. E que o perfeito não existe.

Paola Carosella e sua frigideira poderosa - Instagram/paolacarosella

Você não nasceu no Brasil, e veio quando já era adulta. Sua mudança de país foi aceitando um desafio, para um trabalho novo, em uma terra estrangeira. Você se considera uma pessoa corajosa?

Eu me entendo, sim, como uma pessoa corajosa. Mas a coragem é um processo que se constrói. A coragem não é somente assumir um risco, é assumir um risco avaliando as consequências e sendo responsável por elas. E isso se constrói com tempo. E, outra coisa: ser corajoso não quer dizer não ter medo. Podemos ter medo! Muito medo! O medo é uma demonstração de responsabilidade também. Ser corajoso não é dar um salto no escuro. É entender a profundidade do salto e saltar com medo, mas confiantes de que vamos conseguir. Isso leva tempo e se constrói com experiência.

Muitas crianças conhecem você por causa do MasterChef, onde você parecia ser uma mulher que tem orgulho de ser quem é. O que você diria para meninas que duvidam da própria capacidade?

Eu diria que duvidar da nossa própria capacidade é bem comum. Que dificilmente a gente não sente que precisa ser mais do que é, ou entregar mais do que faz. Pelo menos para mim sempre foi assim. O que importa talvez seja saber que isso nunca pode doer. Uma coisa é querer correr mais rápido e treinar para isso. Outra é sentir que nunca vamos ser boas o suficiente em nada. Sentir que não merecemos amor, ou carinho, ou que nos aceitem.

Eu diria que todos somos perfeitos como somos. E que o nosso brilho mais poderoso está quando deixamos de nos comparar com outros, e quando nos comprometemos a estabelecer um relacionamento de amor com nós mesmas. Leva tempo, pelo menos para mim levou. E muita gente me ajudou. Pedir ajuda é importante. Nossa obrigação nesta vida é ser o mais felizes que pudermos ser. E, às vezes, precisamos de uma pequena ajuda para encontrar esse caminho.

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