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Conheça a história de Dona Norma, criadora dos famosos bloquinhos de montar

Brinquedo que atravessou gerações nasceu nos anos 1950 no Brasil, na fábrica da Xalingo

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São Paulo

Dona Norma foi avó de apenas cinco netos, mas a quantidade de crianças que pode se divertir com as ideias que ela teve é imensa, não dá nem para contar. Isso porque, por mais de 60 anos, brasileiros de várias gerações tiveram ou conheceram alguém que teve um brinquedo que ela inventou: os bloquinhos de madeira com tijolinhos desenhados.

Os bloquinhos do Brincando de Engenheiro, que antes se chamava Construtor - Gabriel Cabral/Folhapress

Quando Norma Laura Baumhardt Minatto (esse era o nome completo dela) criou os blocos, eles se chamavam Construtor. Isso foi em 1956 —pergunte aos seus pais e avós em que ano eles nasceram e se eles conhecem este brinquedo, e veja como ele é realmente antigo.

Ele continua sendo vendido até hoje, com o nome Brincando de Engenheiro, pela fabricante Xalingo. A empresa foi fundada em 1947 e este ano completa 75 anos de existência. Quando começou a funcionar, a Xalingo produzia utensílios de madeira para a casa e estojos escolares em madeira também —agora, eles fazem e vendem centenas de brinquedos.

Dois dos netos de Dona Norma, Paula e Rodrigo Ebert Harsteln, trabalham na Xalingo hoje em dia, e contam que o nome curioso da fábrica de brinquedos vem da junção dos nomes dos fundadores e antigos sócios da empresa, Xavier, Lindolfo e Ingo.

"Era uma prática comum na época. Depois de alguns anos, nosso falecido avô Ingo, o primeiro marido da vó Norma, comprou a parte dos outros dois acionistas", explica Paula.

"Nossa avó sempre teve habilidade com desenhos e artes, pintava quadros também, além do gosto pela arquitetura. Ela projetou e também desenhava outros produtos lançados pela empresa. Sempre foi uma pessoa bem da área criativa, adorava desenhar e criar", conta a neta de Dona Norma.

O Brincando de Engenheiro é um conjunto de bloquinhos de madeira, de diferentes formatos, cores e desenhos. A ideia é que as crianças construam casas, castelos e até mesmo uma cidade. Atualmente, existem oito versões do brinquedo, incluindo bloquinhos do Coliseu, um para construir uma pista de corrida, e outro com 200 peças em uma só caixa.

De quando surgiu até hoje, foram poucas mudanças no brinquedo. "Alteramos o tamanho de algumas peças, além do tipo de madeira usada. O que mudou muito foi a forma de fabricação, antigamente o processo de impressão era manual, por serigrafia, hoje é uma máquina automatizada que o faz", diz Paula.

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Quando surgiu, o Brincando de Engenheiro se chamava Construtor - Arquivo Pessoal

Ela e seu irmão Rodrigo —que são diretor presidente e diretora e chefe da parte digital da Xalingo— acreditam que, quando Dona Norma inventou o Construtor, queria incentivar as brincadeiras e o desenvolvimento das crianças.

"Talvez também quisesse cativar a ambição da criança de construir sua própria vida, sua casa, sua cidade. Ela, mesmo para uma mulher daquela época, nunca parou de trabalhar, e acreditamos que isso era algo que se refletia nas suas criações", completa a neta Paula.

Gabriela Estefam, por exemplo, hoje é uma adulta e trabalha como arquiteta, que é uma profissional responsável por planejar e organizar espaços em que as pessoas vão morar, trabalhar, conviver, se locomover etc.

"Comecei a brincar com os bloquinhos quando eu tinha 3 anos, e me lembro de tê-los por muito tempo. Eu tinha um montão! Dava para espalhar pelo chão e brincar a tarde toda", fala Gabriela, que ganhou o Brincando de Engenheiro de aniversário de uma tia.

"Meu pai sempre brincou muito comigo. A gente construía a cidade de bloquinhos e se divertia muito trazendo carrinhos e bonequinhos pra passearem pelas ruas. Eu construía casas com formas muito malucas. O meu trabalho é parecido com isso. Eu desenho casas, móveis, ainda brinco muito com as cores e formatos", diz.

Paula e Rodrigo, netos da criadora dos bloquinhos, também contam que brincaram muito com eles. "Os bloquinhos sempre estavam presentes na casa da avó. Nos lembramos de ela ter uma mesa comprida, dessas mais baixas, onde passávamos horas brincando com os blocos enquanto ela assistia televisão", fala Rodrigo. "Brincamos com quase todos os produtos da Xalingo, triciclos de todos os tipos, gangorras, patins, jogos como trilha, damas, xadrez, e todos os demais."

Eles lembram que, como toda avó, Dona Norma gostava de mimar os netos, e que sempre havia algo diferente para comer ou brincar na casa dela. "Todo Natal e Páscoa, a gente tinha coisas especiais para fazer. Ela, muito criativa, fazia uma brincadeira de mistério sobre o que íamos ganhar até a data", diz Paula.

Dona Norma nasceu em 21 de julho de 1926, em Santa Cruz do Sul, um município no Rio Grande do Sul. Os avós dela vieram da Alemanha para o Brasil, isso muito tempo atrás. Quando inventou os bloquinhos, já era casada e tinha dois filhos —ela ainda teria mais uma filha um tempo depois.

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Dona Norma (à direita), criadora dos bloquinhos de montar da Xalingo - Arquivo Pessoal

Rodrigo e Paula falam que ela sempre foi presente na Xalingo. "Acreditamos que ela tinha uma vida corrida, de dupla jornada de trabalho, como ainda é bem comum a todas as mães que trabalham. Lembramos ela comentar que fez diversos cursos de ilustração pelos correios", conta Paula.

Dona Norma trabalhou na empresa até início dos anos 2000, quando tinha mais de 70 anos. Só parou de acompanhar a rotina diária por conta da idade. "Mesmo assim, até falecer, em 2013, ela sempre fez questão de acompanhar assuntos mais específicos de administração", diz Rodrigo.

"Muita coisa legal aconteceu nestes anos todos. Foram muitos brinquedos produzidos e criados e com os quais nos divertíamos em nossa infância, quando passávamos as férias na casa da vó. Sempre tinha uma novidade para ‘testar’: um triciclo, um jogo ou outro brinquedo", relembra Paula, que acha que, com seu trabalho de hoje, pode retribuir toda a alegria que teve, e celebrar o amor pela avó.

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