'O Putin não pensa nas crianças como eu', diz menino sobre a guerra

Brasileiros de até 10 anos contam como ajudariam refugiados e falam o que sabem do conflito

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São Paulo

Há pouco mais de três semanas, quando o mundo todo ficou sabendo que a Rússia havia atacado a Ucrânia, muitas crianças brasileiras se preocuparam não só com as consequências da guerra, mas também com o que aconteceria às pessoas que precisaram fugir de seu país.

Mais de 2,5 milhões de ucranianos até o momento deixaram para trás suas casas, pertences, bichinhos de estimação e até mesmo familiares, e só fizeram isso porque entenderam que os riscos de ficar eram maiores que os de abandonar tudo.

Os irmãos Alex Souza Morimoto, 7 anos (esq.) e Igor Souza Morimoto, 8 anos (dir.), contam como gostariam de ajudar as crianças refugiadas da guerra na Ucrânia - Adriano Vizoni/Folhapress

O cientista político e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-EAESP) Guilherme Casarões ensina que estas pessoas são chamadas de "refugiados". "Refugiados são pessoas como a gente, mas que foram obrigadas a fugir de seu país por causa de quem são ou da religião que seguem", explica.

"Infelizmente, existem governos no mundo que perseguem pessoas que pensam diferente ou que tenham características físicas ou culturais que não são bem vistas. O preconceito e a discriminação ficam ainda maiores em tempos de guerra."

Guilherme diz que a maioria dos refugiados ucranianos está indo para os países vizinhos em busca de segurança, de um teto e de trabalho. E, infelizmente, não são só eles que passam por isso ao redor do mundo, mas, sim, muitas outras populações.

"Hoje, tem gente fugindo da Síria, do Afeganistão, do Sudão do Sul, do Mianmar, da Venezuela e de várias outras regiões de conflito do mundo", enumera o professor.

"Ouvi que está tendo muitas explosões, e que tem homens e mulheres que têm que sair do país andando, de barco, de carro, porque se fosse de avião seria muito perigoso. Poderia ter uma explosão no avião das bombas que a Rússia está lançando", fala Alex, 7 anos.

O irmão dele, Igor, 8 anos, lembra que quem comentou com ele pela primeira vez sobre o conflito foi seu professor de violão. "Ele me contou um monte de coisa. Tipo que [fugir] de avião é perigoso porque pode lançar uma dinamite, uma bomba, e danificar o avião", completa.

Eles moram em São Paulo, e dizem que estão muito tristes com tudo que está acontecendo. Os dois conversaram com os pais para entender os motivos da guerra, e ficaram impressionados com um aspecto em especial.

"Tem algumas crianças da Rússia que estão sendo presas porque estão falando pra não ter guerra, aí prenderam elas", diz Alex. "As crianças estavam colocando cartazes, falando um monte de vezes, aí a Rússia prendeu as crianças porque não achavam que parar a guerra era o certo", completa Igor.

Antonio tem 7 anos, nasceu na Espanha, é filho de uma brasileira e, por isso, tem nacionalidade brasileira também. Ele explica o que sabe sobre a guerra: "A Rússia quer ganhar mais terreno e também quer ganhar toda a eletricidade da Ucrânia, porque a Ucrânia contém muita".

Antonio Rojas Campani, 7 anos, que mora na Espanha e gostaria de poder ajudar as crianças refugiadas ucranianas. - Arquivo Pessoal

"Me sinto mal pelos ucranianos, porque o Putin não pensa nos bebês que estão nascendo na Ucrânia, nem nas crianças que são como eu, de 7, 8 anos. Pobrezinhos os ucranianos, com Covid e guerra", lamenta Antonio.

Também moradora de São Paulo, Alice, 10 anos, conta que seu pai gosta de bastante política e, por isso, ligou para ele "na hora", quando soube que a guerra começara. "Fiquei muito chocada principalmente porque, tipo, eu nunca vi uma guerra antes, e agora eu tô presenciando isso. Sinto muita tristeza por todo mundo que mora na Ucrânia e é ucraniano e está tendo que fugir", resume.

Alice Oliveira, 10 anos, tem pais interessados em política - Adriano Vizoni/Folhapress

Existe uma crise de refugiados no mundo, segundo o professor Guilherme explica, porque são várias guerras, conflitos e perseguições acontecendo ao mesmo tempo.

"Como é difícil fugir de um país em crise, muitas vezes só levando a roupa do corpo e alguns documentos, a maioria dos refugiados se abriga nos países vizinhos, às vezes em grandes acampamentos provisórios", conta. "Mas muita gente também vai para os países da Europa, em busca de oportunidades e dignidade."

Acontecem também "situações extremas", como ele define, em que famílias acabam separadas ao fugir do país. Nestes casos, diz Guilherme, muitas crianças vão para campos de refugiados e recebem alguma ajuda de voluntários, médicos e professores.

"Em certos casos, a reunião das famílias é difícil. Existem casos em que pais e filhos só irão se reencontrar meses mais tarde, às vezes em outro país", fala.

"O presidente da Rússia tá tendo que falar que os homens de mais de 18 anos tem que lutar e deixar a mãe com os filhos. É triste separar a família, eu queria que não existisse essa guerra", sente Alex.

Os irmãos Alex e Igor com os brinquedos que doariam às crianças refugiadas ucranianas - Adriano Vizoni/Folhapress

"É muito difícil passar por uma guerra, porque seu país é destruído, você depois não tem mais nada, fica sem dinheiro. Um dia, você tá aproveitando seu país com belas paisagens, e, no outro dia, elas estão todas destruídas por mísseis", emenda Alice.

Todas as crianças ouvidas pela Folhinha gostariam de poder ajudar os refugiados ucranianos de alguma maneira. "Eu daria comida, água e também mandaria aviões que recolheriam eles para mandar para a Espanha e para qualquer outro país", imagina Antonio.

"Ofereceria refúgio. Porque senão eles viveriam na rua. Imagina que tem uma bomba nuclear e eles estão na rua, não teria nenhum sentido. Eles morreriam. Isso me deixa muito triste. Morreriam e os pais deles estariam chorando."

"Eu tentaria uma boa educação pra que elas conseguissem continuar aprendendo na escola mesmo com tanta destruição, que houvesse uma maneira de elas continuarem estudando, mesmo na guerra", sonha Alice.

Alice Oliveira, 10 anos - Ariano Vizoni/Folhapress

Alex diz que poderia dar alguns brinquedos, algumas comidas e abrigo. Igor gostaria de "fazer doações". "E eu ofereceria um abraço bem forte que deixasse elas felizes", fala.

"Porque por mim eu acho que faltaria bastante coisa para eles terem de volta, tipo o pai, a mãe, as escolas. Eu falaria coisas legais, tipo ‘melhoras’, ‘bom retorno’, né?".

O professor Guilherme confirma que toda ajuda é bem-vinda e diz que ajudar os refugiados lá longe é difícil, mas não impossível. "Existem campanhas de doação de alimentos, roupas e dinheiro para refugiados de vários países. Conversem com seus pais e vejam como doar", sugere.

"Quem tem redes sociais pode colaborar com campanhas virtuais, hashtags e compartilhamento de informações. Além dos refugiados, é importante lembrar que também há crianças passando necessidade no nosso bairro, na nossa cidade e no nosso país."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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