Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

Vitiligo é como ter na pele 'um céu cheio de nuvenzinhas', conta fotógrafa

Assim como Natália, do BBB 22, Bruna Sanches tem vitiligo e explica o que é a doença

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São Paulo

A pele de Bruna Sanches é um céu. Sua mãe foi a primeira a notar essa coincidência, que faz dos contornos da sua boca, mãos e outros pedacinhos do seu corpo muito parecidos com aqueles que a gente enxerga quando olha para cima e o céu está repleto de nuvens fofinhas.

"Dá para brincar de achar desenhos em mim", diz Bruna, que tem 35 anos e trabalha como diretora de arte e fotógrafa. Desde que tinha 18 anos, ela convive com o vitiligo, uma doença que faz a cor da sua pele ficar diferente em alguns lugares.

Se você já viu alguma notícia sobre o programa Big Brother deste ano, talvez tenha notado que, assim como a Bruna, a Natália, uma das participantes de BBB 22, também tem vitiligo —no caso da Natália, as manchinhas aparecem bastante nas suas pernas, braços e pescoço.

Dermatologista e portadora de vitiligo explicam para as crianças o que é o vitiligo e a importância de incluir todas as pessoas
Catarina Pignato

A dermatologista Carla Vidal explica o que é o vitiligo: "É uma doença de causa desconhecida. O vitiligo provoca a perda do pigmento da pele. Uma célula chamada melanócito deixa de produzir a melanina, que é o que dá a cor da pele. É como se ele falasse ‘cansei, não vou produzir mais’", diz a médica.

A doutora Carla diz que, no mundo, mais ou menos 1% da população tem vitiligo —parece pouco dizendo assim, mas isso significa que de 65 a 95 milhões de pessoas tem a pele "de céu" como Bruna Sanches e Natália do BBB.

A doença pode aparecer a qualquer momento da vida, não importa a idade. No caso de Bruna, ela conta que foi dormir e, no dia seguinte, acordou com uma manchinha no canto da boca.

E Bruna tem uma história curiosa com o vitiligo. "Quando eu era criança, tinha muito medo de ter vitiligo. Eu tinha um vizinho que era dono de um bar e ele tinha uma manchinha na mão, e aquilo me causava desconforto", lembra.

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Bruna Sanches conta que chorou muito quando soube que tinha vitiligo, aos 18 anos - Bruna Sanches

"Tinha também um primo do meu pai, o vitiligo dele era em uma parte do rosto. E eu ouvia as pessoas próximas dizendo sobre ele coisas como ‘coitado’ ou ‘ele seria tão bonito se não fosse o vitiligo’. E eu achava que aquilo era muito ruim."

Quando se viu com vitiligo também, Bruna conta que chorou muito. Ainda mais quando sua família a levou a uma médica que, como ela conta, "teve zero empatia".

"Ela me examinou com uma luz azul e me avisou que eu não podia fazer um monte de coisas, tipo me machucar, fazer tatuagem ou usar alguns tipos de roupa. E ainda falou que a culpa do vitiligo era minha porque eu era muito nervosa", fala Bruna.

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Bruna Sanches, que tem vitiligo, posa para ensaio fotográfico - Bruna Sanches

A doença pode, sim, ser influenciada por questões emocionais, como explica a dermatologista Carla Vidal. "Durante a pandemia, por exemplo, surgiram muitas crianças com vitiligo porque ficaram estressadas por conta do confinamento", explica.

"Mas, antes de dizer que a causa de um vitiligo é o estresse, eu preciso fazer muitos exames para ver se há outras doenças associadas, se há alguém na família que também tenha a doença etc", completa a médica.

Depois de achar que nunca mais ninguém iria amá-la por causa do vitiligo, Bruna lembra que começou a se aceitar como é. "Eu entendi que o fato de você ter vitiligo não te deixa nem mais bonito nem mais feio. Ela é só mais uma característica da pessoa", entende.

Assim como tem gente com mais pelo e gente com menos pelo, ou com pintas ou sem pintas, ou de nariz grande e de nariz pequeno, há pessoas com vitiligo e sua "pele de céu".

Bruna diz que gostaria que ninguém sofresse preconceito por causa do vitiligo. Ela mesma diz que já passou por situações chatas, tanto como alguém que tem a doença, quanto como alguém que convive com quem tem.

"No meu colégio tinha um menino que chamavam de ‘vaquinha’, era bullying mesmo. As pessoas com vitiligo lidam bastante com a rejeição, é impossível a gente estar em um lugar e não ser observado. Ir pra praia é um show à parte. E, por isso, muitas pessoas se escondem", comenta Bruna.

Só que ela também explica que, embora o vitiligo seja, sim, uma doença, não é preciso deixar de fazer nada por causa dela. Até tomar sol é permitido, desde que cuidando da pele mais clarinha com bastante protetor solar. "E é protetor normal, não é fator 200, não", brinca Bruna.

O vitiligo, no geral, não dói, não coça, e não é transmissível, ou seja, ninguém "pega" vitiligo de outra pessoa.

​A doutora Carla Vidal diz que é muito importante que, se houver a suspeita do vitiligo, a família procure um bom dermatologista. "Ele vai dizer qual é o melhor tratamento para aquele caso", fala.

Cuidar da cabeça também é importante. Tanto Carla quanto Bruna falam do quanto é fundamental que, no caso de crianças, os familiares mantenham a calma e saibam que, muitas vezes, são eles os que ficam mais nervosos. "Pode ser que os filhos nem liguem tanto para o vitiligo", imagina Bruna.

Ela conta que hoje em dia tem uma relação diferente consigo mesma e com a doença —é uma relação de quem se ama do jeitinho que é. Bruna tem até uma página no Instagram para falar sobre vitiligo, é o @minhasegundapele.

"Quando estou muito triste, meu céu de nuvenzinhas fica nublado. Quando estou feliz e solar, eu nem percebo o olhar maldoso dos outros", resume.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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